quinta-feira, 3 de novembro de 2011

História concisa da crise

Parece-me que esta crise do sistema capitalista se explica de forma relativamente simples. A partir do início dos anos setenta, um aumento crítico nos preços da energia criou uma oportunidade política que a direita aproveitou para destruir a revolução social do século XX e anular as conquistas dos trabalhadores, que tinham criado as classes médias europeia e americana. Como o capitalismo dos anos setenta dependia da existência de uma classe média, a direita resolveu o problema dando crédito aos trabalhadores cujos direitos iam sendo progressivamente destruídos. A direita foi adiando a crise à medida que a classe média empobrecia, desregulamentando o crédito e autorizando a classe de gangsters que tomou conta da banca a inventar produtos económicos que empurravam o problema da insolvência para o futuro.

Agora estamos no futuro.

16 comentários :

Rui Curado Silva disse...

Resumido, mas certeiro.

Wyrm disse...

Lindo!

Anónimo disse...

Os totós e as metáforas. Onde é que estão os gangsters? Não me diga que um derivado é um produto financeiro criminoso. Como chega a essa conclusão? Apeteceu-lhe, foi?!

Anónimo disse...

Não é nada óbvio, nem encontro evidências que o suportem sequer marginalmente, o resto que escreveu. A julgar pelos seus pares aqui acima, publique-se, é revista para papel de casa de banho, mas diz que tem letras e afaga o ego de alguns.

Maquiavel disse...

Entäo, ttansodsxo, fa1a um favor a si mesmo e nunca mais cá apreça. Seu será o reino dos céus.

Quanto ao pensantes, aqui vai:
esqueceste um pormaior! A classe média, nascida no pós-guerra e apajada pelos papás tornou-se vaidosa e egoísta. E foi por isso que a direita avançou, mais nada.

A classe média foi aplaudindo e elegendo os populistas que prometiam "menos Estado" e "menos impostos", e caíram na esparrela do crédito fácil, nem percebendo que precisavam de crédito pelo simples facto de os seus salários reais näo subirem (nos EUA desde 1975...)!!!!!!!

Agora os votantes de Reagan e Thatcher que tinham 35 em 1980 têm 66 em 2011, estäo velhos, cansados, sobre-endividados, e sem perspectivas senäo as de morrer doentes, sem acesso à Saúde nem aos demais "serviços humanos" privatizados. Mas agora é tarde para lutar. Os erros da juventude pagam-se na velhice.

Os jovens de agora näo têm tempo para ser solidários com a referida geraçäo, porque estäo ocupados a tentar sobreviver...

Sabem de quem tenho pena, no fim disto tudo? Dos portugueses que (sobre)viveram no fascismo, e agora até as magras reformas lhes roubam!

Anónimo disse...

Ao idiota: grato pela tentativa de insulto. Vou levá-la em conta.

João Branco (JORB) disse...

!!! é isso!

João Vasco disse...

Essa história em números:

http://1.bp.blogspot.com/-d-21MI9Engs/TmttTW9Gw1I/AAAAAAAAAVo/aRlK14cf6WE/s1600/04reich-graphic-popup.jpg

Falei sobre eles aqui:

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/09/diferenca-entre-roosevelt-e-reagan.html

Recomendo a todos, em particular ao ttdsxo.

Anónimo disse...

Ao jv, os números que refere e esta história que aqui é contada não estão relacionadas de 1-para-1. A saber:

a) os números que refere dizem respeito aos EUA, enquanto a história que aqui é contada não está localizada geograficamente, embora se subentenda que almeja servir também para a crise Europeia. Contudo, sou capaz de conceder que me precipitei e que o post pretende-se centrar exclusivamente sobre os EUA.

b) os números mostram que o aumento de produtividade a partir da década de 80 não foi acompanhado pelo aumento da remuneração; mostram também que a desigualdade entre ricos e pobres aumentou, possivelmente pelo motivo anterior; também mostram que a dívida das famílias aumentou da década de 80 até ao presente.

c) os números não mostram que a vida das pessoas tenha piorado. Aliás, melhorou. Podia, certamente, ter melhorado mais. Os números não mostram que tenha existido um plano com a intenção explícita de enriquecer os ricos sem aumentar a riqueza dos mais pobres. Embora, seja capaz de admitir que cada agente tenha agido de forma a maximizar a obtenção daquilo que valoriza. Exemplo: Se as pessoas querem casas, e não as querem construir, precisam de dar incentivos a terceiros para que estes a cosntruam; depois é um negócio, onde cada parte tenta maximizar a obtenção daquilo que valoriza. Se as partes valorizarem o bem estar mútuo, então viveríamos num mundo completamente diferente daquele em que vivemos ;)

d) os números não mostram que existam gangsters (ou "gangsters", do ponto de vista metafórico não sei bem do que se está a falar).

e) sobre a crise do subprime: acho que houve de facto um problema de falta de regulamentação que permitiu esconder a qualidade dos activos; não é garantido que tenha havido dolo na criação das regulamentações que possibilitaram aquela corrente de transmissão de activos; tenho a ideia que alguns agentes esconderam intencionalmente a qualidade dos activos; contudo, é bom relembrar que desde os mecânicos até ao vendedor do talho, todos eles tentam aldrabar nos negócios; sou certamente favorável que se façam duas coisas: tornar os investidores mais diligentes imputando-lhes mais responsabilidade pelo que fazem (isto levaria a que se tivesse de redesenhar muitas coisas, como os fundos de pensões); e criar regulamentações que impeçam práticas fraudelentas. Posto isto, é bom perceber que os derivados, forwards cambiais, forwards sobre taxas de juro, futuros sobre várias coisas, swaps sobre várias coisas, opções, ou os famosos CDOs e CDSs, etc., são produtos que devem existir na medida em que existam pelo menos duas contra-partes dispostas a assumir esse compromisso.

João Vasco disse...

ttdxo:

a) É verdade que os números só se referem aos EUA, que é a realidade que o Filipe Castro melhor conhece.
Mas na Europa, não de forma tão acentuada, os mesmos fenómenos têm vindo a verificar-se (aumento das desigualdades, da dívida privada, distância entre a produtividade e a remuneração por hora de trabalho)

b) De acordo, era esse o objectivo.

c1) Sobre a vida das pessoas ter melhorado ou piorado, não é claro que tenha melhorado, tendo em conta o aumento da precariadade, a diminuição da mobilidade social, o aumento de depressões e suicídios, o aumento da população prisional, etc.. Eu não estou a dizer que tenha piorado, também existiram melhorias. Mas alguma disfuncionalidade levou a que não fosse perfeitamente claro que as coisas melhoraram nas últimas duas décadas.

c2) Os números não mostram que tenha existido um plano com a intenção explícita de aumentar as desigualdades, mas mostram que os planos que têm sido postos em prática (Reagonomics) têm tido as consequências opostas a outros planos que tinham antes sido postos em prática (New Deal).

d) Claro que não. Isso é opinião do Filipe.
Mas acredito que neste processo muita gente agiu com dolo, principalmente através da «compra» (legal - doações de campanha - ou ilegal - suborno puro e simples) de políticos para que a legislação fosse alterada por forma a favorecer certos interesses privados.
Dar subsídios às petrolíferas não é uma coisa que agrade aos eleitores de esquerda (que vêm o acto como dar dinheiro de todos a quem mais tem e a quem está a prejudicar o planeta quando devia estar a pagar externalidades) nem aos eleitores de direita (que acreditam que o estado não deve interferir com o funcionamento dos mercados através de subsídios pagos pelos impostos de todos de acordo com a vontade da burocracia instituída) e no entanto são gastos milhões e milhões em subsídios para estas indústrias já de si altamente lucrativas e com todos os incentivos para operar.


e) «não é garantido que tenha havido dolo na criação das regulamentações que possibilitaram aquela corrente de transmissão de activos»
Não é garantido, mas parece-me quase certo. Essas regulamentações não são criadas ao acaso.
Muitas vezes as indústrias propõem a legislação que deveria presidir à sua própria regulamentação aos representantes políticos, e fazem acompanhar as sugestões por generosas contribuições de campanha. Fazem-no à vista de todos. Estas leis não surgem sem que um exército de advogados, contabilistas e economistas estude bem as suas consequências, o pior é quando os principais afectados estão bem mais atentos ao que se passa que o eleitorado em geral...

« são produtos que devem existir na medida em que existam pelo menos duas contra-partes dispostas a assumir esse compromisso. »

O problema não são só a existência de duas partes, o problema é quando uma delas prefere arriscar o dinheiro que não é seu. Se os depósitos são garantidos pelo estado, e o banco usa o dinheiro dos depósitos num negócio arriscado, o banco estará a lucrar à custa de um risco que não assume inteiramente. O estado e os depositantes, que assumem parte do risco, são participantes involuntários nessa transacção, que supostamente seria apenas entre duas partes, mas não é.

Anónimo disse...

"O problema não são só a existência de duas partes, o problema é quando uma delas prefere arriscar o dinheiro que não é seu. Se os depósitos são garantidos pelo estado, e o banco usa o dinheiro dos depósitos num negócio arriscado, o banco estará a lucrar à custa de um risco que não assume inteiramente. O estado e os depositantes, que assumem parte do risco, são participantes involuntários nessa transacção, que supostamente seria apenas entre duas partes, mas não é."

O dinheiro que está no banco, está ao abrigo de uma venda de fundos ao banco. O jv quando tem o dinheiro no banco X, é porque vendeu os seus fundos a esse banco X, e recebe algo por essa venda. Se o jv acha arriscado, não venda os fundos ao banco.

De qualquer das formas, e para além disto, os bancos contribuem para os fundos de garantia de depósitos. Não sei exactamente em que termos, mas sei que contribuem.

Como tinha escrito no meu comentário anterior, concordo com a regra geral de que a falta de responsabilização faz com que se possa assumir comportamentos de risco que não seriam assumidos se houvesse a devida responsabilização. E isto vale também para o mero depositante, que vende fundos a um banco num depósito a prazo. A venda de fundos ao banco tem pouco risco por causa da teia de compromissos que visam salvaguardar o seu cumprimento, tendo o seu exponente nos fundos de garantia de depósitos.

Anónimo disse...

Para além disso, é também conveniente perceber que na maior parte dos derivados os bancos funcionam apenas como meros intermediários que auferem uma comissão ou margem comercial.

Por exemplo, suponha-se um forward cambial (um forward é um contrato OTC -- over the counter). Se o jv quiser importar no futuro que será pago em dólares e quiser hoje fixar a taxa de câmbio EUR/USD, vai ao banco e diz que quer vender um forward cambial EUR/USD com um certo montante e maturidade. O que o banco vai é comprar-lhe esse forward ao mesmo tempo que o vende a uma outra parte (alguém que queira vá fazer uma exportação paga em dólares). No meio disto o banco só arrisca dinheiro de alguém, (depositantes ou capital próprio), se a outra parte num destes forwards falhar o compromisso.

Anónimo disse...

Se o jv gosta mais do estado, já que o estado dá muitas garantias, o que o jv pode fazer com os seus fundos, é tirá-los do banco (o banco mauzão) e vender todos os seus fundos ao estado, comprando certificados de aforro. Os certificados de aforro são resgatáveis, portanto, são como um depósito convencional.

Se o jv não confia em ninguém, então venda os seus fundos ao colchão. O colchão não paga nada por comprar os fundos, e acho que nem defende o investimento de ladrões e acidentes como fogos e coisas dessas. Bem, o jv tem de ponderar os riscos. O risco está em todo o lado, e tanto mais risco haverá quanto mais se dá poder a pessoas que não vêem todas as ramificações do problema.

João Vasco disse...

ttdsxo:

Para ser mais concreto, creio que faz sentido comparar o que se passou em 2008 nos EUA com o que se passou no Canadá.
Como existiam várias limitações ao nível da alavancagem, da transparência, etc.., no Canadá os Bancos não sofreram da mesma forma a crise de 2008.

Ora eu acredito que um depositante deveria poder usar o seu dinheiro para que ele fosse usado em negócios arriscados, recebendo um juro maior por isso, optando os instrumentos financeiros adequados para isso.

Mas é muito diferente colocar o seu dinheiro num depósito a prazo com uma expectativa de um risco baixo, expectativa essa que era justificável pelos mecanismos de controlo que existiam antes de serem corrompidos por várias formas de obscurecer os activos, e depois verificar que o dinheiro se foi, e lançar o pânico na economia com consequências destruidoras para a economia podendo provocar um surto de desemprego com poucos precedentes.
Foi a alegação deste perigo que foi usada para efectuar o «Bailout», que nunca deveria ter acontecido, menos ainda da forma como aconteceu , com enorme prejuízo do contribuinte.

No entanto, todo esse problema era evitável. Bastava manter uma legislação equilibrada como a do Canadá. Bastava não ter destruído a distinção entre bancos de investimento e bancos convencionais.

E eu não chamo «malvada» à actividade bancária, que, por si, me parece muito útil. Mas chamo aos que quiseram alterar as leis destruindo um sistema estável para efectuarem lucros privado à custa de riscos públicos.

blabla disse...

...mas está tudo maluco ou quê...desde quando é que os bancos hoje em dia se interessam pelo seu «core business»… coisa chique mas uma treta …o único negócio da banca actual é extorquir o máximo de «comichões» ao cidadão e jogar no casino...«Não me diga que um derivado é um produto financeiro criminoso» não nada… é apenas uma das peças da roleta e eu sou o pai natal... há muito que comprar e vender dinheiro deixou de ser assunto para a banca... e isto não vai lá com blabla de totós por mais ilustre que o pintem…nacionalizem a banca…mas toda claro…imponham curros estreitos à canalha usurária e vão ver que a crise já era… tanto mundo para desbravar e os osórios com chiliques…

Filipe Castro disse...

Wow! Eu vou estar mais dois dias numa conferencia, mas depois gostava de discutir este assunto melhor com o ttdsxo (que nome!), porque aqui ninguem vive melhor. Os 1% mais ricos nao se podem queixar, mas nao vivem melhor: a pobreza afecta toda a gente. Quanto aos gansters a que me refiro sao gangsters como o Alcapone, mas sem a empatia que ele demonstrou pelos pobres de Chicago, e a Europa esta cheia deles.