segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tous pourris?

Não deveríamos formar opinião sobre as pessoas através de informação obtida por meios ilícitos (vulgo «buraco da fechadura»). Mas, quando estão em causa manobras político-económicas para controlar meios de comunicação social e afastar jornalistas (relativamente inofensivos, na minha opinião), parece-me que temos o direito de saber. Ou seja: não me interessa que Sócrates use calão ao telefone, quer seja sobre adversários políticos ou não (se todos soubéssemos o que terceiros dizem de nós,  ficaríamos todos loucos); o que me interessa é que parece claro que Armando Vara e a sua equipa, actuando com o presumível beneplácito de Sócrates, ou pelo menos no interesse deste, elaborou um complexo esquema de tomada de poder num grupo mediático, e com claros objectivos políticos.

Comentei abundantemente neste blogue a «inventona da Avenida de Roma», de que tomámos conhecimento através da violação de correspondência privada. Da mesma forma que defendi  então que Cavaco poderia renunciar ao mandato, não tenho agora grandes dúvidas em afirmar que Sócrates faria melhor em passar a pasta a outro.

Há duas diferenças.

Primeira: Fernando Lima trabalhava directamente sob as ordens de Cavaco, enquanto Armando Vara, teoricamente, é um «trabalhador independente». Porém, o que fica deste acumular de casos é cada vez mais a suspeita de que os homens fortes do regime estão rodeados por umas equipas «informais» de gnomos de gabardine que plantam manchetes nos jornais, planeiam tomadas de poder em empresas, elaboram dossiês sobre adversários, e, possivelmente, fazem umas escutazitas, umas trocazitas de dossiês e de acções e umas chantagenzitas para chegarem de A até B. O que é inquietante.

Segunda diferença: enquanto o esquema cavaquista para manipular o Público foi quase artesanal na sua elaboração e execução, o esquema socrático para controlar a TVI, a confirmar-se, é uma jogada que envolve várias empresas com maior ou menor participação do Estado, possíveis cumplicidades no país vizinho, e o inefável Zeinal Bava.

A minha vontade é que se vão todos. E o parágrafo mais marcante, no meio de toda a lama, é este:
  • «Ainda na mesma conversa, Rui Pedro Soares equaciona mais uma ideia: «As rádios (da Media Capital) vão ser compradas pela Ongoing e pelo genro de Cavaco» (o empresário Luís Montez).

    Penedos comenta que «isso é bom» e pergunta--lhe se é «o autor desta patifaria». Rui Pedro acrescenta, referindo-se a Cavaco, que «é o preço da paz e que esse cala-se logo, fica a cuidar dos netos».»
«O preço da paz».

2 comentários :

MFerrer disse...

Os que ainda acreditam que existe ou pode existir "imprensa livre" são ou ingénuos ou pérfidos.
A maioria dos que andam a apregoar nojo e repugnância pela luta do poder na chamada comunicação social - a que eu chamaria com propriedade, anti-social - podem ler o que escrevo a explicar os Direitos, as Liberdades e as garantias ás criancinhas.
Pode ser que aprendam alguma coisa. Imodéstia à parte, claro!

João Vasco disse...

O ideal seria que o Socrates desse lugar a outro, sim, mas não já. Por causa das agências de rating e tal, preferia que esperasse uns tempinhos.

De qualquer forma, espero que nunca mais se volte a candidatar a qualquer cargo político de relevo. Há que ter pudor.