terça-feira, 11 de setembro de 2007

Limpeza étnica na baixa lisboeta?

  • «O ideal, explicou Nogueira Pinto ao Expresso, seria deslocar as lojas chinesas para uma «Chinatown» (que, quando era vereadora, propôs que se localizasse entre o Martim Moniz e os Anjos). Não sendo assim, propõe que a autarquia proíba a abertura de novos estabelecimentos destes na Baixa-Chiado. “A Câmara é que dá a licença, pode dizer que a quota de lojas chinesas neste espaço está esgotada.”» (Expresso)

Pois. Os Anjos para os chineses, o Martim Moniz para os indianos, sabe-se lá o quê para os africanos, o Príncipe Real para os gueis, o Intendente para as putas, a Avenida de Roma para os betos, e «etc». Com esta senhora muito de direita, nomeada pelo «socialista» António Costa para «revitalizar» a Baixa-Chiado, Lisboa irá tornar-se uma confederação de guetos devidamente segregados. Como se diz em multiculturalês? Um «mosaico»?

2 comentários :

lorenzetti disse...

Sinceramente não vou à baixa. Adorava, mas não vou. É um pouco como África: tenho medo e calor.

A Baixa -- não confundir com o Chiado, bem mais elegante, embora ainda pouco sofisticado [e foi daí que veio a foto] -- resume-se a lojas decadentes, ruas estreitas e sujas, com carros e sem espaço para pessoas -- e também sem espaço para parar os carros.

Estou-me nas tintas para a ideia de tirar as lojas chinesas da Baixa. Se não fosse pelos acordos da OMC e a Constituição Portuguesa, bem como as boas relações diplomáticas com a China, era e é, sobretudo, porque as restantes não são muito piores.

Tem de agir-se na Baixa.

Mas essa acção não se resume -- nem pode incluir -- a retirada de lojas chinesas da Baixa. Sobretudo para as colocar numa duvidosa 'Chinatown', que seria ainda pior, arriscando-nos a ter um ghetto povoado ou pelo menos dominado por máfias asiáticas sinistras e perigosas, se não para quem lá fosse, para quem lá vivesse ou trabalhasse.

O que é preciso na Baixa -- como de resto no resto de Lisboa e no resto do país -- é limpeza e qualidade.

Limpar ruas e paredes, pintá-las, ter espaço para carros e pessoas, ter transportes públicos decentes, ter segurança nas ruas, e ter lojas limpas, com boa apresentação, produtos de qualidade, atendimento profissional.

Fim às lojas sujas, mal-cheirosas, mal amanhadas, com tudo amontoado, empregados antipáticos e ignorantes e que muitas vezes nem falam português e muito raramente inglês, fim aos preçários feitos à mão em papel de rascunho com canetas de feltro, colocados na rua mesmo para se tropeçar ou ser atropelado ao usar a estrada, fim às montras de mau gosto, à falta de ar condicionado, aos produtos de plástico ranhoso ou que não interessam para nada, às lojas sem multibanco ou que não aceitam cheques, ou que têm sempre tudo esgotado, ou que fecham aos fins de semana ou nas férias, ou à tarde, ou ao almoço, fim às lojas que não fazem embrulhos de presente ou os fazem mal, e aos empregados que nos atendem como se fosse uma deferência ou favor da parte deles...

Parece que só se consegue algo de jeito indo à Carolina Herrera, à Zegna ou à Vuitton na Avenida da Liberdade [e mesmo assim...].

É isto que é preciso mudar, e isto abrange tanto lojas chinesas, como portuguesas, como indianas. Todas. Em Lisboa e fora dela. E nem vamos falar de cafés, bares ou restaurantes... para não perder a sede ou o apetite.

Não pode ser.

Se conseguirmos isto, podemos considerar-nos civilizados. Para já, vou aos saldos de Londres. É que nem sai mais caro...

Ricardo Alves disse...

Obrigado pelo contributo, Lorenzetti.