- «Um punhado de monárquicos ressentidos tenta travar a iniciativa do Parlamento que consiste em levar os restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional. Motivo: o autor de “Quando os lobos uivam”, teria estado implicado no regicídio de 1 de Fevereiro de 1908. Os contos, a este respeito, são largos. Como já aqui referi [neste poste], os braços de ferro em torno das memórias do passado, fazem pouco mais do que tomar pretextos para influenciar estratégias do presente. Semi-perplexa, a memória de Guerra Junqueiro, (ao lado de outras) deveria agitar-se incomodada. É que o autor de “Os simples”, com o seu funesto poema “O caçador Simão”, prevendo-o, incitou também ao assassinato de D. Carlos. Porém, Junqueiro, que ocupa há muito o seu lugar, de direito, no Panteão Nacional, parece repousar já para além de qualquer ressentimento...» («Para lá do ressentimento(2)», no Puxa Palavra.)
- «(...) conviria encontrar certos termos de comparação, para melhor se entender aquilo a que chama de "politicamente correcto". Pensemos por exemplo no exemplo que dá, a prostituição. Diz a Patrícia que agora já nem se chama às prostitutas de prostitutas, mas de "trabalhadoras do sexo". Ora, eu conheço, e a Patrícia por certo também conhece, outro termo para as designar: putas. Assim mesmo. Eu, cara Patrícia, reconheço-lhe o direito de as chamar de putas. Se quiser, pode chamar os homossexuais de paneleiros. Ou os muçulmanos de terroristas. Ou os esquerdistas de ignorantes. Faça-o, ningúem a quer proibir. No máximo, talvez a contradiga, ou melhor, a ignore. Sucede que há aqui uma questão a pôr. Qual é a diferença entre as chamar de prostitutas, putas, ou trabalhadoras do sexo? A validade, digamos, semântica da coisa é igual. Já quanto à justeza moral, aí já é mais complicado. Os critérios são sempre uma coisa chata. Um critério a admitir (mas que poderemos discutir, ou se quiser, ignorar) será o da opinião das visadas sobre o termo. (...) É que isto do "politicamente correcto" é muito chato quando se reivindica o direito de chamar uma puta de puta, ou um paneleiro de paneleiro, mas tem a sua conveniência quando se trata de não nos chamarem a nós de uma coisa qualquer que não seja do nosso agrado. A minha mãe dizia-me que era educação, mas parece que agora se chama "politicamente correcto". Talvez seja politicamente correcto chamar a educação de politicamente correcto, não sei. Mas creia, cara Patrícia, que defenderei até à morte o seu direito à má educação, quer dizer, a rejeitar o politicamente correcto. Eu no máximo irei contradizê-la, ou mais provavelmente ignorá-la. (...)» («Lamento...», no 2+2=5.)
"Uma escuta aqui, uma escuta ali"
Há 1 hora
2 comentários :
Essa do Aquilino, só para rir... Estes monárquicos são mesmo divertidos!
Eu acho bem. Monárquico ou não, esse escritor merecerá!
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