«Em Portugal tudo quer ser doutor. Temos é doutores a mais»
Quem não ouviu já estas afirmações? Seguramente afirmações do tipo não são novas para o leitor.
Convém deixar bem claro que são um rematado disparate.
De acordo com números de 2002, a população portuguesa em idade activa como Ensino Superior era apenas de 9%, sendo de 29% na média da OCDE [página 51 daqui]. Leu bem: Portugal não tem licenciados a mais - tem licenciados a menos.
Em segundo lugar convém lembrar que em Portugal a taxa de desemprego entre licenciados é significativamente menor que entre não-licenciados. Vejam-se os valores obtidos neste estudo do Banco de Portugal [a partir da página 73]:
Em Portugal, um licenciado ganha, em média, muito mais que um não licenciado, e o investimento em educação superior é dos mais rentáveis que um indivíduo pode fazer:
Deve notar-se que o ensino superior traz muitas vantagens ao indivíduo além do dinheiro. Mas ainda assim, o investimento numa licenciatura garante, em média,
uma taxa de rentabilidade real de 15 por cento — uma rentabilidade definitivamente excepcional.
O irónico nisto tudo, é que não só vale a pena estudar em Portugal, como vale mais a pena que noutros países. O que faz sentido, visto que Portugal, tendo menos licenciados, tem mais falta deles:
O artigo do Banco de Portugal também desmonta muitas das objecções que são geralmente feitas: a de que estas diferenças se devem a capacidades inatas dos indivíduos, a de que a Universidade não faz mais do que certificar habilidades, a de que este efeito é devido à auto-selecção dos indivíduos, entre outras.
Vale a pena ler.
Conclusão: alguma (muita?) direita não gosta que o estado invista em educação. O investimento estatal em educação não se limita a atenuar as diferenças sociais: enriquece toda a sociedade, que assim fica mais próspera e com maior capital humano.
Isso é válido para (entre outros) o Ensino Básico, o Ensino Secundário e o Ensino Superior.
Em Portugal, no que respeita ao Ensino Superior, este merece sem dúvida um investimento forte. É imperativo manter a qualidade (ou elevá-la), mas também formar em quantidade. Portugal tem falta de licenciados, e é importante formá-los.
Quando se diz que existem licenciados a mais em Portugal, diz-se um disparate patético e absurdo, sem qualquer relação com a realidade. É importante «acordar» aqueles que continuam a espalhar esses mitos sem fundamento para a realidade dos factos.
4 comentários :
Há ainda o mito de que há muito desemprego em percentagem absoluta entre os licenciados.
É verdade que ela é alta, mas apenas porque não se toma em consideração o facto de o nível de actividade entre os licenciados ser muito maior. Ou seja, se considerarmos a percentagem de desempregados entre os licenciados QUE PERTENCEM À POPULAÇÃO ACTIVA, então este valor é bem baixo do que o valor dos indivíduos com pouca formação
Tb seria interessante saber a distribuiçao dos licenciados por área de formação, relativamente aos restantes niveis de ensino.
Dados muito interessantes, João Vasco!
Fulano de Tal:
Veja a hiperligação do artigo.
O relatório tem uma tabela que ocupa uma página inteira sobre esse assunto.
Basicamente os cursos de Saúde e Engenharias são os mais procurados. Os cursos de letras são os menos procurados, tanto quanto me lembro.
A área era um factor realmente muito decisivo, de acordo com o relatório.
Ricardo:
Obrigado. Também achei isso. :)
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