quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O Partido dos animais não humanos

Existe um novo partido político: o Partido pelos Animais e pela Natureza (PAN). Acusam os partidos ecologistas existentes (PEV e MPT) de estarem «ao serviço de outros objectivos ideológicos». Terão razão nesse aspecto.
  • «O PAN assume-se como um partido inteiro, que visa promover o bem de todos, humanos e não-humanos, e não apenas de alguns» (é logo o partido com maior eleitorado potencial: inclui  as  ovelhas e os ratos, mas, escandalosamente, creio que discriminam as baratas e as formigas por falta de senciência);
  • «Os interesses humanos e animais devem ser igualmente tidos em consideração e procurar-se a solução eticamente mais justa quando pareçam estar em conflito» (os interesses do porco preto e das minhas papilas gustativas não «parecem» estar em conflito, caros senhores, estão mesmo);
  • «os preconceitos esclavagistas, racistas, sexistas e especistas têm uma mesma natureza injustificável: presumir-se superior e com direito a maltratar, oprimir e explorar outros seres só por se ter mais poder, um diferente tipo de inteligência ou pertencer a uma raça, sexo ou espécie diferentes» (o mau gosto desta passagem até dói, porque no fundo compara dramas históricos que afectaram milhões de pessoas, como a escravatura, ao sofrimento das galinhas poedeiras);
  • «O PAN defende a consagração na Constituição da República Portuguesa da senciência dos animais e do seu direito à vida e ao bem-estar, usufruindo do habitat e da alimentação adequados» (uma pérola, esta proposta de revisão constitucional).
Enfim, há ainda outras pérolas, mais previsíveis, como a «proibição imediata de todas as actividades de entretenimento que causem sofrimento animal, tais como as touradas, as chegas de bois, os rodeos (...) do foie gras e das peles», a «abolição total da experimentação em animais», a «obrigatoriedade dos restaurantes oferecerem pelo menos um prato vegetariano» e a «eliminação progressiva da produção de ovos em aviário».

Registe-se que se trata do primeiro partido português que, mais do que propor política, preconiza uma ética e um estilo de vida. Nesse sentido, é quase um partido confessional. Mas o Tribunal Constitucional não o compreendeu.

8 comentários :

Patrícia Gonçalves disse...

"Não se pode matar a natureza"
(tu sabes quem...)

Luís Lavoura disse...

Quem são os bacanos que formam este partido?

Ele existe há quanto tempo? Nunca tinha ouvido falar dele...

JDC disse...

Será que vamos ter comentários inflamados contra o Ricardo Alves? :-)

Já estou a imaginar: "Seu assassíno nazi comedor de febras!!"

Filipe Moura disse...

Não subscrevo o programa deste partido nem gosto de partidos "unicausa", mas apesar de tudo acho que tem todo o direito de existir, ao contrário do que insinuas no último parágrafo.
Já agora: o PCP é um partido que apela a uma ideologia para a qual é preciso ter fé. Também achas que deveria ser ilegalizado?

Ricardo Alves disse...

Filipe,
não estava a insinuar. Estava a ser irónico (coisa que tenho que deixar de fazer, porque gera imensos mal-entendidos).

dorean paxorales disse...

a internet é sítio ingrato para irónicos e sarcásticos.

Miguel Madeira disse...

"Já agora: o PCP é um partido que apela a uma ideologia para a qual é preciso ter fé. "

Como assim? O PCP segue uma ideologia que se pretende cientificamente correcta.

Ricardo Alves disse...

«O PCP segue uma ideologia que se pretende cientificamente correcta.»

Os espíritas e os cientologistas também.