Porque hoje é o 37º aniversário, recomendo «Primeiro Fazem-se Plenários e Depois é que se Cumprem as Ordens», da historiadora Raquel Varela. Essencialmente, é o ponto de vista da extrema esquerda: o PCP no 25 de Novembro só mandou as pessoas para casa, não tinha qualquer golpe de Estado «preparado», toda e qualquer acção foi estritamente defensiva, no fundo traiu a classe operária. Mais: o PCP desde Julho que tentava reparar o erro que cometera ao apoiar alguma iniciativas dos mais radicais (caso República, ocupações...) e do próprio PCP («unicidade sindical») que haviam afastado o PS e os moderados do MFA. As provas documentais apresentadas de que a estratégia do PCP era a recomposição da «unidade da esquerda» são relevantes(*). Todavia, a própria autora assume implicitamente que o PCP nunca tentou isolar a esquerda revolucionária (fora pronunciamentos verbais) e explicitamente que o período analisado inclui o episódio da FUR, pouco «enquadrável» nessa estratégia. Argumenta, com alguma razão, que se havia golpe preparado do PCP e militares afectos, então foi estranhamente mal preparado (mas poderia responder-se-lhe que em todas as revoluções há muitos que faltam à chamada na hora H).
Não se retire do parágrafo acima que «compro» a tese oposta (a da revolução PCPista em marcha a partir de Tancos evitada por valorosos «democratas» que, entendeu-se rapidamente, queriam mesmo era fuzilar uns tantos «comunas»). Pelo contrário, até acho que, por estranho que hoje pareça, a tese de que o PCP andou a reboque (ou quase...) da extrema-esquerda deste Março de 1975, e que ficou «entalado» no V Provisório e depois até Novembro, inclusivamente nos acontecimentos de 25, é a que andará mais próxima da verdade.
E não tenho qualquer dúvida que o 25 de Novembro deu muito jeito ao actual «arco da governabilidade» (aí fundado) e à tal «extrema-esquerda» (salva de si própria). Realmente só não deu jeito ao PCP...
(*) E ainda hoje se anda nisso, não é? Uma razão para todos os anos voltarmos ao tema...
4 comentários :
Fui ver, mas desisti rapidamente: nenhum daqueles governos foi de coligação partidária, um perfeito anacronismo se tivermos em conta que partido só existia um.
Estou de acordo contigo: o PCP sabia perfeitamente que não podia tomar o poder, e muito simplesmente no 25N fez o mesmo que o Otelo: evitou uma guerra civil mais que derrotada à partida.
"Realmente só não deu jeito ao PCP..." e esta frase resume tudo.
Explica lá melhor de que governos estás a falar.
Que eu saiba, todos os governos provisórios (até os V e VI) tinham elementos de todos os partidos.
Há um "pormaior" no meio de isto tudo: as eleiçöes de 25/4/75 foram para a Assembleia Constituinte, e näo para o Governo. Näo obstante, o sr. faminto-de-poder Mário Soares pös-se logo aos berros que "ganhei as eleiçöes, logo, quero governar" no que foi barrado (e muito bem, seguindo o programa do MFA) pelo 1.o Ministro: é daí que vem a campanha de colar Vasco Gonçalves ao PCP. No seguimento dessa legítima recusa, o Ministro sem Pasta Mário Soares fez birra e mandou os ministros do PS saírem do IV Governo Provisório, no que foi acompanhado pelo PSD e CDS, precipitando o Veräo Quente.
Quanto ao papel tradicionalmente atribuído ao PCP no 25 de Novembro, cada vez mais me convenço que foi a tentativa final de Mário Soares de ilegalizar o PCP, já que o novo 1.o Ministro Pinheiro de Azavedo foi na mesma buscar ministros ao PCP (Veiga de Oliveira). Tendo o PCP tido apenas 13% dos votos (1/3 dos do PS), qual o seu interesse em provocar uma revoluçäo com täo poucos apoiantes, arriscando-se a perder os poucos ministros que tinha?
Mais: se o PCP estivesse por detrás da intentona, como querem fazer crer os partidos do "arco governativo", entäo porque é que näo foi ilegalizado? Pois...
Entretanto, a História deu razäo ao "Vasco maluco", porque Mário Soares era incompetente para (1.o) Ministro além de falso democrata.
Não estou certo mas talvez Henrique Raposo(no artigo de 24 de novembro 2012 no expresso)tenha razão quando aponta para estratégia do ps de Soares(velha forma de dividir para reinar) o facto de o partido comunista não ter sido ilegalizado naquela altura pós verão quente de 75(podem procurar o artigo,eu no entanto só encontro links através do expresso o qual cobra para leitura digital).Aliás,podemos perguntar também porque é que o pcp foi o unico partido comunista a sobreviver(na sua forma ortodoxa e sovietica)na Europa após a queda do muro,será apenas por interesse do próprio pcp?Dá que pensar não?
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