Não li as críticas todas ao texto do Ricardo sobre os protectores dos animais. Mas acho que as pessoas reagiram emocionalmente a um texto que critica, justamente, as reacções emocionais e frequentemente pouco razoáveis das pessoas que argumentam os direitos dos animais.
Eu adoro corridas à espanhola porque cresci a vê-las com o meu pai e acho as corridas à portuguesa uma palhaçada. E nunca percebo porque é que as pessoas têm pena dos toiros e não vêem o que os cavalos sofrem.
Espero que ninguém queira discutir se as corridas de toiros são, ou não, espectáculos bárbaros e medievais. A maioria dos toiros que são mortos na arena acabam sempre a deambular por ali, com um estoque enfiado nas costas, a tossirem os pulmões aos bocados, sem perceberem o que lhes aconteceu, até serem mortos com um golpe na nuca. Os que não são mortos na arena – os portugueses não aguentam tanta crueldade! – sofrem no escuro dos curros o tempo que for necessário até serem carregados para o matadouro, para serem abatidos, geralmente com febre e os tendões do pescoço lacelaros.
O que eu acho é que se devia discutir a selvajaria e a barbaridade das corridas de toiros, mas depois de se discutir a barbaridade e a selvajaria da invasão do Iraque, na qual Portugal participou. Para mim é escandaloso ver os portugueses a discutirem os direitos dos toiros e a ignorarem o sofrimento dos milhões de iraquianos que ajudámos a invadir, na esperanca de apanharmos umas migalhas do petróleo que os ingleses e os americanos lhes iam roubar.
Morreram mais de 650 mil civis inocentes e o resto da população anda a apanhar os restos dos filhos, pais e mães, ainda a mexer, nos escombros das explosões, as expressões dos pais com crianças mortas nos braços deviam rasgar o coração a qualquer pessoa normal, ou a levarem os filhos com as entranhas de fora para os hospitais em escombros, ou os olhares de medo das crianças sem braços e sem pernas nas camas dos hospitais. Mas é o sofrimento dos toiros que agora não deixa dormir os portugueses?
5 comentários :
Já ouvi o argumento "em vez de se andaram a preocupar com X deviam estar a pensar em B" em muitos sitios e sob muitas formas diferentes. Frequentemente, oiço-o com um conteúdo homofóbico, como quando um eurodeputado socialista me disse que em vez de eu me andar a preocupar com a homofobia que, segundo ele, não existe em Portugal, eu devia-me ocupar com campanhas contra os maus tratos a crianças. Também é usado pela direita para adiar indefinidamente os casamentos homossexuais ou uma lei da identidade de género, porque há outras coisas com as quais no devemos ocupar.
Sinceramente, não vejo o que é que ser contra as touradas e lutar contra elas tenha de incompatível com o fazer-se o mesmo em relação à ocupação do Iraque. Ou a ocupação do Tibete. Ou a desflorestação nas zonas tropicais. Ou tantos outros assuntos que, como apologista dos direitos dos animais, nunca vi como sendo um empecilho uns aos outros. O dia-a-dia é feito de mais do que uma luta por mais do que uma causa e talvez o Filipe devesse perguntar aos activistas anti-touradas quantas deles não estão também noutras manifestações e campanhas em vez de simplesmente concluir que eles só vivem para aquilo. Certamente que a si também outros dirão o mesmo cada vez que o vêem escrever sobre uma causa que não lhes interessa.
Que o argumento seja usado pela direita para evitar uma questão que quer ver esquecida, é coisa a que já me habituei. Não esperava, no entanto, encontrar o mesmo tipo de jogo num blogue de esquerda e, ainda por cima, republicana. Já aprendi qualquer coisa hoje.
Fazer-se o mesmo?! Os portugueses estao total e absolutamente nas tintas para a invasao do Iraque, e se a gasolina tivesse baixado tinham aplaudido a morte de quantos iraquianos tivesse sido preciso! E depois choram por causa dos toiros e dos pintainhos que nao vao nascer porque nos comemos omeletes...
Se "se fizesse o mesmo" eu nao dizia nada.
É estranho que uma pessoa que se diz de esquerda goze com a tortura de animais. É a tortura que me choca e o gozo de quem assiste ainda mais. Espero que estando contra a Guerra não tenha orgasmos ao ver as cenas de sofrimento, espero…
Quem confessa que adora ver espetáculos que metem pulmões a serem tossidos aos bocados, tendões do pescoço lacerados, não pode ser de esquerda, é uma fraude.
Pois a mim o que me parece escandaloso é ver o Filipe Castro a preocupar-se ás 16:19 com os destroços das naus portuguesas em Moçambique e só às 16:40 é que se vem preocupar com os iraquianos que ajudou a invadir (fale por si, que eu cá tb sou português e para esse peditório nunca dei).
Estou a ver que a demagogia está em alta por estas bandas...
O que eu acho é que se devia discutir a selvajaria e a barbaridade das corridas de toiros, mas depois de se discutir a barbaridade e a selvajaria da invasao do Iraque, na qual Portugal participou.
Esta faz-me lembrar barbaridades como "com tantas criancinhas a passar fome, andamos nós a perder tempo a debater o aborto".
O argumento de haver coisas mais importantes para debater é dos argumentos mais anti-democráticos que podem haver.
Enviar um comentário