quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Aquilino no Panteão…

Acho esta polémica divertida, mas lamentável. Primeiro porque não se percebe que o Panteão seja uma igreja católica! Segundo porque, lá por ter reis, o Panteão não pertence aos monárquicos.

Parece que faz muita confusão aos monárquicos, cem anos depois, que haja quem diga que o Aquilino era um dos conspiradores do Terreiro do Paço, mas que a determinação e a coragem dos regicidas Buiça e Costa tornou o papel dos outros co-conspiradores desnecessário.

Matar um pai e um filho é sempre um crime hediondo. Mas Portugal, como todos os outros países do mundo, tem dezenas, senão centenas de heróis que mataram pais e filhos por todo o mundo e eu acho que não nos devemos encarniçar demais contra personagens históricos.

Costa e Buiça eram homens que sofriam com a pobreza e a injustiça, e que deram a vida por um ideal, por um mundo mais justo. A vida!

Idealistas e talvez pouco sofisticados, sabiam o que lhes contavam os jornais: o rei torcia mensalmente o braço ao primeiro ministro para obter dinheiro para pagar as comezainas, as caçadas e as amantes, muitas com casa posta em Lisboa. E depois, em Paris, queixava-se em público, às revistas chiques, que "Portugal era uma piolheira."

A arrogância da nobreza e a insensibilidade dos ricos em relação à miséria e ao desespero dos pobres estão amplamente documentadas.

Julgo que é fácil agora chamar-lhes assassinos, mas nenhum de nós sofreu na carne o que sofreram o Costa e o Buiça, juntamente com os pobres todos que lutaram depois pela instauração da República.

Uma vez, há muitos anos, perguntei a um taxista em Havana se ele gostava do Fidel e do comunismo e ele respondeu-me que comia uma refeição quente por dia e que se sentia protegido. Eu devo ter dito qualquer coisa sobre os comités de defesa da revolução, que espreitavam para dentro das casas e ouviam as conversas na rua, e ele disse-me: “Não percebes: violavam a tua filha e não tinhas a quem te queixar!”

15 comentários :

Anónimo disse...

Filipe,
Qunato a mim este texto já está mais coerente que o anterior.
Mesmo que não perfulhe a sua ideologia, fala de casos concretos e tenta ter uma visão mais abrangente das coisas.`
O "nosso" Afonso de Albuquerque não é tratado da mesma forma pelos lusitanos ou árabes.
O fausto da nobreza não deve ser esquecido.
Quanto a Cuba, a verdade é que também desconfio que a alternativa ao Fidel há de passar entre outras coisas pelos jogos de azar e prostituição.

paulocosta disse...

O que me satisfaz é que o regime democrático com este acto alisa a campa do Salazar.

Ricardo Alves disse...

Excelente texto, Filipe.
Acho que muita gente não sabe o que era a ditadura de João Franco e a monarquia.

Anónimo disse...

E também há de haver muita gente que não deve saber o que foram aqueles 16 anos da I República, em que houve muito mais assassinatos políticos que nos 48 anos seguintes.
Em todo o caso não podemos partir do principio que certas ditaduras justificam outras certas ditaduras.

Pedro Fontela disse...

João Moutinho,

Dada a profundidade das reformas propostas pela primeira república talvez não seja de estranhar que tenha atraído ódios de tantos quadrantes diferentes e que muita da sua instabilidade derive disso mesmo. A estabilidade da ditadura apenas proteje alguns enquanto suprime e oprime todos os outros.

Ricardo Alves disse...

«I República, em que houve muito mais assassinatos políticos que nos 48 anos seguintes»

Olhe que não!

Anónimo disse...

Ricardo Alves,
Se não houve muitos mais, pelo menos houve mais.
Meu caro, não regozijo. Apenas constato algo derivado dos documentários e livros que consultei, e de diferentes quadrantes.
Até porque se aquele regime se manteve e teve apoio popular, caso contrário não teria perdurado, por alguma razão foi.
Outro exemplo, os iraquinaos hoje vivem sob um regime democrático em que o governo ou parlamento resulta do voto de cada cidadão, ao contrário do regime anterior.
Mas isso não quer dizer que agora não haja mais assassinatos - e não haja muita boa gente com saudades do outro regime.
Ainda vamos a ver é onde é que esta história do Iraque vai dar...Mas isso já é outro assunto.

dorean paxorales disse...

'Carolina Ângelo, "chefe de família", ousou votar nas primeiras eleições republicanas a 28 de Maio de 1912 aproveitando as indefinições existentes no enunciado da Lei.
Na sequência da controvérsia, é aprovada no ano seguinte a Lei Eleitoral da República onde pela primeira vez num texto legislativo se determina o sexo dos cidadãos eleitores: “são eleitores os cidadãos portugueses do sexo masculino,(...), saibam ler e escrever português (...)".

O direito de voto às mulheres foi concedido (precariamente) pela primeira vez em 1931 sob Estado Novo! E em 1934 foram eleitas pela primeira vez mulheres para a assembleia nacional (em número de 3).'

(citado de memória:"A Concessão do Voto às Portuguesas", Maria Reynolds de Souza, 2006)

Quantos partidos haveria em '34?
Bom, em 1912 não havia mais que um...

Ricardo Alves disse...

João Moutinho,
a República conseguiu afastar do caminho deste país duas instituições que o atrasavam (a monarquia dos Braganças e a Igreja de Estado), e conseguiu dar um impulso notável ao sistema educativo. Se não fez mais, foi porque lhe calhou um dos períodos mais turbulentos da História europeia, com a guerra de 1914-18 e a ascensão dos fascismos. Nos anos 20 e 30, caíram regimes parlamentares por toda a Europa. Na Itália, na Espanha, na Europa de Leste, etc. Eram tempos de instabilidade social, por razões que não se repetiram (movimentos massivos de populações dos campos para as cidades, industrialização, etc).

Quanto ao facto de a duração de um regime ser prova de apoio popular: não é assim tão simples. Um regime pode parecer estável se tiver o apoio activo de uns 15% da população, e a passividade de mais uns 30%. Basta contar nesses 15% as forças de segurança e uma parte das «elites». O resto controla-se com a polícia e com os media. E fechando o país ao exterior.

Cumprimentos,

Ricardo Alves disse...

Dorean,
o primeiro país europeu a dar o direito de voto às mulheres parece ter sido a Finlândia em 1906, seguida pela Noruega em 1913, pela Dinamarca em 1915, e pelo
Reino Unido em 1918 (aqui, restrito a mulheres acima dos 30).

http://fr.wikipedia.org/wiki/Droit_de_vote_des_femmes

É verdade que, nesse aspecto, a República portuguesa foi decepcionante.

dorean paxorales disse...

Tendo em conta que os precedentes eram e são monarquias, e que a Finlândia era à data um grão-ducado autónomo do autocrático império russo, 'decepcionar' é um eufemismo... ;)

Anónimo disse...

A História é o que é.
De entre outras, o exército nazi que defendia as costas da Normandia em 1944 tinha lá gente de todas as nações desde Kasaques a Holandeses e até alemães.
O grande campo de recrutamento das Waffen SS foram da Alemanha foi a Bósnis, onde o fenótipo idealizado não era particularmente dominante.
Tanto quanto sei o primeiro país a atribuir o voto às mulheres foi a Nova Zelândia.
As monarquias como as repúblicas podem ser boas ou más. O que não pode haver e ditaduras boas e outras más.

Ricardo Alves disse...

Pois, Dorean. Por esse critério, o país mais «progressista» da Europa foi o império dos czares. Subscreves essa conclusão?

dorean paxorales disse...

Claro que não passa de provocação: as coisas foram assim por obra e graça da autonomia parlamentar finlandesa.

Mas assim não fosse, a única conclusão óbvia a que se poderia chegar é que a 1.ª república portuguesa conseguiu ser mais retrógrada que o regime czarista...

Anónimo disse...

A Islândia já dá o direito de voto às mulheres há mais de mil anos, embora não tanto de forma formal.

A 1.ª República foi feita por portugueses, povos de cultura latina, tal como tinha sido a monarquia liberal (este termo é para opor aos absolutistas).

Não se procupem muito com a possibilidade das mulheres votarem porque um dia destes já não sobra nada para nós.

Ainda temos alguns redutos como a AR, mas não sei quanto tempo mais vai durar.

A propósito, as colaboradoras da ER?