sábado, 15 de setembro de 2007

Divisão sexual da violência: cultura ou natureza?

O Miguel Vale de Almeida respondeu à minha pergunta sobre como se explica a divisão sexual da violência (homicídio, por exemplo), afirmando que «explica-se pela construção social do género, justamente. Do mesmo modo que violência sexual e homicídios (e sua distribuição por sexo) são factos sociais e não God-, perdão, Nature-given». Portanto, a maior proporção de homens entre os homicidas, sendo um «facto social», seria um resultado da «construção social do género», e não uma consequência da natureza masculina.

(Entretanto, a Shyznogud do Womenage a Trois interveio para afirmar que a «violência feminina era tema tabu para as feministas» porque «tudo o que diminua o alcance do conceito de dominação masculina e da imagem das mulheres vítimas continua a ser impensável e impensado», no que teve a honestidade de assumir que há ideologias que distorcem a percepção da realidade.)

Vamos aos factos (sociais ou não, logo se verá).

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  1. Em Portugal, 95% dos detidos por homicídio são homens.
  2. Na Finlândia, 93% dos detidos por homicídio são homens.
  3. Na Cidade do México, 95% dos detidos por homicídio são homens.
  4. Nos EUA, 94% dos detidos por homicídio são homens (apenas prisões estaduais).
  5. Na Índia, 98% dos condenados à morte e 97% dos condenados a prisão perpétua são homens (não encontrei dados para homicídios).
Há dois padrões evidentes nestes dados: (i) a proporção de criminosos violentos que são homens é esmagadora; (ii) a variação entre países é pequeníssima. Se assumirmos a hipótese de que a explicação destes padrões é «culture-given», ficamos com o problema de explicar como é que países com sociedades tão diferentes (na cultura, no desenvolvimento económico, nas disparidades sociais, nos níveis de educação...) «constroem socialmente» a «divisão de género» de forma a acertar precisamente nos mesmos 93%-97% de preponderância masculina no homicídio. Se a raiz do problema é cultural, não seria de esperar variações maiores entre países culturalmente tão diferentes? Nesse caso, porque será que não existe um país em que a proporção de homens detidos por homicídio não seja de 55% ou até 75%? Porquê uma «divisão de género» tão espectacular?
Pessoalmente, acredito que explicação para a maior preponderância dos homens para a violência é biológica, e que se chama testosterona.

8 comentários :

Anónimo disse...

Se a culpada é a testosterona então como explicar as sociedades pacíficas?

Filipe Castro disse...

Ha de tudo neste mundo: até mulheres com barbas. :o)

Eu acho que há imensa literatura sobre isto e que ha cientistas serios que defendem que há diferencas entre os cerebros dos homens e das mulheres que nao sao inteiramente culturais, isto é, não se desenvolvem durante os primeiros anos de vida, devido à interaccao com o meio. Estao lá, na estrutura do cerebro, com a gramatica do Chomsky.

Como é obvio, ninguem tem a certeza e portanto podemos apenas especular. Sem nos zangarmos, acho eu.

Ricardo Alves disse...

Panúrgio,
não conheço nenhuma sociedade humana sem violência. Esse site que indicou é interessante, mas refere-se apenas a sociedades que não atacam outras. Até nessas sociedades haverá indivíduos violentos (e a minha tese neste artigo é de que esses indivíduos serão sobretudo do sexo masculino). E mesmo nesse site se admite que:
a) existe sempre violência entre crianças;
b) há sociedades que hoje parecem pacíficas mas que no passado foram bastante violentas (e que, digo eu, poderão voltar a sê-lo a qualquer momento).
De qualquer modo, obrigado pelo linque, que é interessante.

Shyznogud disse...

Voltarei ao tema, Ricardo. Ah! ainda bem que referiste o tema da violência sobre as crianças. A "nossa" discussão pendente não é só sobre violência homicida, certo?
By the way, gosto mais do outra frase da badinter q tb. cito no post., a esta falta-lhe o contexto, surge depois de uma pequena história sobre bombistas-suicidas mulheres.

Se Moncho disse...

Só quem não tem trato com crianças, e já esqueceu a sua infância, pode ignorar a diferença biológica entre os dois sexos em relação à violência.

Antes de ter tempo de serem seriamente influenciados pelas convenções sociais os miúdos já andam a lutar entre eles. Enquanto as miúdas são muito mais pacíficas.

Ricardo Alves disse...

Shyznogud,
eu não referi a violência sobre crianças. Referi-me à violência contra crianças. Como diz o nosso amigo galego, a maior violência dos rapazes vê-se logo no infantário. E não depende da cultura.

Ricardo Alves disse...

Correcção:

«eu não referi a violência sobre crianças. Referi-me à violência entre crianças»

Anónimo disse...

Não é apenas a ausência de guerra contra outros povos o critério para ser considerada uma sociedade pacífica e ser listada nesse site, é também a violência entre indivíduos. Têm sistemas bastante elaborados para reforçar essa cultura de paz. Desde a infância.
(como é evidente não pretendo provar nada mas apenas lançar este dado que a mim também me pareceu muito interessante e pertinente nesta discussão)