segunda-feira, 28 de maio de 2007

Mais sobre humanismo e animais não humanos

O debate sobre ética e humanismo continuou com mais uma posta do Ludwig, onde ele nos diz que «nós exigimos que os animais cumpram certos deveres (...) os que não cumprirem são eliminados ou presos». Pois. Acontece que há muitos animais que nós eliminamos sem que tenham faltado a qualquer dever. Os ratos, por exemplo, eliminamo-los pelo simples facto de serem... ratos. E matamos muitos outros animais por nossa simples recreação (os mosquitos, as formigas...). O Ludwig, antes de responder que não deve ser assim, deveria explicar quais são os animais a que reconhece direitos (e porquê). Todos sem excepção? Exclusivamente os mamíferos (formas de linguagem e tal...)? Todos os animais com pêlo (proximidade genética alargada...)? Todos os vertebrados (a dor... a dor...)? Gostaria de saber, até porque aquilo que me interessa saber é quem são os actores deste enredo.
Quanto à reciprocidade, o Ludwig insiste em que podemos conceder direitos a quem não os compreende, e exigir deveres a quem também os não pode reconhecer. Dá o exemplo dos impostos: diz que os cobramos a quem não os compreende. Mas é ao contrário: só cobramos impostos a quem pode compreender para que servem. Não os cobramos a crianças, aos índios da Amazónia ou aos cães. Quanto ao exemplo da velhinha: será que sentimos a obrigação de levar ao hospital todos os cães que vemos serem atropelados? Não? Porquê?
O Ludwig diz ainda que «nós sentimos [um dever] quando obedecemos a uma autoridade ou exigimos [um dever] quando usamos da nossa autoridade». Mas não. Perante as autoridades, temos obrigações e não deveres.
(Ah, e é claro que a «propriedade privada» nada tem de natural; é estritamente cultural.)

3 comentários :

João Branco (JORB) disse...

http://www.fallacyfiles.org/strawman.html

Atenciosamente

cãorafeiro disse...

para mim, esta questão é fácil de harmonizar, se nos afastarmos do padrão mental direitos/deveres, e olharmos para os outros seres vivos, e de forma mais abrangente, para o nosso planeta como um sistema complexo pelo qual os animais humanos tendem a desenvolver um sentimento de responsabilidade, uma vez que é também a acção dessa espécie peculiar quem mais desequilíbrios provoca nos dito sistema.

eu também gosto muito de animais, mas não podemos deixar-nos levar pelo sentimentalismo.

se nos deixamos levar pelo sentimentalismo, então, o que nos move é a nossa necessidade de nos sentirmos bons, e não o respeito que entendemos que os animais, as plantas, as pedras, os oceanos, a terra, nos merecem.

Ludwig Krippahl disse...

Ricardo,

As crianças não pagam impostos? Aquela miudagem dos morangos com açucar recebe tudo líquido e não paga IRS?