Basicamente, no entender do director do JN o texto de Mário Crespo não era um simples texto de Opinião mas fazia referências a factos que suscitavam duas ordens de problemas: por um lado necessitavam de confirmação, de que fosse exercido o direito ao contraditório relativamente às pessoas ali citadas; por outro lado, a informação chegara a Mário Crespo por um processo que o JN habitualmente rejeita como prática noticiosa; isto é: o texto era construído a partir de informações que lhe tinham sido fornecidas por alguém que escutara uma conversa num restaurante.Acresce que o diretor do jornal apenas "manifestou reservas" quanto ao artigo e não despediu Mário Crespo: foi este que, face a estas reservas, decidiu retirar o artigo e cessar a sua colaboração. Mais: ao não publicar o artigo (pelo qual poderia vir a ser responsabilizado - um jornal pode ser responsabilizado pelos seus artigos de opinião) o JN não estava a silenciar Mário Crespo, que dispõe de outros meios (de que todos hoje em dia dispomos), como blogues, outros jornais e, no caso de Mário Crespo, o think-tank do PSD. Que o publicou imediatamente. Crespo recebeu ainda a solidariedade pronta de Paulo Portas: amanhã, Crespo participa num almoço promovido pelo CDS. Também poderia apresentar o artigo lá...
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
A censura nos dias de hoje
Nenhum jornal sério publicaria um artigo como o que Mário Crespo submeteu ao Jornal de Notícias, naquela forma. Além disso, a não-publicação de um artigo, mesmo quando existe um contrato de colaboração entre um articulista e um jornal, não tem necessariamente de constituir um ato de censura. Tem de existir uma justificação para tal procedimento, e foi isso que a direção do JN fez, com uma clareza cristalina:
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9 comentários :
Caro Filipe Moura,
Se nos artigos de opinião não se puderem mencionar factos ou alegados factos não sei onde isto vai parar...Os artigos de opinião não devem ser submetidos aos mesmos critérios das notícias. É por isso que, nos jornais, esses artigos aparecem referenciados como "opinião".
Tanto quanto sei o director do JN não "manifestou reservas", mas sim disse a Crespo que o artigo não ia ser publicado. Crespo, que desta forma se viu censurado, fez o que qualquer pessoa minimamente decente faria no seu lugar: demitiu-se.
Neste caso e noutros do género não interessa se Crespo tem a solidariedade de Portas ou de Louça, se Crespo é de direita ou de esquerda. Interessa é saber se vamos passar a tolerar este tipo de atitudes.
Vir dizer que Crespo possui outros meios para se exprimir é inqualificavel. Mesmo que Crespo fosse colaborador de todos os jornais do país, ao ser censurado num deles está a ser vítima de algo que é, ou devia ser, inaceitável em democracia: está a ser vitima de censura. Foi isso que aconteceu...
Esta entrevista do Crespo é curiosa:
http://xatoo.blogspot.com/2010/02/no-comments.html
Caro FB, se ler com atenção o comunicado do JN verá que o diretor não recusou liminarmente a publicação do artigo: manifestou reservas. Quem o retirou foi Mário Crespo.
FB,
Eu ouvi dizer que você foge dos restaurantes sem pagar a conta. E que cheira mal dos pés e ainda que rouba a caixa de esmolas aos ceguinhos e faz desfalques na sua empresa.
Mas isto é só a minha opinião.
Filipe,
O teu post contém um erro importante, que vicia o teu raciocinio.
Um jornal não é responsável pelo conteudo dos artigos de opinião, como é pelas noticias, pelo que não os podes ver pelo mesmo prisma.
Um é jornalismo e o outro não. Um está sujeito a um código deontológico, o outro está apenas sujeito a lei civil e penal. Por um é responsável o jornal e o seu director, pelo outro apenas o seu autor.
Um jornal não tem nada que confirmar factos, sejam caluniosos ou não, de um artigo de opinião,muito menos sujeitá-los "à sua pratica noticiosa"
Filipe Moura,
Para quem tem espinha dorsal, há certo tipo de reservas que são mais do que suficientes para se fazer o que Mario Crspo fez...
Sergio,
Para isso existem os tribunais. Veja, p ex., o caso que oposs Clara ^F. Alves a Vasco ^P. Valente.
Vamos ver se Socrates faz o mesmo a M. C.
SMP,
Subscrevo o que diz.
Pois é o Mário Crespo anda a colocar-se a jeito... Agora temos bufos que andam a escutar conversas privadas e depois é só bufar para o insuspeito jornalista fazer "jornalismo", passe a expressão. O senhor não sabe como a "defesa da sua honra" em forma de crónica chega ao Instituto Sá Carneiro, vai a um almoço e conferência do PP e vai ter os seus textos do JN publicados pela editora da Zita Seabra. Continua assim que vais bem...
Filipe,
como diz o SMP, publicar aquele artigo não infringia o código deontológico. Podia, talvez, infringir a «decência mundana».
Mas, qual é mesmo a tua posição quanto à divulgação de correspondência interna do Público?
Em relação ao argumento "O Mario Crespo é que se foi embora", qual o comentário do Filipe Moura ao menos mediatíco afastamento do Pedro Lomba do Diario Economico? (http://suctionvalcheck.blogspot.com/2009/11/sem-resposta.html)
Claro que me pode responder que um jornal pode sempre decidir que a opinião de determinado colunista deixou legitimamente de interessar.Mas o que é evidente e que os jornais hoje têm medo de irritar o PM, até nas colunas de opiniao que so vinculam os seus autores. A verdade é que quem é critico do grande lider hoje em dia nao dura muito.
E isso devia chocar mais qualquer defensor da liberdade do que a forma mais ou menos correcta como são feitas as denuncias.
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