André Carapinha refere uma senhora (Patrícia Lança) que se queixa algures de o “politicamente correcto” não permitir que se “chamem os bois pelos nomes.”
O “politicamente correcto” pretende evitar que se insultem os bois, os pais dos bois, a etnia dos bois e talvez o país de origem dos bois, mas nunca que se deixe de chamar os bois pelos nomes.
Se a direita troca os nomes todos e toma as ideias que tem do mundo pelo mundo, a culpa não é nossa. Diz-se que as simplificações ajudam os simples, mas as pessoas com visões do mundo um bocadinho mais sofisticadas não estão a tentar castrar ninguém quando pretendem que não se diga que “os africanos” têm muito jeito para os desportos, “os asiáticos” são bons em matemática, "os judeus" são bons para os negócios, ou que “o politicamente correcto” é uma forma de censura do pensamento.
Sem querer ser desmancha-prazeres, gostava de explicar aqui às pessoas da direita que o “politicamente correcto” não pretende que eles, coitados, deixem de pensar. Pelo contrário, é uma forma de fazer as pessoas pensarem antes de dizerem ou escreverem asneiras.
2 comentários :
Grato pela referência, caro Filipe.
Aproveito para referir que a Patricia Lança escreve no Insurgente.
Também de notar que a interessante construção da expressão: o advérbio serve como um buffer para dar implicitamente conotação negativa a um adjectivo que só pode ser positivo. "Politicamente correcto", subtraído do advérbio fica só "correcto".
Mesmo o "politicamente" não lhe dá directamente conotação negativa, mas faz supôr que, ao ser "politicamente correcto", será factualmente INcorrecto, errado.
Inverte assim o sentido à expressão "correcto", e Paulo Portas, Pacheco Pereira e outros podem gritar orgulhosos que são "incorrectos" (sinónimo no dicionário de indigno, desonesto, repreensível, rude). Ah, a ironia.
Isto fica tudo pressuposto nesta pequena expressão, é por isso tão inteligente (politicamente inteligente).
Ao dizer que algo é "politicamente" correcto diz-se, sem se dizer, que é errado, incorrecto, sem ter que se justificar.
Interessante também foi a tentativa de extrapolação da expressão com outros advérbios que apareceu há uns tempos:
Revisionistas queixavam-se da ditadura do "historicamente correcto", por exemplo . Estas, por usarem advérbios ainda respeitados, não lograram em dar sentido negativo à palavra "correcto".
Estou a alongar-me, mas vou finalizar com um exemplo:
É "politicamente correcto" chamar a um portador de hiv seropositivo, ... "portador de HIV seropositivo". É correcto chamá-lo assim.
Um dos PP's queixar-se-ia que a ditadura do "politicamente correcto" o impede de o chamar "sidoso".
Primeiro ninguém o impede de nada.
Segundo, se ele quiser chamar "sidoso" e fica mal visto, então que justifique porque é que é errado chamar "portador de HIV seropositivo" e correcto usar um termo descriminatório.
Queixar-se da "ditadura do politicamente correcto" foi uma forma perspicaz da gente de direita se desculpabilizar por dizer as maiores alarvidades racistas, descriminatórias e incorrectas.
política:
s. f.,
conjunto de objectivos que servem de base à planificação de uma ou mais actividades;
-civilidade.
correcto
adj.,
irrepreensível;
honesto;
digno;
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