terça-feira, 29 de novembro de 2011

Islândia

Na Islândia os cidadãos acordaram para a necessidade de participação cívica, de participação política.
A sua capacidade de mobilização foi de tal ordem que impuseram um conjunto de políticas às estruturas partidárias, que, além de mudarem o panorama governativo, forçaram-no a tomar políticas que seguem um rumo oposto ao que está a ser seguido na União Europeia. Com que resultados?

A seguinte notícia da revista I é uma excelente ilustração, e por isso a cito integralmente (negrito meu):

«Em 2008, quando a falência de grandes instituições financeiras dos EUA arrastou bancos e países para crises da dívida pública sem precedentes, a Islândia fazia parte desta lista. Agora, quatro anos passados, o país apresenta ao mundo um crescimento económico notável.

De acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Islândia vai fechar 2011 com um crescimento do PIB de 2,5%, prevendo-se novo crescimento de 2,5% para 2012 – números que representam quase o triplo do crescimento económico de todos os Estados-membros da União Europeia – que em 2011 ficarão pelos 1,6% e que descerão para os 1,1% em 2012. A taxa de desemprego no país vai ainda descer para os 6%, contra os actuais 9,9% da zona euro.

Contra factos não há argumentos e nem as agências de rating conseguem ignorar os efeitos positivos das decisões políticas. "A economia da Islândia está a recuperar das falhas sistemáticas dos seus três maiores bancos e voltou a um crescimento positivo depois de dois anos de contracção severa", disse esta semana a Standard & Poor’s, depois de ter subido o rating do país para BBB/A-3 (a Fitch mantém a Islândia com rating "lixo").

Das consecutivas decisões que o país foi tomando – e que continua a tomar – desde 2008 que não há vítimas a registar, a não ser os banqueiros e políticos que levaram à crise da dívida pública. No rescaldo do colapso financeiro, a população compreendeu rapidamente que também tinha a sua quota parte de culpa na iminente bancarrota e preparou-se para apertar o cinto. Mas não da forma como os Estados-membros da UE o têm feito: consecutiva e sem resultados à vista.

A nacionalização dos três grandes bancos islandeses no rescaldo do seu colapso por pressão popular em 2008 e a queda do governo conservador abriu caminho à recuperação. O país continua a pagar o resgate de 2,1 mil milhões do FMI mas esse valor não impede o crescimento económico, potenciado ainda por medidas como a criação de uma comissão constituinte de cidadãos sem filiação partidária que agora é consultada em quase todas as decisões políticas e pela contínua busca e julgamento dos responsáveis pelo estalar da crise. Resultado: para além dos números já avançados, está previsto um crescimento de 2,7% do PIB islandês em 2013.»

Bem sei que é um país pequeno, e talvez por isso tenha sido mais fácil para as pessoas sentirem que podiam tomar o poder nas mãos. Talvez tenha sido mais fácil a mobilização política por essa razão.

Mas, além das barreiras psicológicas, nada impede a mesma mobilização noutros países. Sendo parte da União Europeia, a política dos estados membros está mais condicionada pelos diferentes acordos internacionais estabelecidos, mas é bastante claro que a participação política dos cidadãos ajuda a encontrar os melhores caminhos por entre os condicionalismos existentes. A consequência natural de eleitores informados e participantes é um conjunto de políticos mais capazes e honestos.

Em Portugal sinto que ainda há muita gente a dormir. Muitas pessoas sentem que não é com elas, mas depois pode ser tarde de mais...

5 comentários :

Mea Culpa Mea Maxima Culpa Miserere Dominus Meo disse...

Jão basco a iceland é um país com 300 mil almas e o tamanho de Portugal

tem mais indústria que Lisboa e o vale do Ave juntos

e produz mais microsilica nas blast furnaces que a Inglaterra na década de 90

eu que tiva a infelicidade de escarlatinizar os icelandics
que continuam a ter antibiotics para 300 mil gaijos e gaijas porque exportam bacalhau e direitos de pesca em suficiência

o peixe de sesimbra tamém dá pra pagar os medicamentos a 30 % dos sesimbrões
percebido?

João Vasco disse...

Para a próxima lê o texto até ao fim:

«Bem sei que é um país pequeno, e talvez por isso tenha sido mais fácil para as pessoas sentirem que podiam tomar o poder nas mãos. Talvez tenha sido mais fácil a mobilização política por essa razão.

Mas, além das barreiras psicológicas, nada impede a mesma mobilização noutros países. Sendo parte da União Europeia, a política dos estados membros está mais condicionada pelos diferentes acordos internacionais estabelecidos, mas é bastante claro que a participação política dos cidadãos ajuda a encontrar os melhores caminhos por entre os condicionalismos existentes. A consequência natural de eleitores informados e participantes é um conjunto de políticos mais capazes e honestos.»

Unknown disse...

Numa altura em que se discute a abolição de quatro feriados como solução para a crise sistémica nacional,a proposta em cima da mesa parece pressupôr que a abolição de quatro feriados somada a meia hora extra de trabalho resolverá os problemas de produtividade e competitividade de Portugal.

Porque temos baixa produtividade?
Na minha opinião os principais fatores que deveriam ser objetivo de análise e atuação por parte do Governo são:
- Custos de produção excessivos
- Custos energéticos elevados
- Carga fiscal pesada
- Falta de celeridade processual da Justiça que assusta investidores estrangeiros
- Falta de organização e competência na estrutura empresarial
- Falta de formação dos trabalhadores
- Falta de motivação

Nos países mais competitivos da Europa os colaboradores trabalham menos horas, auferem mais dinheiro e as empresas não só subsistem como proliferam.
Porquê seguir o caminho oposto se todos desejamos estes resultados?
Não acham que devíamos tentar concorrer com a Alemanha ao invés da China?!

Para os trabalhadores portugueses que não concordem com estas medidas e que nelas encontrem apenas a continuidade da prossecução de um ataque a direitos supostamente adquiridos espera-se sequer aumento da sua produtividade individual?

Assumindo esta argumentação como válida, qual o real objetivo na prossecução destas medidas?
Se o impacto positivo será mínimo e ainda assim discutível, quando os fatores que determinariam a correção dos nossos índices produtivos são outros e nem sequer de muito difícil perceção, quando o principal efeito se fará sentir nos mesmos do costume, para quê prosseguir?

A motivação é o motor do comportamento.
Se insistirem no caminho da desmotivação enquanto retiram direitos e simultaneamente apostam no empobrecimento real, assumido e abrupto da população sem se marimbarem nem para as empresas nem para as pessoas, esperam realmente bons resultados?

Caso a resposta seja afirmativa então não tenho qualquer pudor em afirmar que somos governados por uma data de idiotas chapados.

Caso saibam que não terão bons resultados, então assumam de uma vez que estão determinados em cumprir uma qualquer agenda que não a do interesse de Portugal, como até esta data demagógica e desavergonhadamente têm feito.

Numa sociedade pautada pela ética, pela lógica, pelo mérito e pela honra, um Governo que executasse o antónimo do que apregoou deveria ser destituído.
Não sei muito bem que pena aplicar a um executivo que prejudica deliberadamente o Povo que o sufragou...

Não só por ser parte integrada e interessada em todo este logro, também sob o ponto de vista sociológico questiono-me verdadeiramente até que ponto os portugueses se deixam enganar. Interrogo-me até quando o mentiroso e sofrível argumento da inevitabilidade de nos despojar de tudo, até da dignidade, é aceite como meio para nos salvar, sem qualquer protesto indignado e massivo.

Será que na nossa tão jovem e por isso tão frágil democracia teremos tido tempo e arte para, enquanto Povo, termos eliminado a nefasta e derrotista resignação que tão facilmente abre caminho às ditaduras e totalitarismos?

Tenho receio, confesso.
Quando vejo que os portugueses aceitam que tudo lhes roubem e em tudo os prejudiquem sem espírito crítico, sem reflexão, sem aparentemente sequer se importarem, este é, para mim, o estado de espírito de quem vive na subjugação e tudo, inclusivamente a perda da liberdade, é capaz de aceitar.

Esta é a conclusão e isto o que fundamentalmente me preocupa.
Mais do que a condução idiota dos destinos da nação, mais do que o cumprimento de uma qualquer agenda escondida, o que me deixa deveras preocupado é a falta de capacidade de análise, reflexão e reação do meu Povo.

A quem tudo aceita, tudo farão, não duvido.
Não gosto de me colocar nas mãos dos outros mas os meus concidadãos parecem desejar fazê-lo ardente, cegamente, sem qualquer critério.

Podem discordar de mim à vontade. Será incomensuravelmente melhor do que não terem qualquer opinião.

Miguel Carvalho disse...

(Comentário lateral, ao texto do i, não à Islândia)

Os textos do i sobre a Islância deixam sempre muito a desejar.

Lembro-me de um (provavelmente do mesmo jornalista porque tinha o mesmo género) que dizia algo como "na Islândia houve bancos nacionalizados e banqueiros presos, algo que na UE nem se sonha". Ora eu não tenho dedos suficientes para contar o número de bancos nacionalizados e o número de banqueiros presos. E isso só mostra como o jornalista está mal informado.

A linguagem usada neste texto é tudo menos objectiva - mais parece uma crónica. Nem preciso de citar frases, porque todas servem.

O texto mistura alhos com bugalhos, ao misturar Zona Euro e UE, e pela comparação que escolheu. A Islândia sofree com a crise financeira de 2007-2008 - a UE também, mas agora está sofrer de uma segunda crise. Uma comparação mais justa seriam os EUA, Noruega, etc.

E citar o crescimento em 2011 como uma vitória, faz lembrar o nosso querido Álvaro que fala no crescimento de 2013 em Portugal. Depois de decrescer 3% é fácil crescer 1,5% no ano seguinte, porque já havia capacidade produtiva. É apenas uma variação pelo lado da procura.


Enfim. Admiro muitas coisas a acontecer na Islândia (do ponto de vista económico, não do ponto de vista política sobre as quais tenho sérias dúvidas). O texto é que é muito mau.

O TEU FLUVIÁRIO METE ÁGUA CAMARADA disse...

Mas, além das barreiras psicológicas, nada impede a mesma mobilização noutros países.

Falta de identidade regional
(a concentração e a identidade islandesa leva a defesa de propósitos comuns

o excesso de diversidade de propósitos em Portugal e a falta de possibilidade de conciliar os interesses das várias facções

(desempregados funcionários reformados de luxo e de lixo)

torna impraticável uma união

idem para a eurropa do eurro

os egoísmos e a falta de capacidade de cedência (são normais em Portugal e na Europa

Os islandeses reciclaram muitos dos funcionários púbicos e bancários
(que voltaram para actividades no sector agrícola e agro-industrial

Um funcionário que fosse da CGD para capitanear uma traineira

seria desprezado aqui...
percebido?
nã?