«Quando no final da cerimónia em que recebeu a Medalha de Mérito Municipal Grau de Ouro, "como reconhecimento da Câmara Municipal de Lisboa pela sua brilhante carreira", o escritor brasileiro Rubem Fonseca foi à varanda da República, do alto da Praça do Município levantou o braço e brincou: "Portugueses, proclamo a Nova República!"», escreve o Público.
Felicito a Câmara Municipal de Lisboa pela decisão de homenagear este extraordinário escritor brasileiro, para mim o melhor escritor vivo de língua portuguesa. Escolhi um texto de Rubem para iniciar a minha participação num dos blogues portugueses "clássicos". Reproduzo-o parcialmente aqui:
Há oito anos como hoje, leio o Rubem Fonseca e fico sem palavras. Recomendo vivamente.
Felicito a Câmara Municipal de Lisboa pela decisão de homenagear este extraordinário escritor brasileiro, para mim o melhor escritor vivo de língua portuguesa. Escolhi um texto de Rubem para iniciar a minha participação num dos blogues portugueses "clássicos". Reproduzo-o parcialmente aqui:
Para livros de polícia (mais do que meros livros policiais) não conheço melhor autor do que Rubem Fonseca.
Peguemos em Agosto (1990), edição portuguesa da D. Quixote. A personagem principal é o comissário Mattos, verdadeiro alter-ego de Fonseca, que foi policial antes de ser escritor.
Algumas das teses de Mattos sobre o papel da polícia podem ser extraídas dos diálogos com os seus assessores. Por exemplo:
"«Marido e mulher? Você vai dar um flagrante no sujeito apenas porque ele deu uns sopapos na mulher?»
«Exactamente por isso. O facto de ser a mulher dele para mim é uma agravante.»
(...)«Eu olhei a mulher e não vi nenhuma marca de lesão. (...) Garanto que a mulher vai ficar contra nós.» (...)
«Todo mundo é contra nós, sempre.» (...)
Autor, vítima, advogado e escrivão esperavam pelo comissário.
«Então, doutor? Tudo resolvido?»
«Tudo. Vamos continuar o flagrante.»
«Doutor, meu cliente foi impelido por relevante valor moral, logo em seguida à injusta provocação da vítima. (...) Ela está arrependida, sabe que errou, pediu desculpas, o senhor não ouviu? (...)»
«Esse crime é de acção pública, não me interessa a opinião da vítima. Vamos continuar o flagrante.»
«Doutor, ela chamou o meu cliente de broxa [impotente]. Algum marido pode ouvir a própria esposa chamá-lo de broxa sem perder a cabeça? (...)»
«Ninguém mais autorizado a chamar um sujeito de broxa do que a própria mulher.» (...)
O flagrante foi lavrado, assinado (...). Mattos tirou um Pepsamar do bolso, enfiou na boca, mastigou, misturou com saliva e engoliu. Ele cumprira a lei. Tornara o mundo melhor?"
Há oito anos como hoje, leio o Rubem Fonseca e fico sem palavras. Recomendo vivamente.
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