- «Há uma notável regularidade no modo como, entre nós, a pobreza surge no espaço público. De tempos a tempos assistimos a um clamor coletivo, umas vezes em torno dos níveis insustentáveis de pobreza, outras louvando o esforço solidário dos portugueses. Estranhamente, esse clamor não só é suspenso quando a discussão se centra nos mecanismos que, de facto, podem romper com a reprodução da pobreza, como muitos dos que se indignam com os nossos níveis de pobreza são os mesmos que se indignam com o efeito alegadamente perverso das políticas que visam combater o fenómeno, enquanto defendem o regresso ao assistencialismo.(...)Nada contra que a sociedade civil se organize para combater a fome - ainda que distribuir restos de restaurantes e apresentar a iniciativa num casino tenha uma carga simbólica negativa -, mas não deixa de ser surpreendente que o consenso público em torno do assistencialismo alimentar coexista com uma incapacidade de consensualizar políticas redistributivas que aliviem a privação e políticas educativas que contrariem as assimetrias de origem social. Dá que pensar quando o Presidente da República oferece o seu patrocínio à distribuição de sobras de restaurantes e, ao mesmo tempo, o país discute o aumento do salário mínimo para 500 euros, tolera ataques demagógicos aos "malandros do rendimento mínimo" ou confunde massificação da escola pública com facilitismo. No fundo, permanecemos no exato lugar em que estávamos quando Ruy Belo escreveu: "é tão suave ter bons sentimentos/consola tanto a alma de quem os tem/que as boas ações são inesquecíveis momentos/e é um prazer fazer bem".» (Pedro Adão e Silva)
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Revista de imprensa (27/12/2010)
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3 comentários :
Julgava que o centenário da república tinha sido um dos maiores acontecimentos de 2010 para os republicanos, mas pela amostra daqui se nem os republicanos o consideram como tal como vai o povo ligar alguma coisa ? heheheheh
quando o Presidente da República oferece o seu patrocínio à distribuição de sobras de restaurantes esqueceu-se do casório dos sem-abrigos
Monárquicos não
somos pobrezinhos
Rui, fico muito satisfeito de o ver comentar sem ser sob pseudónimo.
Quanto aos aniversários, há-os todos os anos. Mas não é principalmente isso que se recorda de cada ano que passa, não é?
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