quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Afinal, o véu integral é mesmo uma liberdade... mas do homem

Eu sei que tinha prometido não escrever mais sobre véus, mas como a realidade insiste em dar-me razão, não resisto. Do Público de hoje:
  • «“Eric Besson confirmou ter assinado e transmitido ao primeiro-ministro um projecto de decreto onde se recusa a aquisição da nacionalidade francesa a um cidadão estrangeiro casado com uma francesa”, explica-se num comunicado do Ministério. “Durante o inquérito regulamentar e na entrevista prévia, ficou claro que esta pessoa impunha à sua esposa o uso do véu integral, privando-a da liberdade de sair de rosto descoberto e rejeitando os princípios da laicidade e da igualdade entre homem e mulher”, assegura ainda Besson.»
E pronto. Confirma-se que existe um programa formatado, islamista, para a opressão, perdão, libertação da mulher. Gostaria que a Maria João Pires ou o Daniel Oliveira me explicassem como será «limitada» a  «auto-determinação de adulta» desta mulher quando o marido for proibido de a emburcar, desculpem, quando ela for proibida de livremente ser emburcada pelo marido. Se não for muito incómodo.

    8 comentários :

    António Parente disse...

    Dado que o Ricardo Alves disse que não escrevia e escreveu, eu disse que não comentava e vou comentar (Filipe Moura: antes de comentar, limpei o pó e fiz 10 flexões no chão e este é o meu primeiro comentário hoje).

    A sua generalização não faz sentido. Há homens que matam as mulheres com facas de cozinha e o Ricardo Alves não propõe que se proibam as facas de cozinha.

    O caso que reporta é um caso de violência doméstica e como tal deve ser tratado. Ao proibir a burca o Ricardo limita a liberdade de quem a queira usar.

    MFerrer disse...

    Os cegos vêm mais do que aqueles que se recusam a abrir os olhos...
    Há muito que penso pela minha limitada cabeça e há princípios sobre a liberdade individual que, uma vez estabelecidos pela Revolução Francesa e pelos seus filósofos, deixaram de ser para mim questões a voltar a por em causa.
    É como a Lei da atracção universal e Sir Isac Newton.
    A questão deriva agora de um certo nevoeiro ideológico e de muita confusão sobre os princípios, as irrecusáveis verdades - pelos vistos esquecidas - da exploração do homem pelo homem.
    Esta pretensa-esquerda-novíssima-e-bem-pensante acho que não percebeu ainda o conteúdo da palavra Homem. Salvo erro a proposição quer mesmo dizer TODA a gente!
    Daí que andei a remoer e a assistir á discussão; mas o nível da confusão e da embrulhada dos princípios é de tal ordem que resolvi deixar o meu comentário que copio aqui:
    "Esta fantástica discussão a que finalmente me junto por não resistir mais, é um excelente exemplo de como uma dita esquerda, pretensamente populista e radical, coloca os seus argumentos. O mesmo se aplica ao feminismo descabelado e que por aí polula.
    Dou um exemplo para facilitar:
    Talvez não se lembrem que, ao tempo, havia quem desejasse mandar fazer referendos para saber se os povos coloniais gostariam de ser independentes, se os escravos não estavam satisfeitos, ou se as mulheres podiam votar.
    Ouvi várias dessas discussões e não foi há muito tempo. Havia até quem perguntasse se antes de alfabetizar as pessoas não seria melhor fazer um referendo...a saber se... queriam saber ler e escrever!
    Peço muita desculpa a estes autores tão qualificados e amplamente reconhecidos como leader opinion makers, mas tenho que discordar total, frontal e completamente de todos os que acham essas medidadas de controlo ideológico-religioso como aceitáveis à luz do que quer que seja.
    Trata-se, isso sim, de reduzir a mulher ao papel de agente do pecado. Logo, deve ser tapada.
    Igualmente deve a mulher ser analfabeta, de preferência, e se for à escola é por interesse, e com a autorização do marido.
    Reparem: Autorização para ir à escola!
    Aqui mesmo em Portugal, é engraçado!, não os vejo a alimentar ou a promover a discussão sobre a segregação das meninas ciganas, transformadas em papel moeda, e impedidas de ir á escola, tão logo se tornem menstruadas...
    Porque será que não iniciam um debate sobre a situação da mulher dentro da chamada "cultura cigana"?
    A questão é a mesma. A diferença está no peso da grilheta, na bainha do vestido ou na cor do pano.
    Leio por aí que os maridos querem as mulheres só para eles...
    Ele há cada um!
    E já agora, isso pode ser imposto pela sociedade e pelo púlpito?
    Talvez com a imensa liberdade da ameaça da lapidação?
    No mínimo, pela expulsão de casa, da cidade e do impedimento de acesso a herança qq que seja?
    Aliás, porque será que é nesses "paraísos da liberdade feminina" que por acaso as mulheres não herdam?
    Dependem do homem para tudo?
    Estão impedidas de terem uma profissão?
    Sobre os filhos, apenas têm deveres, nenhum direito!
    O que é que estes bem-pensantes acham de, haver já, escolas públicas em Portugal onde, por imposição religiosa dos pais, há turmas apenas de meninas e ensinadas apenas por professoras também mulheres?
    Se calhar sou eu que vejo fantasmas, e que considero todas as manifestações de marginalização e de (ab)uso da mulher, o que é : Um atraso, e apenas a face mais (in)visível duma terrível exploração económica, familiar e social.
    O resto, desculpem, é treta para enganar os incáutos.
    As mulheres, seres humanos com sonhos e com direitos, nascem livres e com todos os direitos seja qual for a religião ou o desenvolvimento das forças produtivas e das correspondentes representações religiosas em vigor."
    Sei que não vou fazer muitas amizades.
    É a vida!
    Mas, como dizia Miguel Torga: "Para ir para o Céu nestas companhias, mais vale a gente perder-se

    Ricardo Alves disse...

    António Parente,
    prefere que o Estado limite a liberdade das mulheres que usam a burca contra a vontade do marido, ou que os maridos limitem a liberdade dos maridos que as querem obrigar a usar burca?

    O dilema é este.

    E continue a comentar, pelo menos por mim... ;)

    António Parente disse...

    Ricardo Alves

    Prefiro que sejam estebelecidas regras de etiqueta social que não se dirijam a grupos específicos mas sim a toda a sociedade. Por exemplo, era considerado má educação entrar num edifício e não tirar o chapéu, independentemente das convicções republicanas e religiosas de cada um.

    Se pensa que proibindo a burca liberta as mulheres, engana-se. Provavelmente, não usam burca mas os maridos não as deixam sair de casa. O que fazer nesta situação? Publica uma lei onde obriga as mulheres a sairem de casa 3 vezes ao dia e a darem uma volta ao quarteirão?

    p.s. - quando sou hostilizado por outros comentadores não fico incomodado. agora quando é um dos donos dum blogue aí a coisa pia mais fino: mandam as regras da boa educação que entenda os recados e não invada o espaço de outro. apesar da minha falta de agilidade física (não dobraremos a próxima década sem eu e o Filipe Moura correremos os dois uma maratona para ver quem chega ao fim) e mental (um dia eu e o Filipe Moura jogaremos xadrez ou soduku num duelo que ficará memorável na blogosfera) percebo sempre quando não sou bem-vindo. como há mais vida para além dos blogues e aos 50 anos já aprendemos que só vale a pena chatearmo-nos por coisas que sejam verdadeiramente importantes, não é coisa que me abale. até sempre, Ricardo. :-)

    Ricardo Alves disse...

    António Parente,
    há situações em que a etiqueta não chega. E se houver lei, não será especificamente contra a burca - será contra cobrir integralmente o rosto, o que incluirá outras coisas.

    Filipe Moura disse...

    Caro António Parente, desculpe não lhe ter respondido mas não ando com muito tempo. (Trabalho, blogo e ainda cozinho e limpo a casa - esta última nas horas vagas). Você elogiou na altura o meu sentido de humor, mas creio que quem merecia esse elogio era você na sua resposta. Parabéns. Agora aos 50 anos, se já aprendeu que só vale a pena chatearmo-nos com coisas sérias (lição sábia), também já deveria ter aprendido a não fazer birras. Acho que já não tem idade para isso. Tenha juízo... comente e, já agora, aspire e limpe a cozinha e a casa de banho. Abraço.

    António Parente disse...

    Ricardo Alves

    Cuidado com as propostas legislativas ou daqui a pouco quer proibir os óculos escuros, as máscaras para pesca submarina, etc. Será o fim do movimento secular republicano em Portugal.

    António Parente disse...

    Caro Filipe Moura

    Sou um comentador veterano. Mesmo sem esse factor essencial para o comentário bloguístico que é a limpeza da casa, tenho uma carreira da qual me posso orgulhar. Como comentador tenho um vasto leque de recursos que sustentam a minha argumentação. A birra é um deles. Um comentador sem uma birra é um amador. Eu sou um profissional do comentário em blogues. As birras estão para mim como o esfregão da cozinha estão para si. Servem para limpar o ambiente, criam aquele ar puro e límpido que têm os tachos e as panelas depois de uma boa esfregadela. Sem o esfregão o Filipe tem uma cozinha incompleta. Sem a birra eu não sou o António Parente que comenta em blogues. Sou outro qualquer mas não sou o António Parente. Pedir para eu abandonar as birras é uma impossibilidade. É como o Ricardo Alves tornar-se monárquico e acólito numa paróquia da cidade de Lisboa. Espero que tome consciência disso.

    Um abraço e boa limpeza.