Adenda (16/9): um estudo de José Gabriel Pereira Bastos colige dados sobre mais três «turmas especiais» (Bragança em 2005, Viseu em 1996, Figueira da Foz em 2000). Quantas serão?
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
A escola e os guetos
As notícias sobre «turmas especiais» para ciganos são cíclicas. Agora fecharam uma. Espera-se que de vez: o papel da escola pública é integrar os futuros cidadãos, e não segregá-los por «etnia».
Adenda (16/9): um estudo de José Gabriel Pereira Bastos colige dados sobre mais três «turmas especiais» (Bragança em 2005, Viseu em 1996, Figueira da Foz em 2000). Quantas serão?
Adenda (16/9): um estudo de José Gabriel Pereira Bastos colige dados sobre mais três «turmas especiais» (Bragança em 2005, Viseu em 1996, Figueira da Foz em 2000). Quantas serão?
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18 comentários :
Eu diria que o papel principal da escola é sempre ensinar. A escola pública pode de facto ter um outro papel, o de integrar, mas esse papel é secundário e, se necessário, deve ser sacrificado ao papel principal, que é ensinar.
Uma turma especial não é necessariamente má, desde que se comprove que os alunos assim aprendem melhor. Embora seja prejudicial em termos de integração, pode ser benéfica em termos de ensino, que é o principal.
Há também que questionar se os ciganos se querem integrar. Se não querem, para que haveremos de os estar a forçar a isso? Será necessariamente mau que os ciganos vivam, lado a lado connosco mas não integrados?
Tem alguma graça ver uma pessoa de esquerda a defender uma escola que integre, mas a não criticar o atual sistema de escola pública que, ao não permitir a livre escolha de escola por parte dos alunos, não permite que os alunos provindos de diferentes bairros se integrem...
«Será necessariamente mau que os ciganos vivam, lado a lado connosco mas não integrados?»
Luís Lavoura,
depende do que for a «integração».
Será necessariamente mau se não se integrarem significar que continuam a ser uma bolsa de pobreza, de falta de oportunidades para os jovens, de casamentos precoces para as jovens e de final prematuro dos estudos.
Não será necessariamente mau o manterem a língua, alguns costumes e, até certo ponto, o modo de vida nómada.
A endogamia, sendo uma das raízes do problema, resulta de escolhas pessoais. Mas é um mau sintoma.
E sendo o papel principal da escola ensinar, não deixa de ser verdade que os conhecimentos servem de pouco se na escola os ciganos não aprenderem a se relacionar com os não ciganos.
Quanto à cassete «liberalista» da «livre escolha», não sei se já pensaram o que isso significaria na prática. Implicaria que algumas escolas teriam candidatos a mais, e outras a menos. E continuaria a ser necessário rejeitar alguns candidatos e aceitar outros. Que é o que já acontece, embora a exigência de uma ligação relevante ao bairro/localidade da escola introduza alguma racionalidade no sistema. Que seria destruída com a «livre escolha» liberalista.
Aliás, a «livre escolha» já existe, na medida em que:
1) pode escolher-se uma escola no local de trabalho ou no local de residência;
2) pode-se seriar as escolhas no local escolhido, colocando até cinco escolas/escolhas.
Ricardo Alves, claro que, com a livre escolha da escola, haverá escolas que terão mais candidatos do que vagas. A solução para esses casos será efetuar um sorteio (sob a égide do Ministério) que determine quais os candidatos "a mais" (isto é, daqueles que vêem de fora da área geográfica da escola) que poderão entrar na escola.
Ricardo Alves,
basicamente tudo o que você refere como devendo ser a "integração" é, de facto, a educação. O não-abandono escolar é educação, a criação de oportunidades económicas é educação, a eliminação da bolsa de pobreza é educação, e até o fim dos casamentos precoces está intimamente ligado à educação.
Os cigamos sempre se souberam relacionar com não-ciganos, falam português, seguem a religião maioritária, comerciam connosco, etc. Não precisam de integração nenhuma, nesse sentido.
Eu não tenho problema nenhum em que haja turmas escolares só com ciganos, se se considerar que em tais turmas os alunos se sentem mais à-vontade e aprendem mais e melhor. Não tenho a certeza de que tal seja o caso, mas isso já é outro problema.
Ricardo,
Como tudo na vida, há escolhas preferenciais. E se há diferença entre os riscos e os pobres é exactamente essa, a capacidade de escolha. Por isso, um discurso em linha com um princípio de mitigação de desigualdades seria fornecer a todos as mesmas escolhas. Por isso se a força motriz da esquerda fosse essa, estariam a defender exactamente a ifgualdade de acesso à escola, seja ela privada ou pública. E claro que as preferências se fariam e, sim, passariam a haver escolhas. Neste sentido, o Lavoura está coberto de razão, a última coisa que a esquerda deveria defender seria a escola pública.
«Tonibler»,
não tente baralhar o jogo que comigo isso não funciona.
Sabe muito bem que as escolas privadas nunca aceitarão permitir a entrada a todo e qualquer aluno, especialmente se vier de um bairro de lata ou, pior, se for cigano. A treta do «cheque-educação» não tem por objectivo criar «igualdade de oportunidades», mas sim usar dinheiro público para financiar o que é privado. E não me peçam dinheiro para financiar escolas confessionais, segregadas pelo sexo, que ensinam o criacionismo ou que barram a entrada com base em critérios sociais ou étnicos. Já é mau suficiente haver sectores da sociedade portuguesa que querem os filhos numa escola assim, não peçam, ainda por cima, mais dinheiro ao Estado para isso.
A igualdade de oportunidades não é a igualdade de acesso à escola privada e à escola pública (que nunca existirá, ver o parágrafo anterior). É todos terem direito a uma escola pública de qualidade, tendencialmente gratuita.
Luís Lavoura,
não é numa turma segregada que as crianças ciganas vão entender que são cidadãos portugueses de pleno direito.
Ricardo,
Todos os interesses na educação são privados. Todos. Começando pelos interesses dos professores, que não o querem ser por menos dinheiro como o interesse público o exigiria e a qualidade do ensino português o justificaria. Portanto, hoje o dinheiro público já financia interesses privados. Com uma diferença face à do cheque - o objectivo público de ter a melhor educação possível não é atingido. Este é o erro em que a esquerda cai sempre, e com o qual condena os miseráveis a uma miséria ainda maior, é que o objectivo público é a educação, não é a escola. Por isso, nós em Portugal, vamos gastando cada vez mais dinheiro, vamos tendo a educação mais cara do mundo civilizado e, no fim, é a pior. Porque gastamos dinheiro, não para ter alunos educados, mas para ter professores a fazer sabe-se lá o quê.
Essa treta funciona com sucesso nalguns estados dos USA que a aplicaram. É verdade que as "melhores" escolas não aceitaram os mais pobres mas não é verdade que tivessem sido condenados à miséria educativa em que viviam e que os nossos filhos vivem. (os nossos em concreto não porque nasceram bem. Esses o nosso sistema socialista protege...)
Anónimo «Tonibler»,
1. Não entendo o porquê da sua afirmação de que pagar menos aos professores é «de interesse público». Ganhando menos os professores trabalhariam melhor? Não fugiriam para outros empregos?
2. Não entendo como ter o famigerado «cheque-educação» permite atingir o «objectivo público de ter a melhor educação possível».
3. Não sei a que «sucesso» dos cheques-educação nos EUA se refere. Onde existe, subsidia alunos que já estavam, anteriormente, no ensino privado. E resulta numa diminuição da qualidade da escola pública. Não espanta que, onde foi a votos (Califórnia e Utah), o «cheque-educação» tenha perdido referendos, por margens enormes (70%-30% na Califórnia).
4. Sobre a Suécia.
«Per Thulberg, director general of the Swedish National Agency for Education, said the schools had "not led to better results" in Sweden.
Michael Gove, the shadow education secretary, believes that by establishing up to 2,000 of these schools, parents would have more choice and existing schools would be forced to improve.
But Thulberg told BBC's Newsnight programme that where these schools had improved their results, it was because the pupils they took had "better backgrounds" than those who attended the institutions the free schools had replaced.
He said: "This competition between schools that was one of the reasons for introducing the new schools has not led to better results. The lesson is that it's not easy to find a way to continue school improvement. The students in the new schools have, in general, better standards, but it has to do with their parents and backgrounds. They come from well-educated families."»
http://www.guardian.co.uk/education/2010/feb/09/swedish-style-schools-wont-raise-standards
5. Ainda não me explicou como é que financiar «escolas confessionais, segregadas pelo sexo, que ensinam o criacionismo ou que barram a entrada com base em critérios sociais ou étnicos» permite tirar mais pessoas da miséria.
6. Não sei quais são as suas razões para caracterizar o nosso sistema como «socialista», com a possível excepção do preâmbulo da Constituição.
Identificado Ricardo (suponho que a valdiade dos argumentos esteja dependente da identificação... ),
1. Ter dívida ou défice é contrário ao interesse público. Ainda que os professores produzissem ao nível de recursos públicos que alocam se receberem menos é de acordo com o interesse público. Como não produzem, como o facto de termos a pior e mais cara educação da europa mostra, o interesse público só seria satisfeito pela redução do seu salário para os níveis da educação que produzem. Esta é básica, Ricardo.
2.Não permite. Apenas permite que os pais escolham a melhor educação possível dentro das limitações da sua percepção. Ainda assim, essa percepção é, em média, muito melhor que a percepção de um orgão central. Por este mesmo mecanismo, as democracias são mais eficientes que as ditaduras.
3. Existem já há muitos anos em vários estados do Norte. Posso procurar para especificar, se fizer grande questão.
4. Quais eram os resultados da Suécia antes da experiência? Esse raciocínio linear de que as experiências são traduzíveis independentemente da posição que cada país na curva de desenvolvimento não é correcto. Eu peguei no cheque nos USA porque ele foi usado para retirar os putos dos ghetos negros para escolas diferentes. Se for buscar uma experiência num estágio semelhante ao nosso, tipo Brasil ou Sudão...
5. Curiosamente, esse foi o argumento com que os sindicatos de professores americanos atacaram o cheque e que os tribunais julgaram como inválido. Claro que o argumento é falacioso porque isso só acontece se os pais quiserem que aconteça e, se hoje não acontece, é porque não têm dinheiro para isso. Mas está a sugerir que essas escolas produzem melhor educação e os pais vão escolhe-las?
6.O nosso sistema educativo é socialista. Só serve quem o devia servir.
(A validade dos argumentos não depende da identificação, mas a coragem e o carácter dos interveniente também se afere assim.)
1. É falsa a sua afirmação de que a educação em Portugal seja a mais cara da Europa. A OCDE desmente-o. Veja a página 452. E não sei em que baseia a sua afirmação de que a nossa educação é «a pior» da Europa. Gostaria que fundamentasse com dados.
2. Anteriormente, o «Tonibler» tinha dito que permitia. Já expliquei ao Luís Lavoura que há liberdade de escolher a escola em Portugal. (E portanto não percebo porque insiste nesse ponto.)
3. O «Tonibler» não contesta que o «cheque-educação» diminui a qualidade da escola pública e que é impopular. E não explica nem documenta o «sucesso» a que aludiu anteriormente.
4. Claro que cada país é um caso. Mas quem levou a discussão para aí foi o «Tonibler».
5. É um argumento que o «Tonibler» continua a recusar-se a discutir, como se vê. Estou a sugerir que o «cheque-educação» serve essencialmente para que as crianças que já estão nas escolas privadas confessionais continuem lá, mas recebendo dinheiro do Estado. Foi o que aconteceu nos EUA.
6. Parece que é um dogma de fé repetir que «o nosso sistema educativo é socialista». Tem alguns argumentos que sustentem essa afirmação?
Ricardo, (não tenho liberdade de usar o meu nome sem prejudicar os outros que a mim estão ligados. Sim, esse é o país em que vivemos...),
1. PISA. O seu link deve estar errado porque fui dar a página 452 são rácios de salários.
2. Não há, não me venha com essa história porque passei por ela há 3 meses.
3. Ricardo, se quiser saber pode ir procurar, se quiser que corrobore a sua opinião, eu concordo consigo, não se dê ao trabalho. Eu estou a dizer aquilo que sei Quer acreditar, acredita, não quer, não acredite. Mas não vou à procura de uma porcaria que estive a estudar há anos...Sorry.
4. Não fui, não. Califórnia??
5. Aquilo que aconteceu nos estados unidos foi que as únicas escolas privadas que estavam disponíveis, em fase de transição, para receber os alunos mais pobres foram as escolas que não baseiam a sua diferenciação no escalão social, nomeadamente, as escolas religiosas - USA, naquela situação em concreto. A partir daqui, pelos seus argumentos, justifica-se condenar todos os putos que não têm dinheiro em Portugal a levaram com um semi-analfabeto qualquer que lhe calhou em sorte no concurso nacional?
6. Tem razão. Tudo o que possa ir buscar que justifique a minha afirmação vão dar algo como a utilização da propriedade comum para o bem-estar geral, algo que claramente não acontece com o sistema português, atendendo ao reduzido número de pançudos que saiem beneficiados pelo sistema público e que dele retiram a sua renda.
mas a coragem e o carácter dos interveniente também se afere assim.)
1. É falsa a sua afirmação de que a educação em Portugal seja a mais cara da Europa.
tendo em conta o ordenado dum professor...10.000libras ano/no ulster
em portugal indíce 125 a 12meses
13.000 euros é similar
gastos em materiais
fotocópias incluidas e fotocopiadoras e pessoal para reparar as fotocopiadoras impressoras e computadores
é um negócio que existe ao redor da
escola que a encarece
A OCDE desmente-o. comparar com países com outro nível de vida
o ensino massificou-se e deteriorou-se
já não era grande coisa anteriormente
dezenas de milhares de livros de ponto por ano
é um reino de papelada
Veja a página 45.200 do relatório de cada escola e de cada turma
E não sei em que baseia a sua afirmação de que a nossa educação é «a pior» da Europa...não é
é igual a muitas
Já expliquei ao Luís Lavoura que há liberdade de escolher a escola em Portugal....nem por isso
mas enfim
e numa turma mista de ciganos e cabo-verdianos e angolanos
há rixas um espeta a caneta no pescoço do outro
a mãe chama a família e a polícia para levarem o preto
os amigos do dito cujo levam a que o tendeiro dê 885 faltas e emigre para o algarve
o pai feirante apanha dois balázios a limpar a arma...coisas
mas a história acaba bem
fica tudo vivo
não digo que seja verídica, nem digo que o não seja
0. Pelo que vi no seu blogue, até é possível que me conheça. Eu não o posso reconhecer porque se mascarou. Estará no seu direito, mas essa postura torna este diálogo injusto.
Quanto às liberdades, o caminho mais rápido para as perder é não as praticar.
1. A OCDE realmente desmente a sua afirmação quanto aos custos da educação. Veja aqui:
http://dx.doi.org/10.1787/888932310282
2. Se não tem identidade, porque hei-de acreditar que «passou por isso»? A verdade é que se pode escolher: a) escola pública ou privada; b) escola no local de residência ou no local de trabalho; c) seriar as escolas a que se concorre.
Nada garante que se fique na primeira escolha, claro. Mas «escolha» não é o Estado ir servir-me caviar a casa.
3. Quer que eu acredite só porque diz que é assim? Isso mata o debate.
4. Veja o comentário de quarta-feira às 14h54m.
5. Quer escolher os professores? Excelente. Eu também. Quero professores com doutoramento a ensinar nas escolas primárias. Também podemos pedir a Lua.
6. Ok. Tenho razão.
Cumprimentos,
Adenda ao 1:
«Portugal gastou cerca de 5200 euros com cada aluno no sector público em 2007, ficando no 16.º lugar entre os 31 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), revela o estudo "Education at a glance", hoje divulgado.
O investimento por aluno aumentou mil euros em comparação com o relatório de 2008, elaborado com dados de 2005, mas continua abaixo da média da OCDE, que é de 6400 euros anuais por aluno.
O documento refere que o país aplica 5,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) na Educação, também abaixo do 6,2 por cento do Estados-membros daquela organização.
Os Estados Unidos lideram o investimento anual na educação, com 11 100 euros por aluno, embora os dados se refiram ao ensino público e privado. Segue-se a Áustria e a Suíça, que gasta mais de 10 mil euros por aluno apenas no sector público. O México (cerca de 2000 euros anuais por aluno) e a China (cerca de 1090 euros) são os países que menor percentagem do Orçamento dedicam à Educação.»
http://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Portugal-abaixo-da-media-da-OCDE-em-gastos-com-Educacao.rtp&article=373308&visual=3&layout=10&tm=8
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