A Europa rica estava, há duas décadas, madura para o regresso da xenofobia. A «liberdade de circulação» propagandeada pelos eurocratas sempre foi pensada para os estudantes universitários, os investigadores, os reformados de classe média, os quadros das grandes empresas e os burocratas de Bruxelas. Só existe para o lumpen-proletariado se aceitarem ser pagos no país de destino abaixo do que se paga aos trabalhadores locais, dormir em contentores, comer e calar. Nunca foi pensada para os eternos nómadas de remota origem indiana a que chamamos «ciganos».
As «expulsões voluntárias» de Sarkozy foram um passo decisivo na «lepenização» da França. Outros se seguirão: a extrema-direita no governo em Itália quer ir ainda mais longe, para as expulsões coercivas de «cidadãos da UE». A semente está lançada, e é má.
Pouco podemos esperar dos políticos no poder. Sócrates nem percebe o que se passa (ou não lhe interessa), e da privada berraria entre Sarkozy e Barroso saiu uma condenação da única comissária que se opôs publicamente às expulsões, e uma investigação que dará em nada.
Num contexto de agravamento da crise económica, a Fortaleza Europa fecha as portas. Vão ficar muitos de fora.
3 comentários :
"expulsões coercivas de «cidadãos da UE»"
Isso nada tem de mal, desde que essas expulsões sejam fundamentadas em factos que não a etnia, a orientação sexual, etc. É perfeitamente legal um país da UE expulsar do seu território cidadãos de outro país que lá estejam sem fazer nada, que não tenham meios de subsistência e que de alguma forma constituam um encargo para a segurança social do país de acolhimento.
O que há de peculiar (e chocante) na situação francesa é, aparentemente (ou alegadamente), as expulsões terem lugar por motivos étnicos.
De acordo com o Luís. Direito de circulação não implica direito de residência. Aliás nem implica direito de trabalho para todos os cidadãos da Europa de Leste.
O chocante é o carácter étnico da expulsão. O direito dos Roma a circular na UE não é minimamente beliscado.
Não se estão a expulsar cidadãos individualmente, mas sim em grupo. O problema principal é esse.
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