quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Sobre a burca: uma questão e uma clarificação

Creio terem havido alguns mal-entendidos entre o Jugular e o Esquerda Republicana. De qualquer maneira, até por ter o prazer de conhecer vários dos elementos da Jugular, não ponho em causa o seu feminismo, em termos absolutos. Pode supor-se que algumas das suas posições poderão ser polémicas entre as (por que não os?) feministas; pode mesmo supor-se (eu suponho, baseado em textos como o que linquei) que algumas delas (a Ana, a Maria João, a Inês) dão mais importância à liberdade individual que ao feminismo. É por por vezes surgirem conflitos entre valores que nos são caros (a liberdade, a igualdade) que a política e a cidadania envolvem escolhas complicadas.
A questão do véu integral envolve, seguramente, uma dessas escolhas. A minha posição é mais ou menos a descrita pelo João Vasco: sou contra a burca sem, no entanto, defender a sua proibição. (Não altero a minha posição de ser inteiramente favorável à anterior lei do véu nas escolas, que é bem diferente do que está agora em jogo.) Não sou, de todo, indiferente aos argumentos do Ricardo Alves e dos defensores da proibição; no entanto, entendo que tal passo seria ir longe demais. Apesar de a proibição não me parecer aceitável, sou contra a burca; se por acaso esta fosse proibida, não me passaria pela cabeça manifestar-me ou lutar contra a sua proibição. É esta a pergunta que eu gostaria de deixar às minhas amigas jugulares, para ver se nos entendemos melhor: se o uso da burca fosse proibido, até que ponto lutariam contra essa proibição? Algumas de vocês parecem-me muito militantes na defesa do direito ao seu uso.

19 comentários :

Inês Meneses disse...

VIva, Filipe. Com muito pouco tempo por agora, deixo só uma achega à conversa: a questão é que não vejo diferença entre as questões da liberdade e igualdade de cada pessoa perante a sociedade e o Estado, e o feminismo; ou os direitos de imigrantes, que me parecem outra grande questão contemporânea.

No caso que estamos a discutir acho, precisamente, que a proibição vem reforçar a noção destas mulheres como parte duma comunidade e necessitadas de tutoria, e não como cidadãs adultas de pleno direito. Reforça a sua menorização e aumenta-a criando uma discriminação em função da sua religião e origem. Já para não dizer que a minha sensibilidadezinha burguesa acha horrível a ideia de forçar pessoas a exporem-se mais do que querem.

E depois há as questões mais gerais que isto levanta, quanto ao espaço que queremos dar aos governantes para interferir na nossa esfera pessoal, bem como o precedente discriminatório que assim se abre.

A isto tudo se deve o tal calor militante que notas bem. Não pela burca, para a qual me estou a borrifar; mas porque proibir ou forçar este tipo de coisa me parece errado por definição, contraproducente quanto aos objectivos que se propõe e perigoso nos efeitos a prazo.

Ricardo Alves disse...

Inês Meneses,
o problema é mesmo estar a «borrifar-se» (sic) para a burca. Não existe hoje ideologia totalitária em ascensão neste planeta que seja mais lesiva para os interesses da mulher do que o islamismo radical. Estão no poder na Arábia Saudita, no Irão, no Sudão, na Faixa de Gaza, em parte da Somália, de uma forma ou outra nos Estados do golfo, e têm uma presença significativa em muitos outros países, incluindo cidades europeias. Parece que as pessoas já se esqueceram do que significa o internacionalismo, quer do ponto de vista da análise política, quer das solidariedades.

Quanto à França: não é só Estado que oprime. As comunidades religiosas também o fazem. E, neste caso, é a ausência de intervenção do Estado que permite a continuação da opressão comunitária sobre as mulheres. A menos que se parta do princípio de que o sonho de todas as mulheres é usar uma burca...

Inês Meneses disse...

Resolve-se um autoritarismo e uma repressão com outra repressão, agora duplamente discriminatória? Não creio. Acrescente-se que estas mulheres não vivem em nenhum país fundamentalista, vivem em França. Não vejo desculpa para se criar uma lei específica para condicionar (ainda mais?) a vida delas.

E também não disse que me estava borrifando para as mulheres islâmicas, disse que não é a burca em si que me preocupa, mas o facto de ser imposta. Ou proibida. O grave é o negar-se a autodeterminação e plenos direitos a alguém. Não vejo como são esses direitos devolvidos por alguém dizer: agora não é a tua família mas o Estado quem dita a maneira como apareces em público.

Quanto a internacionalismos: assim de repente, achas que este tipo de atitude jurídica por parte de países europeus vai aumentar ou diminuir o poder dos fundamentalistas nos países onde são relevantes? Achas que vai dificultar ou facilitar a vida a quem luta por leis laicas nesses países?

Ricardo Alves disse...

Inês Meneses,
não é só o Estado que oprime. Se a burca for proibida, é uma forma de o Estado dizer que o marido não manda na mulher, que não lhe pode impôr a burca. E, por favor, vamos parar de tratar o «impôr a burca» e o «proibir a burca» como se fossem simétricos. Não são. O véu integral é imposto em nome de uma ideologia totalitária, fascizante e sexista. E é proibido em nome dos Direitos Humanos e da igualdade entre os sexos. Tratar a proibição da burca como sendo simétrica (ou igual) à proibição da burca, é tratar a igualdade de direitos como sendo igual à tutela do marido da mulher, ou a teocracia como se fosse igual à democracia, ou a França como se fosse o Irão ou a Arábia Saudita.

E sim, acho que há pessoas em países muçulmanos de olhos postos na França, e que se sentirão gratas quando a burca for proibida. Aliás, o uso do véu é bastante restrito na Turquia, e talvez por isso é o único país muçulmano que se aproxima de ser uma democracia.

Jorge Pinto disse...

A burca ou o véu são impostas às mulheres muçulmanas nos países onde impera a sharia, elas não tem escolha. Nos países onde os direitos humanos são respeitados há que proibir por lei, se necessário, essa e outras formas de violência sobre as mulheres. Ponto.

Anónimo disse...

O véu e o niquab são um meio de reforçar a identidade e o espírito de resistência do Islão face ao terrorismo sionista e cruzado na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, etc.

Quem conhece bem os países islâmicos ri-se dos preconceitos prevalecentes no decadente e anómico ocidente em relação à condição feminina no Islão.

É preciso compreender que aí, como em 80% do mundo (o emergente, moral e economicamente) a unidade fundamental é a família e que a coesão e protecção familiar não são vistas como uma prisão, mas como a base da segurança de todos, como a forma ideal de vida em sociedade.

O ultra-individualismo que dissolve a sociedade fazendo de cada membro uma ilha isolada é rejeitado veementemente pelas comunidades muçulmanas, muito mais solidárias. Nestas as mulheres são muito mais felizes. É um facto.

Do mesmo modo não há divisão esquizofrénica entre o sagrado e profano, entre o espaço público e privado. Um muçulmano é-o 24 horas por dia e em toda a parte. o laicismo jacobino traduz-se na imposição pratica do fundamentalismo ateu por uma minoria radical à maioria religiosa. O islão aniquilará essa ditadura satânica na Europa. Daí a resistência também através do véu e do niquab.Afirmam o orgulho na cultura islâmica, na submissão ao Todo-Poderoso, na resistência ao nazi-sionismo e ao terrorismo cruzado.

Allah u Akbar

Salah al Din

Ricardo Alves disse...

Senhor Saladino,
a sua tentativa de apresentar um discurso diamtralmente oposto aos valores democráticos, laicos e individualistas prevalecentes na Europa foi quase perfeita. Só faltou a defesa dos casamentos forçados, da violência doméstica, da compulsão em matéria religiosa, das mutilações sexuais e do enforcamento de homossexuais. Peço-lhe um pequeno esforço mais para que seja perfeitamente reaccionário. ;)

susskind disse...

Ines Meneses, esta' a utilizar a invocar a liberdade individual como um principio abstracto e absoluto. Mas nao e'.

Nao e' abstracto porque se refere sempre a situacoes concretas: liberdade de que, sou livre de que? Nao vale a pena invocar a liberdade individual para fazer aquilo que a pessoa nao tem interesse em fazer. Neste caso, nao vale a pena invocar a liberdade das mulheres andarem de burca se elas nao querem -- teem de ser forcadas --- andar de burca.

Nao e' absoluto porque a minha liberdade de "a" pode entrar em conflito com a liberdade de outros "a" ou "b" ou ate' entrar em conflito com a minha liberdade "c". Neste caso, o porte da burca nao e' neutro; pelo contrario, a mulher que ande de burca esta' a fortalecer e a legitimar o poder daqueles que lutam pela imposicao da burca e daqueles que, noutros paises, a impoem de facto.

susskind disse...

Por outras palavras, uma das condicoes necessarias (mas nao suficientes) para que a liberdade individual de vestir a burca pudesse ser efectivamente neutra (i.e. puramente individual) seria que as autoridades religiosas (que teem poder real, nao convem esquecer) renunciassem e condenassem publicamente a imposicao da burca. Ate' la', o assunto nao se pode colocar puramente em termos de liberdade individual.

Jorge Pinto disse...

A exposição do Anónimo fundamentalista islâmico fala por si. Não nos deixemos intimidar por tais retóricas ultra reaccionárias, nem justificar a violência sobre as mulheres com a opressão inaceitável a que está sujeito o povo palestiniano.

Anónimo disse...

Violência sobre as mulheres ? Você já perguntou às mulheres de Gaza, todas de véu, de onde vem a violência ? De Israel, ou do véu ? Nem uma só responderia do véu. Isso é uma posição reaccionária, pró-sionista que elas rejeitariam.

O objectivo das muçulmanas é aniquilarem o regime sionista-apartheidesco e libertarem-se de ditaduras corruptas e fantoches pró-americanas, não copiarem o modelo decadente do putedo feminista ocidental, esse sim reaccionário.

A revolução no mundo islâmico hoje é conduzida pelos partidos islamistas, não pelos corruptos, antidemocráticos, colaboracionistas, capitulacionistas e reaccionários governos socialistas árabes, como o do Egipto, Argélia, etc.

Esses traidores serão executados quando os seus miseráveis regimes forem derrubados pelo voto ou pelas armas.

Salah al Din

Anónimo disse...

Oh
Salah al Din

Justifica o que dizes com o corão!

Ricardo Alves disse...

E se a violência vier do véu e de Israel? E se a derrota de Israel (que é impensável...) trouxesse a violência às mãos do Hamas e Hezbollah?

Numa coisa lhe dou razão: quando a face da Palestina se começa a parecer mais com o Hamas e menos com a OLP, eu revejo as minhas prioridades. O anti-imperialismo não pode ser o único referencial.

Anónimo disse...

1) A derrota do asqueroso regime nazi-sionista-apartheidesco não só não é impensável como é inexorável a médio prazo, se o regime de apartheid não se desmantelar voluntariamente e aceitar o one man, one vote (como na Africa do Sul), o que dará automaticamente o poder à maioria muçulmana. Repare que só 3.000 leões do Hezbolah, derrotaram as 30.000 amélias das SS Tsahal, que em 2006 não conseguiram num mês, com todas as armas ao seu dispor, conquistar nenhuma das aldeias fronteiriças do Líbano, e tiveram mais baixas que o glorioso Hezbolah...E só o Irão tem 70 milhões...

2)A OLP do traidor Abbas perdeu as eleições democráticas de forma limpa para o Hamas (o único poder legítimo na Palestina) e mantem-se ilegalmente no poder com o apoio do ocupante. Prendem os patriotas do Hamas, vencedores das eleições, por ordem do Shin Bet, a Gestapo sionista, que aliás selecciona, paga e treina a "polícia" de Abbas.

São traidores colaboracionistas a serem executados inexoravelmente quando a democracia for restabelecida. De Gaille fez o mesmo em 44-1945 com 10.500 Collabos que acabaram no poteau...

3)O facto de você apoiar essa escumalha prova que você é antidemocrata e reaccionário. Só isso.

Allah u Akbar ! Morte a iSSrael e aos nazi-sionistas !

Salah al Din

Anónimo disse...

"E se a violência vier do véu e de Israel?"

Isso diz você. Não as mulheres de Gaza, que votaram maciçamente no Hamas (tal cono na Cisjordânia), e para as quais o véu não é imposto mas escolhido. É a sua identidade.
Você é que não respeita a autonomia e a vontade delas e quer-lhes impor modelos estranhos. O problema do véu só existe para os decadentes ocidentais.

Salah al Din

Jorge Pinto disse...

O nosso anónimo mas corajoso Saladino está pronto a executar-nos a todos, pobres decadentes que recusamos a liberdade, a felicidade e a superior civilização que ele nos quer impor. Pobre e confuso Saladino. De que tens medo? Temes que as sociedades islâmicas recusem o teu fundamentalismo troglodita e continuem a progredir no sentido do reconhecimento dos direitos das mulheres, não é isso? O "putedo feminista ocidental" mete-te medo, já percebemos. A tua misogenia que te faça bom proveito mas não a queiras impor aos outros.
E por favor: não nos trates como atrasados mentais. Deixa-te de impropérios grosseiros e ameaças de morte e não venhas com essas confusões do nazi-sionismo e quejandas.
Que se saiba se houve ideologia totalitária mais acarinhada pelos teus correlegionários foi precisamente o nazismo, ou será que já te esqueceste?
Mas ainda bem que nos esclareces que as mulheres Palestinianas que não usam véu são coniventes, colaboradores do opressor estado de Israel. Shame on you.

Anónimo disse...

Salah al Din

Justifica o que dizes com o corão!

Anónimo disse...

O Corão, tal como a Bíblia, não regula os pormenores da democracia e das lutas de libertação nacional. Para isso existe o direito internacional, e no plano interno, o direito constitucional. Ainda que a vida política se possa em termos gerais inspirar na moral religiosa e nos princípios corânicos, bíblicos, etc.

Salah al Din

Anónimo disse...

No islão é suposto estar tudo no corão.
No islam, nada do que é humano é válido.