terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

No século XXI, a liberdade e o individualismo são o ópio do povo

Um texto bem interessante e atual de Manuel Maria Carrilho. Destaques meus:

Sentimo-nos, individualmente, cada vez mais livres. Mas, ao mesmo tempo, vamos percebendo que, coletivamente, somos cada vez mais impotentes. A liberdade não se converte em ação, nem tem consequências no mundo. É este o drama da nossa democracia, e talvez a origem de todos os seus impasses. (...)
Na base da "harmonia" original entre as vertentes política e social da democracia estava a convicção que a liberdade garantida aos indivíduos se transformava naturalmente, ou mesmo automaticamente, em ação coletiva. E que, portanto, um indivíduo mais livre era uma promessa de uma sociedade mais justa.

Ora aqui a deceção não podia ser mais brutal. A liberdade tem efetivamente conduzido a uma cada vez maior emancipação dos indivíduos, mas esta esgota-se num frívolo individualismo dos direitos, cujo âmbito se procura constantemente alargar, em prejuízo do próprio sentido do coletivo ou do comum.

6 comentários :

Ricardo Alves disse...

O teu título parece-me exagerado face ao que o MMC diz no texto.

HORIZONTE XXI disse...

"E que, portanto, um indivíduo mais livre era uma promessa de uma sociedade mais justa."

É e sempre será um conceito universal, só que nunca teve correspondencia porque o individuo nunca foi livre, o que tem é a ilusão de que é livre.

A soberania individual requer conhecimento que conduz a responsabilidade, quando foram essas ferramentas entregues aos individuos????

Sabemos perfeitamente que liberdade avulso significa apenas poder escolher entre piza com queijo ou com cogumelos.

Converter liberdade em acção, resulta perfeitamente nas matérias onde os individuos foram estimulados, é só ver os estádios de futebol ou os concursos para cantores.

Não se pode bombardear a sociedade com valores futeis e individualistas e esperar que brote naturalmente uma acção colectiva.
(Já para não falar no principio da sobrevivencia do mais forte, em que cada individuo é obrigado a ver o outro como um adversário).

Não há colectivo que resista.

Abraço livre

João Vasco disse...

«Sentimo-nos, individualmente, cada vez mais livres.»

O autor perdeu-me logo na primeira linha...

Maquiavel disse...

JV, para a grande maioria é verdade. E por isso demoram tanto a perceber que estäo a ser enganados.

Especialmente è Esquerda é onde encontramos os que já perceberam que esta liberdade é imensamente virtual. Começa por coisas triviais de näo encontrares no supermercados mais do que 20 marcas de batata fritas, quando tu queres é esparregado, e acaba em escolheres entre dois candidatos do sistema, um Democrata e outro Republicano.

João Vasco disse...

Realmente a grande maioria não sabe o que é o ACTA, e muitos não sabem o que é a SOPA ou a PIPA. Mas muitos já terão ouvido falar no Patriot Act, ou na forma como Bush quis ter o poder de torturar alagados terroristas, e efectivamente houve tortura. Muitos sabem que Guantanamo Bay é recente. E alguns saberão que a possibilidade de efectuar escutas sem mandato é recente.

Realmente a grande maioria, porque a isto não é dado relevo, não sabe que este governo de direita quis poder colocar câmaras de vigilância sem passar pela Comissão Nacional de Protecção de Dados. Não sabe que o governo decidiu dar dados biométricos aos EUA de vários cidadãos portugueses, mesmo sem exista qualquer autorização judicial. Não sabe que no SIS foram demitidos aqueles que denunciaram a negociata com a Ongoing, nem que quem vai vigiar as secretas acredita em escutas telefónicas sem mandato do tribunal.
Nem sabem dos polícias infiltrados a tentar provocar desacatos nas manifestações.

E como não sabem, poder-se-ia dizer que se sentem mais livres. Por ignorância.
Mas sentem-se mais livres que quando? Aquilo que me parece é que NÃO se sentem mais livres. Quando digo que vou a uma manifestação as pessoas dizem para «ter cuidado», como se eu tivesse razões parta ter medo. Na verdade as pessoas parecem ter intuído os vários ataques à liberdade, e por isso já desde o Sócrates - que era um menino de couro nos ataques à Liberdade a comparar com este prentenso «"«liberal»"» do Passos Coelho - se falava em «asfixia democrática». E era a Manuela Ferreira Leite - aquela da suspensão da Democracia - quem acusava. Esta ironia só pode ter um significado: as pessoas não se sentem cada vez mais livres. Sentem-se mais livres que no Estado Novo, mas a diferença é cada vez menor...

PS-A ver se escrevo um post sobre isto, sobre os recentes ataques à liberdade, liderados pela Direita.

João Vasco disse...

"menino de coro", quero dizer.