Bombardeadas à esquerda e à direita com anúncios, e fartas de serem enganadas (99% da publicidade é enganosa) as pessoas criam filtros e desligam cada vez que um 'marketer' lhes desata a gritar mentiras aos ouvidos sobre um detergente que restitui as cores das roupas, uma pasta de dentes que os faz mais brancos, um cereal que faz os anões crescerem, uma marca de cerveja que transforma os desdentados em sex symbols, etc.
A maioria das toneladas de papel que nos enfiam entre os jornais e as revistas, ou as que nos enfiam directamente na caixa do correio vai para o lixo sem ser sequer aberta. Os envelopes a anunciarem que ganhámos um carro, uma fortuna, um lingote de ouro, ou que fomos pré-seleccionados para recebermos umas férias absolutamente grátis algures são ignorados por todas as pessoas com um QI acima de 60. Os telefonemas a dizerem que ganhámos um telemóvel desligados na cara das telefonistas.
Se nos serve de consolo, a vida dos miseráveis que nos atormentam com mentiras sobre detergentes e marcas de whiskey não é fácil.
Os psicólogos que trabalham em publicidade levam uma existência ignóbil a estudarem maneiras de vender as porcarias todas que as empresas nos impingem.
Uns agora resolveram que a melhor ideia para tornarem os mais estúpidos entre nós em consumidores compulsivos era incorporarem as marcas de roupas em programas de televisão sobre música rock e tentarem vender os produtos em pacotes, associados a um estilo de vida que eles próprios inventam e reinventam em programas sobre as coisas de que "os jovens" supostamente "gostam".
Outros metem, por exemplo, roupas de uma determinada marca num jogo de computador on-line e sujeitam as crianças a modelos, cores e logotipos que elas depois reconhecem quando passam pelas montras das lojas nos centros comerciais.
Outros ainda metem publicidade subliminar na internet.
Outros põem uma mulher quase nua num cartaz e depois anunciam qualquer coisa: funciona sempre. Pelo menos com homens e com lésbicas esfaimados por uma boa...
A baixeza e a agressividade descarada dos 'marketers' não têm limites.
Os 'marketers' fazem qualquer coisa por dinheiro, descem a qualquer nível, cometem qualquer crime. Com os tele-evangelistas, os 'marketers' são hoje em dia indisputadamente os seres mais ignóbeis e mais desprezíveis dos EUA. Desprovidos de consciência e de coluna vertebral, são capazes de qualquer coisa por dinheiro e as pessoas tratam-nos como os répteis que eles são.
Em Portugal não. As pessoas mandam anúncios umas às outras por email, como se fossem obras de arte.
A falta de sentido crítico dos portugueses é proverbial e proporcional à crendice supersticiosa dos indígenas. Portugal deve ser o único país do mundo civilizado em que os bispos benzem as pontes (o resto fá-las construir por engenheiros competentes).
Mas obrigar os alunos a verem e a "estudarem" anúncios na escola pública está abaixo de tudo o que já vi e li.