terça-feira, 9 de novembro de 2010

FIM

Os juros da dívida portuguesa ultrapassaram esta manhã os 7%, o limite fixado por Teixeira dos Santos para chamar o FMI. E agora?

8 comentários :

Miguel Carvalho disse...

comentário lateral...
não percebo onde esta gente vai buscar os valores. citam sempre a bloomberg, mas segundo a bloomberg, os juros estão neste momento abaixo dos 6,8% e nem ultrapassou os 6,9% durante o dia.
http://www.bloomberg.com/apps/quote?ticker=GSPT10YR:IND

enfim, isto é um pormenor irrelevante

João Vasco disse...

Parece que o anúncio de que a China estaria interessada em comprar a nossa dívida não teve qualquer impacto nos mercados.

Alguém especula porquê? Será que o anúncio não é para levar a sério? O que se está a passar?

Ricardo Alves disse...

O que se está a passar, especulo eu, é que há uns homenzinhos invisíveis que estão a ganhar dinheiro com isto e que querem levar-nos à bancarrota. Mas deve ser uma teoria de conspiração...

Ah, e não se confirmou que os chineses vão comprar a nossa dívida. Só a EDP e o BCP, por enquanto.

João Vasco disse...

Ricardo,

Nos mercados, um anúncio normalmente já tem impacto no preço.

Por exemplo, se há algo que vale 5, mas existe a possibilidade de alguém comprar a 6 (vamos supor que essa possibilidade é estimada em 10%), então comprar a 5,05 já é um bom negócio; pois o valor esperado de venda é 5,1.

Na dívida funciona ao contrário, mas a lógica é a mesma. Mais compradores deveriam descer os juros; e o anúncio da possibilidade de uma grande compra deveria ter um impacto significativo na altura de baixar os juros. E quem não comprasse a um valor ligeiramente mais baixo estaria a perder a dinheiro; perder a oportunidade de emprestar a um juro alto a alguém cujas possibilidades de entrar em deffault diminuiram significativamente.

Não estou bem a perceber como é que este movimento especulativo está a funcionar. Se os juros estão sobreestimados face à nossa capacidade para pagar (o que, pelo que vou lendo, parece mesmo ser o caso) como é que não existe quem queira ganhar dinheiro comprando a nossa dívida, fazendo baixar os juros. Não por altruismo, mas por ganância. E os juros do BCE tão baixos, ainda por cima. De que é que estão à espera??

Há algo que não estou a perceber.

Miguel Carvalho disse...

João,

Embora a tua intuição sobre a entrada de investidores (sem mais) no mercado esteja correcta (levaria pelo que dizes ao aumento do preço, ou seja aumento da taxa de juro implícito), na realidade isso é tão simples..
Primeiro há muitos títulos espalhados por esse mundo fora, o que não falta é disponibilidade de venda. Segundo, um novo investidor pode entrar para vender, em vez de comprar, é o chamado short selling: venderes o título que só comprarás mais tarde.

O mesmo se aplica ao aumento do crude e dos cereais há uns anos, onde havia quem acusasse os especuladores de fazerem subir o preço. A especulação pode sempre funcionar nos dois sentidos.

João Vasco disse...

Miguel Carvalho,

Vamos supor que um determinado bem está subvalorizado. Há dinheiro a ganhar em comprá-lo, por isso é estranho que não o façam.

O facto de se poder vender esse bem sem o ter (contra promessa de compra futura - ficando com esse bem em negativo) não ajuda; pois quem vende um bem subvalorizado está a perder dinheiro, quer disponha do bem, quer não.


Claro que se Portugal entrar em deffault, quem vendeu o que não tinha acaba por ganhar. Mas para o fazer é preciso ter MESMO boas perspectivas de que Portugal entre em deffault - o que me parece bizarro - porque basta Portugal não entrar em deffault para esse negócio ser péssimo. E todos os que acreditam ser pouco provável que esse fim derradeiro surja estão a abdicar da oportunidade de anhar dinheiro à custa de quem aposta na nossa queda, por assim dizer.

E nisto tudo o anúncio da possibilidade da entrada da China na equação deveria alterar o equilíbrio no sentido de haver mais dinheiro a ganhar na compra da dívida, fazendo descer os juros. Não apenas pela diminuição da probabilidade de deffault, mas pela própria relação procura-oferta.


A analogia que estabeleceste com a especulação em torno do petroleo é um bom exemplo - muitos ficaram a arder com petroleo comprado a preços caríssimos, e não se entende, se havia a convicção de que o preço estava sobrevalorizado porque é que nesse caso não havia mais gente a fazer short-selling para baixar o preço, ganhando muito dinheiro pelo caminho à custa dos tais "especuladores".

eu entendo a motivação para a especulação. Eu, gestor, compro sobrevalorizado, vendo ainda mais sobrevalorizado e ganho bónus. Se tiver um azar tremendo e isto vai abaixo, quem perde é o accionista (ou o contribuinte...).

O que não entendo é a ausência de movimentos no sentido oposto. "Compras sobrevalorizado? Então deixa-me lá vender-te".

Miguel Carvalho disse...

João,
eu não estava a falar da situação actual, não estou a afirmar que deveria descer, subir ou seja o que for.
Pareceu-me (se calhar erradamente) que afirmavas que mais especuladores levaria obrigatoriamente a juros mais baixos. Apenas quis fazer ver que ter mais especuladores pode ter ambos os efeitos.

Ricardo Alves disse...

Parece que entretanto desceram:

http://economia.publico.pt/Noticia/juros-da-divida-rondaram-os-sete-por-cento-antes-de-baixarem_1465116