Pode alguém ser quem não é? No Carnaval, há muitos que tentam parecer quem não são.
A máscara do governo é não deixar pôr máscara de Carnaval. Não dar tolerância de ponto aos funcionários públicos passa por “austeridade” para troika ver, quando se sabe que na realidade o impacto na produtividade será irrelevante. A máscara de Cavaco Silva é a pior das máscaras que um Presidente da República pode colocar, a de rei inatingível e alheio aos problemas do povo. À frente do corso, finge não ouvir a multidão. António José Seguro hesita entre colocar a máscara da oposição e a da austeridade sofrida. Há outros, que o leitor poderá apontar. Os mascarados não nos divertem nem (suspeito) se divertem. É um Carnaval triste. Os únicos que se dão ao luxo de não colocar máscaras são os que têm real poder. Merkel, que já não finge preocupar-se com a Grécia. Ou Putin, que grita que vai rearmar a Rússia. Ou os empresários que fogem aos impostos transferindo os seus negócios para outros estados. Ou ainda o novo cardeal dos católicos que causa escândalo ao falar, sem máscara, da concepção genuinamente católica do lugar das mulheres. As máscaras, por um dia ou por uma vida, tentam convencer-nos de que não somos quem somos. Até ao dia em que caem. Que venha depressa.
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