segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O negócio das "notícias"

O governador do Texas foi reeleito há 15 dias (com 18% dos votos) e já foi à FOX exibir a estupidez calosa e ignorante dos imbecis que o elegeram, e insultar a inteligência e o bom gosto do resto do estado com declarações obrigatoriamente idiotas e absolutamente desligadas da realidade, para atrair a atenção da populaça.

As televisões têm de vender magotes de espectadores às empresas que fazem os anúncios e para isso precisam de atrair a atenção dos bovinos que a vêem. E isto é cada vez mais difícil num país com 24 horas de televisão e noticiários de 15 em 15 minutos.

"Alertas" e "breaking news" e escândalos e tragédias têm de ser inventados de raiz todos os dias. Mostrar a realidade seria impensável. Ninguém quer ser confrontado com a realidade. Como a definia Hunter S. Thompson tão eloquentemente: [a América é] a nation that has given so much to those who preach the glories of rugged individualism from the security of countless corporate sinecures, and so little to that diminishing band of yesterday's refugees who still practice it, day by day, in a tough, rootless and sometimes witless style that most of us have long since been weaned away from.

Os políticos e os cronistas americanos são assim obrigados a entrar todos os dias no concurso das enormidades e tentarem dizer a coisa mais estúpida ou mais delirante da semana.

A vida na América é assim um inferno para quem, como eu, não nasceu aqui e não está, portanto, imunizado. E dou comigo com saudades da velha Europa e daquela extraordinária virtude social que é a hipocrisia: na Europa os canalhas e os aldrabões roubam e matam com protestos de estima e consideração. O papa preside à associação mundial dos pedófilos mas jura que adora criancinhas. O Jorge Coelho é o capo da camorra portuguesa mas jura que se pauta sempre por princípios de integridade irrepreensíveis. O PP é um coito de debochados sem vergonha que vão à missa todos os domingos. Ou seja, os criminosos europeus não questionam a ordem nem os valores: dos aldrabões de feira aos criminosos profissionais, todos nos garantem que é feio roubar aos pobres, bater nos cegos, cuspir para o chão, etc.

Aqui não! Os Santanas Lopes americanos vão à televisão defender a mesquinhez como uma virtude social e recomendam a ganância e a violência gratuita com passagens da Bíblia.

Acho que foi o Jacques Derrida que escreveu sobre a "responsabilidade absoluta" (sabermos que escolhemos ajudar este e abandonar aquele por razões absolutamente pessoais). Estes animais pregam a irresponsabilidade absoluta. A "anarquia" dos "libertários" é o mundo sem governo onde mandam os oligarcas que eles representam. A América é o inferno na terra.

3 comentários :

Ricardo Alves disse...

Estás a ter «segundos pensamentos» sobre pedir a nacionalidade?

O Eleitorado Morre Mas Não Se Rende disse...

o inferno na terra?

isso é falta de capacidade de observação?

Filipe Castro disse...

Não, não é falta de observação. São mais de 10% dos habitantes do país mais rico do mundo que são repugnantemente mesquinhos e fussões, uns alarves que fazem um movimento para exaltar o egoísmo e a ignorância e a ganância mais boçais. São uns animais destituídos de humanidade: 30 milhões de doutores arrojas que querem gozar as autoestradas mas não querem pagar impostos...

O inferno da peça do Sartre (Huis Clos) é isto mesmo: um grupo de boçais sem educação, que não percebem que dependemos TODOS uns dos outros.