segunda-feira, 20 de abril de 2009

As distorções que as quotas agravaram

Ao contrário da maior parte da esquerda, sou contra as quotas. Nas actuais eleições, a quota obrigatória de mulheres (33,3%) distorce a lista do PS (onde as duas primeiras mulheres elegíveis serão candidatas às câmaras de Porto e Sintra), e distorce agora a do PSD (onde se assume que as duas primeiras candidatas sairão imediatamente após a eleição). Fazer leis é bonito. Contorná-las na primeira oportunidade mostra o quanto nelas se acreditou. Não seria melhor investir em combater a discriminação das mulheres no mundo laboral?

7 comentários :

nuno vieira matos disse...

Por princípio também seria contra mas por questões práticas sou a favor. Infelizmente, as quotas são o meio necessário para acelerar um processo que demoraria muito mais tempo. Podemos sempre afirmar que em vez de meritocracia teremos qualquer outra coisa. Contudo, em boa verdade, este argumento implica que existe igualdade de oportunidades entre géneros o que não acontece (para não alongar basta lembrar que, em média, uma mulher na mesma posição profissional ganha menos que o homem).

Por fim, os exemplos que me mostra são argumentos a favor das quotas e não contra pois demonstram, mesmo que por absurdo, que existe machismo na forma de fazer política. A vergonha é dos partidos que recorrem a cosmética eleitoral.

Denunciar o esquema e não as quotas!

Ricardo Alves disse...

Nuno Vieira Matos,
o primeiro problema é que as quotas foram introduzidas prometendo que isso significaria um aumento da proporção de mulheres nos cargos cimeiros da política, e que, no fundo, isso se traduz somente num aumento «cosmético» da proporção de mulheres (porque só entram nas listas, depois saem para outros cargos quaisquer - há poucas mulheres na política, têm que dar para tudo).
O segundo problema - e o problema principal - é que as quotas não resolveram nenhum dos problemas fundamentais das mulheres: concretamente, a discriminação nas empresas e nos salários. Pelo contrário, disfarçaram esse problema com uma retórica que não conduziu a nada - a não ser cosmética.

nuno vieira matos disse...

Ricardo,

"traduz somente num aumento «cosmético» da proporção de mulheres": O facto de haver lei de quotas e esta não ser respeitada põe a nu todos esses problemas. Colocar o assunto na tábua da discussão pública é fundamental.

"as quotas não resolveram nenhum dos problemas fundamentais das mulheres": nunca foi apanágio das quotas resolver per si os problemas fundamentais das mulheres. Antes, quer criar um movimento nesse sentido com a política a tentar dar o exemplo (se dá ou não então temos um problema da qualidade dos políticos em Portugal). Em alternativa ouviremos sempre a lenga-lenga do "se eles [os políticos] não o fazem, porque o faremos nós?". As quotas não são a solução mas antes devem fazer parte de um pacote de medidas de incentivo à não discriminação.

Volto a lembrar que por princípio sou contra as quotas mas tal apenas se aplicaria no caso de igualdade de oportunidade entre géneros.

Ricardo Alves disse...

Nuno Vieira Matos,
as quotas foram uma medida meramente cosmética para aliviar a má consciência de alguns partidos. Nada resolveram quanto aos problemas (bem reais) das mulheres no mercado de trabalho.

A maneira como as quotas estão a ser preenchidas (com mulheres que depois transitarão para outros lugares) é uma prova de como as quotas foram uma medida meramente cosmética. E que introduz distorções/falsidade/falta de representatividade nas listas.

nuno vieira matos disse...

Ricardo,

Não concordo que na génese da lei estivessem considerações meramente cosméticas mas uma real vontade de dar o exemplo para a iniciativa privada (não tanto de impôr cotas mas mostrar que elas também devem ser consideradas).

O facto de que os grandes partidos fazem jogos políticos com as quotas só demonstra que, em Portugal, something has to change. Bem que era que na altura de votar, o ou a votante demonstre o seu desagrado por esta forma de fazer política.

Contudo percebo que esta lei seja apenas de cosmética se não houver outas medidas para fomentar a igualde de género. Por isso acho que o ataque deve ser à falta de outras medidas ao invés de ser contra a única "in place".

Anónimo disse...

Caro Nuno Vieira Matos

«Podemos sempre afirmar que em vez de meritocracia teremos qualquer outra coisa.»Em princípio, nada obsta a que se mantenha um regime de meritocracia - uma vez que é obrigatório preencher quotas, preencher-se-ia com base no mérito.

Seria justamente o reconhecimento desse mérito por parte da população que aceleraria o progresso para a igualdade social. De facto, não vejo outra forma de acelerar esse processo. Só mesmo exibindo mérito.

Portanto mérito e quotas não são incompatíveis.

Outra questão é saber se isso está a funcionar... Suspeito que haja outras formas de garantir igualdade. Candidaturas cegas, proibição da contratação com base no género, etc.

Filipe Castro disse...

Eu concordo com o Nuno Vieira Matos. As quotas mudam a paisagem e forçando situações mais justas e mais equilibradas tornam-nas possíveis.