Valeu a pena despenalizar a IVG, quanto mais não seja porque as complicações derivadas de abortos clandestinos diminuiram significativamente nos hospitais públicos. É um indicador, seguro, de que a IVG clandestina está em vias de desaparecimento, e mais uma confirmação do que ganha uma sociedade quando abandona os dogmas de origem religiosa que só complicam a vida das pessoas.
Em defesa dos chulos
Há 1 hora
22 comentários :
não sabia que o direito à vida é um "dogma de origem religiosa que só complica a vida das pessoas"...
são uma chatice estas complicações. proponho a reinstauração da pena de morte para acabar com a população prisional, que é malta complicada. seguidamente, a morte de pessoas com deficiências, porque só de pensar na complicação que é tratar delas... claro que isto se estenderia aos idosos, que poderiam ser deixados na serra da estrela com uma manta, como os antigos gregos faziam com os seus velhotes, descomplicando assim a situação.
e pronto: restaria apenas a população activa e forte, e poderíamos passar à conquista do nosso espaço vital.
onde está a esquerda que enfrentava as complicações de caras em vez de fugir para a solução mais fácil?
As quase 29000 crianças abatidas nos ventres de suas mães também devem achar que valeu a pena...
A solução mais fácil era fingir que o aborto não existia porque era clandestino. Por vezes, há que enfrentar a vida e fazer escolhas difíceis. E o aborto, sendo tirar «vida» (eu acho que é), não deixa de ser, em alguns casos, o mal menor.
Nalguns casos será. Mas 29000 em cerca de 100000 nascimentos é mal menor a mais. E olhar para estes números e congratular-se com o que quer que seja é, no mínimo, um exercíco mórbido.
Nuno Gaspar,
a diminuição das infecções e perfurações do útero é «mórbida»? Queria que continuassem mulheres a ficar estropiadas por abortar?
"A solução mais fácil era fingir que o aborto não existia porque era clandestino"
a solução mais fácil, tanto para o estado como para os cidadãos, é exactamente a liberalização do aborto: se é legal, não há preocupações para ninguém.
a solução difícil é assumir a responsabilidade dos nossos actos (porque havia casos especiais previstos na lei para as violações).
o extremo do facilitismo a que chegámos é já nem ter que responder pelas nossas acções.
«se é legal, não há preocupações para ninguém»
Se é legal, há preocupações para quem faz e para quem vê fazer. Quando era ilegal, estava o problema «resolvido» da pior forma: «clandestinizado».
Voltamos ao problema da gravidade do mal. Não se resolve um mal com outro mal ainda maior. E falta saber quantas perfurações ocorriam, se eram 29000, 20000, 10000, ou meia dúzia e demonstrar que não existia outra forma de as evitar que não a liberalização e vulgarização da prática do aborto.
Nuno Gaspar,
entre obrigar uma mulher a ser mãe contra vontade, e fazer um aborto no primeiro trimestre, qual é o mal maior?
Entre matar uma pessoa e obrigar uma mulher a ser mãe contra vontade (seja lá o que isso for) prefiro a segunda.
Nuno Gaspar,
se acha que um aborto no primeiro trimestre é «matar uma pessoa», defende portanto uma pena de homicídio para esses casos?
Onde é que viu isso!
Não defendo uma pena de homicídio. Mas acho que não podemos considerar o acto de abortar tão natural como beber um copo de água.
Eu também acho que não deve ser considerado algo de trivial. Mas se o Nuno acha que é «matar uma pessoa», deveria pedir uma pena de homicídio. Qual é a diferença entre o aborto e um homicídio, na sua opinião?
A diferença não é muito nítida. Mas a penalização pode ser outra. Se você também acha que não deve ser considerado algo trivial porque o Ricardo diz que «valeu a pena» aprovar uma lei que o trata como tal?
Nuno,
é evidente que um aborto não é como tirar as amígdalas. Eu acho que no terceiro trimestre, por exemplo, deve ser penalizado. Porque vejo a diferença entre um aborto aos nove meses e um infanticídio como pequena (embora existente). Agora, entre matar um adulto e fazer um aborto no primeiro trimestre, vejo grande diferença.
Quanto ao seu ponto de vista, continuo sem o compreender. Se a diferença «não é muito nítida», porque defende «outra penalização»?
Então qual é a diferença entre interromper uma vida com 30 anos de idade e outra com 3 meses de idade?
A penalização pode ser outra ou até nem se justificar porque podem existir atenuantes; por exemplo, a gestação pode pôr em risco a vida da mãe.
Uma vida com 3 meses de idade não sobrevive fora do útero da mãe. A diferença principal é essa. No limite, se a mãe morrer, não há incubadora que salve a «vida» adjacente.
E uma bébé recém-nascido? Sobrevive sem os cuidados da mãe? Ou de quem a substtitua? E um indivíduo ligado a um ventilador? E um idoso acamado? É que há muitos estádios em que a nossa vida depende completamente de outros. Será igualmente legítimo interrompê-la nesses momentos?
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Uma criança recém-nascida pode ser entregue a uma instituição. Um feto no primeiro trimestre não pode ser «entregue» a ninguém. A diferença é essa.
Não vejo diferença. Ambas estão dependentes de alguém. O que agrava as responsabilidades de quem se está a depender. A ninguém assiste o direito de interromper a vida seja de quem fôr.
Muita gente ainda não se apercebeu do equívoco moral que esta lei representa. Mais tarde ou mais cedo, a discussão tem de voltar à ribalta.
Sim, um feto está dependente de «alguém», e um recém-nascido está dependente de «alguém». Mas no caso do recém-nascido, o «alguém» pode ser qualquer um, e no caso do feto é uma única pessoa.
E repito, não conheço ninguém que atribua a mesma gravidade a um aborto no primeiro trimestre e ao homicídio de uma pessoa adulta. O próprio Nuno Gaspar admite que há uma diferença, porque não defende que ambas as situações sejam castigadas da mesma forma. Já pensou porque é que considera essa diferença?
Já lhe disse. O feto pode, por exemplo, por em causa a vida da mãe. O aborto pode ser uma acção de legítima defesa. Mas isso são circunstâncias excepcionais. Não acontece, concerteza, nos quase 29000 casos anunciados.
A principal razão porque penso podem existir penas diferentes para um aborto e um homicídio de um adulto estará ligada à compaixão por quem o pratica. Em alguns casos a mãe não terá consciência que interrompe uma vida humana com tanto direito a existir como nós. E a lei que você defende também não as ajuda a compreender isso.
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