domingo, 19 de setembro de 2010

A República e a guerra de 1914-18

A verdade é que se não entrássemos teríamos ficado sem as colónias.
  • «Hoje, sabe-se que em Agosto de 1913 foi concluído um acordo de partilha das colónias portuguesas. A Alemanha teria ficado com Angola e o território de Moçambique seria dividido. A França poderia ter recebido São Tomé. A República portuguesa não teria hipótese de travar o acontecimento, mas o acordo não foi concretizado porque Londres queria torná-lo público e Berlim quis mantê-lo secreto. Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, houve nova tentativa de partilhar as colónias portuguesas, o que talvez tivesse adiado ou até evitado o conflito europeu.» (Diário de Notícias)

11 comentários :

Anónimo disse...

houve nova tentativa de partilhar as colónias portuguesas...se nem na partilha de Marrocos se entenderam, um governo que defendia o regresso dos cidadãos franceses de língua alemã da alsácia de volta
e que quase entrou em guerra com o impéri britânico pelo controle do sudão
havia uma dívida gigantesca e os nossos pedacinhos de áfrica eram para saldar essa dívida
era uma perspectiva comercial
não política


o que talvez tivesse adiado ou até evitado o conflito europeu...tendo em conta a marinha alemã
a sua indústria poderosa
e a balança comercial excedentária do império alemão
é ridículo...

Luís Lavoura disse...

Hmmm, quer dizer: a Guerra Colonial foi má, mas entrar na Grande Guerra para preservar as colónias foi bom. Que castiço.

Condenar pobres beirões e transmontanos à morte para defender as colónias nas quais nunca puseram os pés e das quais nunca tirarão benefício é mau se fôr em luta contra os pretos, mas é bom se fôr em luta contra os brancos. Que giro.

Eu diria que a guerra é sempre a guerra, e é sempre uma merda. E eu diria que quem manda os outros para a guerra merece sempre a mesma condenação.

Ricardo Alves disse...

Luís Lavoura,
em 1914 não havia, praticamente, europeus anti-colonialistas. Aliás, se estudar o assunto verificará que até 1945 a independência das colónias europeias é uma questão que não é colocada.

Mais: a diferença mais importante entre a guerra de 1914-18 e a guerra colonial é que, nesta última, os principais interessados estavam a combater pelo fim do colonialismo. O que não aconteceu em 1914.

Luís Lavoura disse...

Ricardo Alves,

a mim não me interessa discutir se os adversários dos portugueses (os alemães, os pretos) eram anti-colonialistas ou não. A mim interessa-me discutir o comportamento dos dirigentes políticos portugueses. E o que eu vejo é que os comportamentos de Afonso Costa e de Salazar foram idênticos: ambos eles mandaram beirões e transmontanos morrer para preservar colónias que não eram da sua (dos beirões, dos transmontanos) conta. Do ponto de vista moral, Afonso Costa e Salazar foram idênticos.

Não se pedia a Afonso Costa que fosse anti-colonialista, pedia-se-lhe simplesmente que tivesse a decência moral de não ir fazer os outros matar e morrer pelas colónias.

Luís Lavoura disse...

Aliás, o Ricardo Alves sabe perfeitamente que a decisão de integrar Portugal na Grande Guerra foi extremamente polémica mesmo entre os republicanos, e em geral foi extremamente impopular. Diversos líderes republicanos foram contra a entrada na Guerra.

Sabe também que o facto de Salazar ter mantido Portugal afastado da Segunda Guerra, mediante uma diplomacia hábil em que procurou não hostilizar nenhuma das partes e inclinar-se sempre para o lado vencedor, é unanimemmente creditado como um grande feito positivo do ditador. Feito em que ele se distinguiu positivamente de Afonso Costa e da sua camarilha.

Pelo facto de o Ricardo Alves defender a Prmeira República, não deve defender tudo o que nela se fez.

Ricardo Alves disse...

Luís Lavoura,
eu não defendo tudo o que se fez no período de 1910-26. Não defendo Sidónio. Ou Pimenta de Castro. Ou muitas opções de António Maria da Silva. Ou alguns erros do Partido Republicano. O que eu não faço é falar do que se passou na altura como se se passasse hoje. Não é possível. Tem que se conhecer os intervenientes e o contexto para perceber quais eram as opções alternativa.

O Luís Lavoura tem todo o direito de ser pacifista por princípio, contra todas as guerras sem excepção, incluindo as feitas em auto-defesa. Mas a verdade é que em 1914-15 os alemães atacaram as colónias portuguesas. Se não reagíssemos, ou se nos limitássemos a manter tropas em África, não teríamos tido espaço para manter o nosso status quo depois da paz. As opções eram essas: ou guerra para manter o que havia, ou paz para perder.

E não meta o Salazar nisto: em 1961 Portugal era o último país europeu a ter colónias em África. Em 1914, pelo contrário, só havia dois Estados independentes em todo o continente: a Libéria e a Etiópia. Tudo o resto eram colónias ou possessões, mandatos, etc. Se não entende esta diferença...

Luís Lavoura disse...

"em 1914-15 os alemães atacaram as colónias portuguesas"

Pois, e os portugueses defenderam-nas. Tudo isto sem que guerra fosse declarada de parte a parte, e sem que Portugal tivesse que mandar tropas para a Flandres.

Uma coisa é Portugal defender as suas colónias contra uma invasão alemã, outra coisa é mandar os seus soldados morrer para os campos da Flandres, numa guerra que nada tinha a ver com eles, numa guerra que não era de autodefesa.

"ou guerra para manter o que havia, ou paz para perder"

Isso é uma especulação do Ricardo, que parece aceitar como bom esse julgamento dos líderes da altura.

Ricardo Alves disse...

...E se não tivéssemos ido para a Flandres valeria de muito pouco o que estávamos a fazer em África.

good churrasco ó auto de café.... disse...

de Salazar ter mantido Portugal afastado da Segunda Guerra?
deixaram-nos afastados como deixaram a suiça
mediante uma diplomacia hábil? que procurou não hostilizar
favoreceu abertamente um
e exportou alimentos numa altura em que as importações eram escassas

unanimemmente creditado como um grande feito positivo do ditador?

é? o pessoal que morreu tuberculoso
é capaz de discordar

João Moutinho disse...

Mas o "ultimatum" britânico que os Republicanos tanto criticaram o Rei D. Carlos. Se o homem tivesse tido o comprtamento que muitos hoje apregoam - afronta aos britânicos - lá se tinha ido as nossas colónias em Àfrica - e no resto do Mundo.
O Salazar, tinha deixado o poder após a II Guerra Mundial e seria uma espécie de S. Sebastião.

João Moutinho disse...

ou D. Sebastião.