Parece que eu e o Miguel Botelho Moniz não nos conseguimos entender. Apesar de eu lhe ter perguntado explicitamente o que é a «liberdade económica» dele («A "liberdade" de não pagar impostos? A "liberdade" de pagar salários baixos? A "liberdade" de despedir mais facilmente?) continua sem o explicar, e prefere entreter-se a debitar nomes e a acusar-me de «[ter] uma visão colectivista de “cidadãos”» e de aceitar «um conceito de “vontade geral” e de sujeição do indivíduo à mesma». Como a discussão começou a propósito de Raúl Proença, talvez valha a pena citá-lo novamente:
Em matéria de política, há muito que deixei de ter ilusões sobre «sociedades perfeitas» e «pessoas puras», e por não ter essas ilusões não me surpreende que os políticos não cumpram as suas promessas eleitorais ou que cedam aos seus interesses pessoais. Simplesmente, a boa e velha democracia parece-me uma melhor defesa contra esses «azares da vida» do que o «liberalismo» de alguns, que me parece ser, mais do que uma preocupação com a liberdade individual, um discurso quase exclusivamente preocupado com a crítica da democracia. É que o banqueiro e o sem-abrigo não são igualmente livres...
- «(...) é preciso proclamar com toda a energia que nunca um verdadeiro democrata pode reconhecer ao Estado qualquer poder absoluto sobre o indivíduo. O que é o Estado para ele, efectivamente, senão um instrumento destinado a permitir ao indivíduo uma vida verdadeiramente livre e digna do homem? A democracia visa servir o indivíduo e não oprimi-lo. (...) Seja, porém, como for, a primeira verdade a pôr em evidência é que é no direito individual, e não no direito do número, que reside a essência da democracia. (...) se a unanimidade fosse condição imprescindível da criação do direito, estaríamos dentro da mais pura democracia, mas fora da vida. (...) Quanto à pretensa vontade geral (...) é uma concepção mística que desconhece a contingência de toda a vontade e se revela apta a constituir-se em razão justificativa de toda a espécie de tirania.» («Da necessidade prévia de defender a democracia das suas aberrações», Seara Nova nº158, 25 de Abril de 1929)
Em matéria de política, há muito que deixei de ter ilusões sobre «sociedades perfeitas» e «pessoas puras», e por não ter essas ilusões não me surpreende que os políticos não cumpram as suas promessas eleitorais ou que cedam aos seus interesses pessoais. Simplesmente, a boa e velha democracia parece-me uma melhor defesa contra esses «azares da vida» do que o «liberalismo» de alguns, que me parece ser, mais do que uma preocupação com a liberdade individual, um discurso quase exclusivamente preocupado com a crítica da democracia. É que o banqueiro e o sem-abrigo não são igualmente livres...
1 comentário :
Ricardo, onde encontro o texto "da necessidade prévia de defender a democracia das suas aberrações" de Raúl Proença?
Aguardo resposta,
Alfredo Chaia
(alfredochaia@hotmail.com)
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