quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Então e o mérito, pá?

Nuno Crato era o único ministro do actual governo do qual eu tinha uma expectativa (moderadamente) positiva. Entre outras razões, porque dizia querer premiar o mérito. Ao centésimo dia de governo, e já depois de ter reforçado os subsídios às escolas privadas, descobre-se agora que os prémios de mérito das escolas secundárias não serão atribuídos aos alunos, mas desviados para vagos «projectos de apoio aos alunos». O aluno que seria premiado com 500 euros ficará apenas com a prerrogativa de decidir a que projecto será destinado o seu «ex-prémio».

Tanta conversa de «mérito», de distinguir «os melhores», para acabar a perverter uma medida meritocrática de Maria de Lurdes Rodrigues...

11 comentários :

Patrícia Gonçalves disse...

Fiquei com tanta vergonha quando li a notícia, pá!

Anónimo disse...

Um prémio monetário sempre me pareceu um pouco desajustado para um aluno do secundário...

Mas podia ao menos reservar os 500 numa bolsa de estudo para o ensino superior. Isso é que era premiar o estudo.

Filipe Castro disse...

Acabar com o ensino público é a estratégia da direita: quem entre os ricos que mandam nos políticos é que quer pagar impostos para subsidiar o ensino dos filhos dos outros?

Fernando Vasconcelos disse...

Também acho que o prémio monetário em espécie é desajustado mas como já foi aqui dito haveria outras formas de manter até o valor ou até aumentá-lo (por exemplo sobre a forma de isenção de propinas no ensino superior) e manter um prémio simbólico não financeiro ... avisar no próprio dia e sobre o pretexto de "erro de comunicação" argumentando uma decisão há muito tomada é a total falta de bom senso.

Ricardo Alves disse...

Isentar de propinas no Superior os melhores alunos do Secundário parece-me uma boa ideia.

Maquiavel disse...

Confesso que näo concordo com um prémio monetário para melhores estudantes, isto mesmo tendo sido um deles lá na minha "Esc Sec". E com a 2.a melhor nota do distrito na Específica de Economia. Sempre me esfalfei para conseguir boas notas, quanto mais näo fosse para aumentar a probabilidade de entrar na Universidade da minha preferência (ISCTE, Gestäo).

Já reservar os 500 numa bolsa de estudo para o ensino superior, isso sim, seria motivador.

Patrícia Gonçalves disse...

A questão da remuneração/prémio/ etc pode discutir-se obviamente.

As opiniões são variadas e encontro argumentos legítimos quer para a atribuição, quer para a não atribuição de prémios monetários a estudantes do ensino secundário.

Lembro apenas que 500 euros a dividir por, vá lá 10 meses, dá a módica quantia de 50 euros por mês, que não cobrem certamente os gastos mensais com material, transportes e alimentação de um aluno do secundário!

Mas o que me envergonhou foi o cancelamento em cima da entrega dos prémios, com a atribuição do prémio monetário a alunos de famílias carenciadas, sendo estes escolhidos pelos premiados: "ganhaste o prémiozinho e agora escolhe o pobrezinho e entrega-lhe a esmolinha, meu filhinho".

É tão "poucochinho"...

Miguel Madeira disse...

Para os outros comentadores:

E se o "melhor aluno" não quiser ir para o ensino superior?

Fernando Vasconcelos disse...

Para um melhor aluno convenha-se que não seria muito natural. Mas não quer não quer, não vai. Não ganha a bolsa e fica apenas com a distinção honorifica que em meu entender deveria também haver. Não vejo porque é que tem de existir uma dotação financeira e acho mesmo errado do ponto de vista conceptual. O dever de quem estuda é dar o seu melhor. Os melhores, com mais capacidades já serão naturalmente recompensados por saberem mais, estarem mais preparados. Não concebo muito bem o significado de um prémio de natureza financeira imediata mas talvez alguém me consiga explicar. Isto naturalmente não elimina o facto que não se faz um aviso destes assim nem tão pouco se deveria retirar o que foi prometido sem algum tipo de compensação e sem ter uma ideia precisa do que se vai fazer a seguir.

Ricardo Alves disse...

«E se o "melhor aluno" não quiser ir para o ensino superior?»

Lá está, por essa mesma razão seria preferível um prémio monetário, ou um computador, ou um cheque-livro...

Filipe Moura disse...

"«E se o "melhor aluno" não quiser ir para o ensino superior?»

Lá está, por essa mesma razão seria preferível um prémio monetário, ou um computador, ou um cheque-livro..."

Ricardo, estás a entrar em flagrante contradição com o que defendias a 29 de Setembro, nesta mesma caixa de comentários. Posso fazer-te uma pergunta? E se o melhor aluno não gostar de computadores? E se não gostar de livros?

Respondendo-te a ti e ao Miguel Madeira: o estado tem todo o direito de esperar que os melhores alunos vão para o ensino superior. Se não quer ir, pois assuma a responsabilidade: perde o dinheiro do prémio, e que seja muito feliz. Um prémio não é uma remuneração. Não há aqui lugar para individualismos nem direitos adquiridos. Levar-se sequer a sério esta questão demonstra todos os defeitos da esquerda portuguesa. A esquerda não se pode preocupar desta forma com "indivíduos".