sábado, 19 de maio de 2007

Caçadores de Tesouros

Enquanto estou a escrever isto há uma empresa a espatifar naus portuguesas em Moçambique para vender as porcelanas e os lingotes de ouro, e o que quer que se encontre e valha algum dinheiro. Há muitos anos que eles andam por lá e eu já desisti de suplicar ao governo português que faça alguma coisa para proteger o património português no mundo. Nunca encontrei uma nesga de simpatia para a minha causa em nenhum dos organismos do Ministério da Cultura relacionados com a arqueologia.

Ninguém se parece incomodar com esta situação. Provavelmente porque quase ninguém percebe que as naus portuguesas que nos séculos XVI e XVII faziam a Carreira da India eram o equivalente do Space Shuttle do século XX. Ou porque quase ninguém percebe quão pouco se sabe sobre estes navios, sobre as pessoas que os pensaram, construíram, navegaram, habitaram, etc.

Há menos de um ano um arqueólogo português perguntou-me porque é que eu ainda andava a estudar a nau que ajudei a escavar em São Julião da Barra entre 1996 e 1998 e cuja reconstrução do casco foi a base do meu Ph.D. Eu perguntei-lhe se tinha lido algum dos meus livros ou artigos – onde se explica quanto é que nos falta saber sobre estes navios enormes, estas máquinas formidáveis – e ele, obviamente, não tinha.

Mas tinha uma opinião absolutamente definitiva sobre a minha competência e a relevância do meu trabalho. :)

Isto são os meus colegas. Imagine-se os políticos e os jornalistas.

6 comentários :

Anónimo disse...

E que tal um artigo sobre as naus?

Filipe Castro disse...

Aqui acho pouco indicado. Mas tenho imensos aqui: http://nautarch.tamu.edu/shiplab/IndexFCBiblio.htm

Xiquinho disse...

Acho despropositada toda esta preocupação com as naus, ao mesmo tempo que se ignora completamente a tragédia que se vive em Darfur. O número de mortes já ultrapassa os 400.000 e a selvejaria e barbaridade da limpeza étnica não para de aumentar e apanhar os restos dos filhos, e pais e mães e etc... Os portugueses não estão isentos de culpa pois se tivessem estendido o seu império colonial de Moçambique até ao Sudão certamente que nada disto se passaria. Mas os maiores responsáveis são concerteza os touros sudaneses que nem para para tourada servem, caso contrário já teriamos a Vasco da Gama a rumar ao Sudão para defender esse magnifico legado koltural que dá pelo nome de tourada.

Filipe Castro disse...

:)

Anónimo disse...

Estive para lhe perguntar sobre a Nuestra Señora de las Mercedes, se era verdade ou mentira a história do tesouro prodigioso. Afinal tem um artigo justamente sobre isso.

Anónimo disse...

«Existe contudo um denominador comum nestes dois casos (que não são os únicos, infelizmente): a aceitação sem reservas da existência de um tesouro fabuloso e a sua quantificação inexplicavel e absolutamente acrítica pelos jornalistas.»