domingo, 20 de maio de 2007

Touradas

O que eu quero dizer é que esta discussão dos touros de morte e das touradas é um bocado piegas e soa-me sempre deslocada, no pior dos sentidos, em vista das mil outras injustiças que não preocupam NADA os portugueses.

Eu acho que as touradas são espectáculos selvagens e medievais e se calhar deviam ser proibidas. Como cresci a ver os toiros a serem picados e torturados estou insensibilizado contra esta prática. Irracional? Inconsistente com os ideais tradicionais da esquerda? Talvez! Mas algum dos senhores que me criticaram é perfeito? :)

Mas perdoem-me a franqueza: eu não tenho paciência nenhuma para os grupos dos defensores dos animais que, se pudessem, mandavam milhares de imigrantes de volta para o México ou a Guatemala, para salvar um condor.

Por favor não comparem os animais com as pessoas.

A crueldade contra os animais é uma coisa horrível: a caça desportiva, por exemplo, pode ser uma coisa medieval e de uma crueldade enorme. Os tipos que andam atrás de antílopes com um arco e uma flecha e depois não acertam bem e os animais vão morrer longe, duas semanas mais tade. Ou os que vão à Africa ferrar um tiro num leão para depois meterem a pele na parede da sala.

Acho que Portugal pode e deve discutir as touradas e envergonhar-se perante os turistas nórdicos que nos acham uns selvagens, uns trogloditas sem vergonha, que torturam as vacas e os toiros e as galinhas, etc.

Mas eu continuo a achar que o que faz os os portugueses uns selvagens, muito, muito, muito mais que as touradas, é a nossa tolerância ao sofrimento alheio: dos iraquianos, dos sudaneses, dos ciganos, dos caboverdeanos, etc. Se Portugal algum dia, por exemplo, quizesse fazer uma reflexão sobre o que foi a guerra de África, e depois explicasse aos energúmenos do PNR porque é que nós temos obrigações morais para com os imigrantes – legais e ilegais – das ex-colónias, que aliás não cumprimos... eu achava que a discussão das touradas – simultânea com as outras – fazia sentido.

Sozinha, como prioridade nacional, não acho que tenha relevância nenhuma.

5 comentários :

Ricardo Alves disse...

Eu confesso que também sou insensível ao sofrimento dos touros. Se isso faz de mim uma pessoa menos de «esquerda», paciência... ;)

Mas nem falaria nesta questão se não me irritassem bastante as pessoas que comparam os touros às pessoas. São ainda mais irritantes do que os toureiros...

Unknown disse...

Caro Filipe,

Concordo em absoluto com o primeiro parágrafo.

Mas tenho de confessar que me estou nas tintas para aquilo que os turistas nórdicos pensam de nós.

Procure em Saami e verá do que falo.
Em alternativa, meta-se no ferry da sexta à noite, de Helsínquia para Estocolmo.

Unknown disse...

Só para ajudar:
http://boreale.konto.itv.se/hunt.htm

Filipe Castro disse...

Eu so referi os turistas porque ha uns anos o movimento anti-touradas teve imenso eco em Inglaterra.

Devo dizer, no entanto, que quando Kim Jong Blair decidiu viabilizar a invasao do Iraque 2 milhoes de ingleses sairam a rua imediatamente.

Como ele e um "born-again christian" e nao acredita na democracia, a coisa nao teve consequencias. Mas os ingleses estavam la.

Unknown disse...

Acho que ambos sabemos bem que os ingleses gostam mais de animais que dos próprios filhos...

Se alguém conseguisse demonstrar um aumento dos maus tratos aos animaizinhos iraquianos decorrente da invasão já há muito que as tropas britânicas teriam retirado ;)