«Começou por ser mais um caso público de praxe violenta. No dia seguinte passou a dois. No primeiro caso, um jovem estudante viu-se "imobilizado por colegas mais velhos e alguns começaram a rapar-lhe os pêlos púbicos com uma lâmina de barbear" do que "resultou o rompimento de parte do escroto do caloiro", segundo conta um jornal diário. O outro "para além de unhas negras, resultantes de apanhar com uma colher de pau" sofreu cortes no couro cabeludo com uma tesoura enquanto lhe cortavam o cabelo, segundo outro jornal diário regional. Um apresentou queixa ao Conselho de Veteranos (CV), o outro, junto das autoridades policiais.
José Luís Jesus, dotado do "nobre título" dux veteranorum da Universidade de Coimbra, garante-nos que os agressores "estão devidamente identificados"; que ainda "esta semana serão feitas todas as averiguações"; e que caso tenha havido abusos "o CV vai até às últimas consequências". Além de se fazer passar por uma autoridade para tratar o que as leis normais, iguais para toda a gente, deveriam resolver, este estudante acrescentou ainda, em declarações mais recentes: "já sabemos que é tudo mentira! Se o estudante tem um rompimento no escroto, foi porque fez outra coisa qualquer!" Parece incrível, mas é verdade: as "leis" da praxe são feitas para proteger e fomentar a barbaridade e não precisam de grandes averiguações para "julgar" e tomar as suas "decisões".
Surge então uma pergunta: Que entidade é esta, o "CV", e as pessoas que o constituem, os "duces", que se auto reveste do poder de identificar, averiguar, julgar e condenar situações nas quais não esteve directamente envolvida? O Estado reconhece-lhe esse direito?
É inaceitável que se pense que as pessoas que praticam as praxes podem ser as mesmas a fiscalizar os actos por si praticados, e ainda para mais consideradas idóneas. Como se pertencessem a uma instituição à parte, numa proposta de mundo à parte – a Universidade. É exactamente essa proposta de Universidade-fortaleza, fechada ao mundo, que recusamos.
A sociedade vai perdendo a ilusão de que as praxes não passam de um conjunto de brincadeiras menores e que até é normal que tenham instituições próprias que a regulem. Mas se por algum motivo não tivessem acontecido cortes no escroto ou no couro cabeludo, nódoas negras e hematomas, estes casos teriam sido notícia? O CV consideraria aquela praxe admissível?
O Conselho de Veteranos talvez responda sim a esta pergunta alegando, em defesa dos agressores, que o aluno aceitou ser praxado. E novas questões se colocam: em que condições aceitou ser praxado? Foi de livre e espontânea vontade que avançou para a praxe, com o conhecimento prévio do que lhe poderia acontecer? Não foi persuadido sob nenhuma forma, física ou psicológica (e o motivo da integração adapta-se perfeitamente a este tipo de persuasão) para se submeter à vontade dos praxantes?
Infelizmente, sabemos que a coragem de não aceitar e denunciar estas violências é quase sempre "premiada" com o abandono e a hostilização das vítimas e a cumplicidade com os agressores: o passado recente mostra-nos que os responsáveis pelas escolas e pelo ministério são os primeiros a contribuir para o clima do medo e da impunidade.
O Movimento Anti "Tradição Académica" não aceita esses poderes obscuros e sem qualquer legitimidade e considera que estes casos não são acontecimentos isolados mas que acontecem devido à própria natureza da praxe. Condenamos as violências inerentes às praxes quer se tornem em casos públicos ou não. Apelamos aos estudantes que rejeitem qualquer forma de praxe, bem como todas as imposições e os poderes absurdos de estudantes sobre estudantes disfarçadas de brincadeiras e "tradição". A lei da praxe não vale nada, nem pode sobrepor-se às leis do país e ao convívio entre estudantes sem imposições, sem chefes e sem violências.
Por último, mantemos a expectativa de que o Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Mariano Gago, mantenha o perfil de indignação que já demonstrou relativamente a situações semelhantes, esperando ainda pelo momento em que verdadeiramente coloque na agenda a reflexão e acção sobre este tema. Para ele, como para toda a comunidade escolar e sociedade em geral, desistir e abreviar responsabilidades seria uma atitude inaceitável. Esperemos que, à semelhança do que aconteceu noutros casos como o de Ana Sofia Damião, não seja a própria instituição escolar a querer ocultar o que se passou para manter o bom nome da casa.»
Sítio do M.A.T.A.; comunicado reproduzido a partir do blogue O Bitoque.
Comentário: qualquer aluno violentado numa situação deste género pode e deve queixar-se às autoridades competentes; como essa atitude pode ter custos sociais no meio universitário, seria desejável que as universidades proibissem a realização de praxes dentro do campus universitário. Há quem desista da universidade ou entre em depressão por causa de algumas praxes...
6 comentários :
"Há quem desista da universidade ou entre em depressão por causa de algumas praxes..."
Há quem MORRA por causa de algumas praxes. No ano em que entrei para o Técnico morreu um rapaz, afogado na fonte luminosa.
E os casos que são abafados pelos Duxes? Houve um caso de violação no Porto, em que a violada depois se atirou da ponte da Arrábida. Chegou alguma coisa aos jornais? Nãoo.. O Dux era de medicina aluno há 35 anos(!!) andava armado e pertencia à polícia judiciária e tinha filiações a grupos de extrema direita, abafou tudo...
O que daria em troca? Batia nos esquerdistas e impedia qualquer mulher de entrar no conselho de veteranos... Como é que ele dizia? «No concelho de veteranos só entrará mulher, no dia em que aprenderem a escreveram com mijo o nome numa parede».
Chega da escumalha de traje académico!! Chega de coimbrisses de merda!
Já se sabe que a investigação será inconsequente. A pressão sobre os alunos ofendidos será tal que não há lucidez que resista.
Tesc... Tesc... Tesc... Pois é, meus amigos, o camarada que escreveu esse texto para mim é um idiota, um cretino... Senão, vejamos, erros de escrita – vários - erros factuais – vários. Alias, nem o nome do DUX o cidadão escreveu corretamente, só por informação chama-se "João" e não José...
Mas o que vocês afinal querem? Acabar com a tradição? Vamos ser homogeneizados e perdermos toda e qualquer identidade cultural? Ou será que o buraco é ainda mais embaixo, querem acabar com as tradições que não vos interessam para aplicar as sórdidas e demoníacas tradições Stalinistas? Eu já ouvi muito anti-praxe a dizer – Abaixem a guitarra Portuguesa, viva a balalaica!
Um camarada que se declare anti-praxe não passa de um desocupado fascista de esquerda travestido de protetor dos desvalidos.
Se vocês não gotsam de Praxe, não participem nela e pronto!!
Agora vir aqui dizer mentiras que parecem saídas de filmes e confundir Praxe com actos de pura violência é uma cena um bocado infantil e parva!
Pois... Realmente não devemos confundir as coisas, mas vejamos, se todas os "praxantes" percebessem essa diferença, entre praxe e actos violentos, não seria necessário andar a escrever sobre ela, se todos pensassem de maneira igual não havia queixas d alunos e humilhaçoes que já se fizeram à minha frente. portanto vamos deixar de dizer asneiras e perceber que nem todos pensam da mesma maneira e que se realmente não houvesse violência nas praxes elas não tinham sido banidas de algumas faculdades.
se conseguirem que todos os veteranos pensem na praxe como integração dos alunos, então aí sim, viva a praxe, senão... fica ao critério de cada um pensar neste assunto.
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