Nesta discussão dos feriados o Tiago Mendes propõe-nos o Dia da Fundação, acrescenta o Tiago "Este novo feriado - que poderia também ser o "Dia de Portugal" - seria comemorado a 5 de Outubro, celebrando a assinatura do Tratado de Zamora (1143 - a bandeira supra é a então vigente)". Quando li "Tratado de Zamora" e apreciei a bandeira "vigente", percebi logo o cuidado com que tinha sido elaborada a proposta. Foi à velocidade de um clique que o Tiago copiou a bandeira na entrada da wikipedia sobre o "Tratado de Zamora", onde se fala inclusivamente da lendária Batalha de Ourique como se esta tivesse realmente ocorrido.
Não existe qualquer registo de um Tratado de Zamora em 1143, bem como a independência de Portugal não tem data marcada. Fomo-nos tornando independentes entre 1128 (Batalha de São Mamede) e 1173 (Bula Manifestis Probatum). Tal como se lê nesta clarificadora entrada do João Cardoso, existiam documentos anteriores ao Acordo de Zamora em que Afonso Henriques era designado como Rei de Portugal (1132, 1135 e 1139). Também a sua mãe é designada rainha em vários documentos descrevendo a sua época. A bandeira da entrada da wikipedia não é a vigente na época, nem sequer é certo se havia UMA bandeira.
O que mais irrita neste tipo de propostas não é a forma velada com que se tenta apagar o 25 de Abril. O que irrita é a propagação de lendas que até 1974 constavam dos textos escolares como verdades sagradas, a Batalha de Ourique, Guimarães cidade berço, o Tratado de Zamora, o entalanço do Martim Moniz, etc., numa época em que os meios de comunicação são sofisticadíssimos e existe abundante literatura actualizada sobre a história de Portugal ("Dicionário de História de Portugal" de Joel Serrão, "D. Afonso Henriques" de José Mattoso e "O essencial sobre a Formação da Nacionalidade" de José Mattoso).
Não existe qualquer registo de um Tratado de Zamora em 1143, bem como a independência de Portugal não tem data marcada. Fomo-nos tornando independentes entre 1128 (Batalha de São Mamede) e 1173 (Bula Manifestis Probatum). Tal como se lê nesta clarificadora entrada do João Cardoso, existiam documentos anteriores ao Acordo de Zamora em que Afonso Henriques era designado como Rei de Portugal (1132, 1135 e 1139). Também a sua mãe é designada rainha em vários documentos descrevendo a sua época. A bandeira da entrada da wikipedia não é a vigente na época, nem sequer é certo se havia UMA bandeira.
O que mais irrita neste tipo de propostas não é a forma velada com que se tenta apagar o 25 de Abril. O que irrita é a propagação de lendas que até 1974 constavam dos textos escolares como verdades sagradas, a Batalha de Ourique, Guimarães cidade berço, o Tratado de Zamora, o entalanço do Martim Moniz, etc., numa época em que os meios de comunicação são sofisticadíssimos e existe abundante literatura actualizada sobre a história de Portugal ("Dicionário de História de Portugal" de Joel Serrão, "D. Afonso Henriques" de José Mattoso e "O essencial sobre a Formação da Nacionalidade" de José Mattoso).
3 comentários :
acho que isto é um bocado uma coisa de idade mental: parece-me sempre que as crianças grandes que querem acreditar nestas palhaçadas acreditam que se conseguissem provar que na Idade Média os portugueses tinham todos 3 metros de altura, Portugal deixava de ser o sovaco que é. A desigualdade social e a falta de democracia, a incapacidade de acreditar nos outros, os abusos e a exploração ignóbil de quem trabalha, etc., etc., desaparecia tudo.
concordo com a tua ressalva, mas não é menos verdade que muitas datas (a nível internacional, mesmo) acabam por não assinalar algo que realmente aconteceu naquele dia, mas antes representar ---por vezes de forma pouco rigorosa até como indicas--- algo que aconteceu durante aquelas alturas. nesse sentido, juntando-lhe 1910, e por oposição ao feriado fascista do 10 de junho, eu sempre achei que se algum dia faria sentido ser o "dia de portugal" teria que ser sem dúvida o 5 de outubro. e não penso que isto signifique qualquer menorizar do 25 de abril.
ps - não li o post no cachimbo que criticas, estou apenas a dar a minha opinião, que, inclusivé, acho que já aqui tinhamos discutido no ER há uns tempos...
Ia escrever exatamente o mesmo que escreve o Schiappa. Chamar ao 5 de Outubro "Dia da Fundação" é um ultraje, como parece ser o caso do texto que referes (e que eu não li). Mas se há historiadores que defendem que o Tratado de Zamora foi mesmo assinado a 5 de Outubro, faça-se desta data o "Dia de Portugal e da República" e acabe-se com o 10 de Junho. Isto não põe em causa o 25 de Abril.
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