O europeísmo prometeu um «espaço comum europeu». A União Europeia seria uma única comunidade política, democrática e soberana. Criar-se-ia (por geração espontânea?) um demos de novo tipo. À época, os «eurocépticos» duvidaram e foram vilipendiados. Vê-se agora que tinham razão.
Nunca existiu sequer uma agora europeia. Instituições comuns, só mesmo as da UE. Passado partilhado, o das lutas fratricidas e das rivalidades. É difícil, concediam os europeístas, mas diziam que o tempo ou uma crise poderiam finalmente criar um sentir comum.
Passou-se o tempo, e a crise demonstra o contrário: os egoísmos nacionais são mais evidentes do que nunca. E os cidadãos de cada Estado (nem o mais iludido dos europeístas persiste em falar em «cidadãos europeus») viram-se para os governos nacionais.
Num momento em que há intervenções do FMI em três(*) países da UE, e mais dois países em lista de espera, a greve geral de hoje foi apenas nacional. E ninguém estranhou. Porque realmente não faria sentido. Os trabalhadores da Alemanha não farão greve em solidariedade connosco. Nem sequer os da Grécia, desconfio eu.
O europeísmo foi uma ilusão. O acordar pode ser muito mau.
(*) Na realidade são seis. Correcção do Rui Curado Silva na caixa de comentários.
Nunca existiu sequer uma agora europeia. Instituições comuns, só mesmo as da UE. Passado partilhado, o das lutas fratricidas e das rivalidades. É difícil, concediam os europeístas, mas diziam que o tempo ou uma crise poderiam finalmente criar um sentir comum.
Passou-se o tempo, e a crise demonstra o contrário: os egoísmos nacionais são mais evidentes do que nunca. E os cidadãos de cada Estado (nem o mais iludido dos europeístas persiste em falar em «cidadãos europeus») viram-se para os governos nacionais.
Num momento em que há intervenções do FMI em três(*) países da UE, e mais dois países em lista de espera, a greve geral de hoje foi apenas nacional. E ninguém estranhou. Porque realmente não faria sentido. Os trabalhadores da Alemanha não farão greve em solidariedade connosco. Nem sequer os da Grécia, desconfio eu.
O europeísmo foi uma ilusão. O acordar pode ser muito mau.
(*) Na realidade são seis. Correcção do Rui Curado Silva na caixa de comentários.
8 comentários :
Ricardo, esta UE é a dos eurocépticos, não é a dos europeístas, esses foram todos afastados. Entre os principais representantes da UE não me consegues apontar um europeísta. Barroso e Van Rompuy são escolhas britânicas (para não dizer americanas) para minar o projecto europeu. Desde que Prodi (esse sim um europeísta) saiu a UE ficou entregue aos egoísmos nacionais dos eurocépticos e dos "europeístas de ocasião". Vê-se o resultado...
O que é curioso é que hoje em dia até os que eram eurocépticos de há 4 ou 5 anos defendem agora que é preciso mais integração e mais governância na zona euro, os eurobonds, etc., ou seja uma parte das ideias dos europeístas que foram postas de lado. Só que agora vai ser tudo feito em cima do joelho e arrisca-se a correr mal.
Ouviste ontem o discurso do Barroso? Eu ainda me lembro do Barroso declarar em frente ao Casino Estoril, em 2001, 2002, durante um encontro do Partido Popular Europeu, que a UE era como a União Soviética (coisas que o Vaclav Klaus também diz).
Dois ou três reparos:
- Há 6 países europeus com intervenções desde 2008, por ordem: Hungria (duas vezes), Grécia, Irlanda, Letónia, Portugal e Chipre.
- Mas há outros países que apesar de não recorrerem a intervenções adoptaram medidas ainda mais austeras que Portugal (cortes de salários de +/-20% desde 2009): República Checa, Bulgária e Roménia
- Na Europa, mas fora da UE, temos a falência profunda da Islândia (nem sequer há "ajudas" à Islândia) e duas intervenções do FMI na Ucrânia.
- A lista de países falidos no Médio Oriente e na Ásia não é menor.
- Os EUA só não faliram porque está lá o maior sugadouro de dinheiro do mundo: Wall Street.
Por isso, ligar a crise apenas à Europa ou à Zona Euro...
No frenesim da nossa crise de ricos, deixa de se falar da crise dos outros e dos mais pobres.
Na minha condição de *cidadão europeu* e apesar da Europa ainda ter muita coisa a melhorar, em nenhuma outra região do mundo se foi tão longe na ecologia, na redução do horário de trabalho, no tempo de férias, na cobertura social, na luta contra a exclusão, na sexualidade, na paridade, na laicidade, na integração de países vizinhos mais pobres (apesar de se estar a estragar muito do que se construiu), na qualidade de vida e no desenvolvimento sustentável. Para os genuínos europeístas, o europeísmo é isto. E é também aquela fórmula: a soma das partes é inferior à sua união. Os últimos 50 anos do século XX são a prova disso.
a europa não acaba nos Urais?
acho que 2/5 da eurropa já tiveram greves geracionais
acho que lhes chamávamos greves de zelo
Dois ou três reparos:
- Há 6 países europeus com intervenções desde 2008, por ordem: Hungria (duas vezes), Grécia, Irlanda, Letónia, Portugal e Chipre.
- Mas há outros países que apesar de não recorrerem a intervenções adoptaram medidas ainda mais austeras que Portugal (cortes de salários de +/-20% desde 2009): República Checa, Bulgária e Roménia
- Na Europa,fora da UE, temos a falência profunda da Islândia e duas intervenções do FMI na Ucrânia e mais Bielo-Rússia que resolve a falência (com prateleiras vazias e inflação)
1992? 1190.316
1994 2220.897
1995 709.297
1996 52.688
1997 63.82
1998 73.018
1999 293.733
2000 168.601
2001 61.133
2002 42.568
2003 28.398
2004 18.094
2005 10.336
2006 6.992
2007 8.429
2008 14.828
2009 12.95
2010 7.743
2011 em deve voltar aos 15%
sempre é melhor que 2200%
- A lista de países falidos no Médio Oriente (América Central e Sul e África) e na Ásia não é menor.
- Os EUA (e a Grã-Bretanha )só não faliram porque está lá o maior motor económico mundial o grupo Anglo-americano da big especulação
até Brejnev jogava na bolsa americana e na city londrina
pelo menos é o que as piadas dizem
e como diz o tal Silva que num é Cavaco (salvoseja)
o facto de a alemanha não conseguir impingir 6 mil milhões na totalidade a 1,75%
quando a inflação vai para os 4 ou 5%
é só um indicador que preferem perder dinheiro no dólar e na libra e só depois na dívida alemã
é confiança que o eurro aguenta que os leva a especular na espanha a 5% e Bélgica e França a 3%?
financiar o eurro alemão a 1,75%
jámé
Disse um português "a UE já parece a URSS" e replicou o britänico "näo, que na URSS näo havia desemprego..."!
Näo tenham ilusöes, a Alemanha näo é a Merdkel, e os trabalhadores alemäes também já näo estäo a gostar da palha. Eles sabem que as "ajudas" à Grécia näo väo para quem trabalha, mas para os bancos e políticos quem fizeram a cryse.
Como tal uma greve geral europeia anti-austeridade faria todo o sentido. A austeridade está aí para todos, até na insuspeita Finländia o PM (neoliberal) quer cortar "mesmo que isso signifique recessäo", embora a MFinanças (social-democrata) já tenha vindo dizer que o gajo tem é que tomar um Nervocalm.
A UE näo pode ser só de quem tem dinheiro, tem de ser de quem trabalha. Lembrem-se: os trabalhadores galegos e galeses manifestaram o seu apoio à Greve Geral portuguesa. É um bom prenúncio, que há que multiplicar.
Rui,
então os Tratados foram escritos por «eurocépticos»? A independência do BCE é obra dos «eurocépticos»? E a ausência de poder do PE também?
A UE que temos é obra dos europeístas, não é obra daqueles que exprimiram dúvidas pela natureza não democrática do projecto.
P.S. Agradeço a correcção ao número de países «intervencionados».
Concordo em absoluto com os comentários do Rui. O que ficou escrito nos Tratados foi, de facto, muitíssimo influenciado pelos eurocépticos. Basta olhar — como fez muito bem o Rui no Klepsydra — para a matemática absurda dos referendos europeus para perceber isso. A fraqueza política do Parlamento Europeu está ligada ao formato nacional das respectivas eleições, que é outra exigência eurocéptica. A “independência“ do BCE é outro belo exemplo dos combates políticos entre interesses nacionais — neste caso, foi o preço que a Alemanha impôs como contrapartida para a criação do euro. Estes são apenas alguns exemplos de como o projecto europeísta tem vindo a ser criado com inúmeras reservas, cláusulas, leis, regulamentações “eurocépticas“...
Mas a que propósito é que alguém iria imaginar que a Europa seria um caminho fácil e sem sobressaltos? Só por angelismo ou então por demagogia...
Miguel
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