quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Luke e os deolindos

Conheci o Luke no hostel onde fiquei em Praga. O Luke era mais um australiano que dedicava uns meses da sua vida a conhecer outros países, tal como tantos outros australianos que se podem encontrar em tantas pousadas no mundo. Talvez por viverem longe de quase todos os outros países, não existe povo mais obcecado em viajar e conhecer o mundo que o australiano.
Também se encontram Europa fora grupos de portugueses e outros europeus, em inter-rails ou graças às companhias aéreas de baixo custo, mas sempre em grupos: nenhum como estes australianos, que viajam sozinhos durante meses, como era o caso do Luke.
Uma diferença importante entre os portugueses e os australianos é que estes, tipicamente, trabalham para poderem pagar o seu período de viagem, enquanto os jovens portugueses geralmente esperam que sejam os pais a financiarem. É uma crítica, provavelmente justa, que se faz à “geração 12 de Março”, os “deolindos”: estão habituados a receber tudo de mão beijada, não sabendo dar o devido valor às coisas. Não lhes passaria pelas cabeças trabalhar para pagar as férias.
Enquanto eu me entretinha nestas divagações, o Luke lá se entretinha ao longo dos dias a cozinhar esparguete e fazer cocktails. Eu estava a participar num congresso; à noite via-o sempre na sala comum, e comecei a ficar curioso sobre que vida era a dele. Um dia ele ofereceu-me uma mistura de rum com fanta, e foi nessa altura que lhe perguntei quanto tempo mais ia ficar em Praga. Ele disse que já tinha visto o que mais lhe interessava ver na Europa, e então tinha decidido ficar em Praga até à data do seu regresso, daí a duas semanas, pois lá tudo era mais barato incluindo a cerveja. Perguntei-lhe se não seria melhor alterar a data do bilhete de avião e antecipar o regresso. Ele respondeu-me que ainda tinha que ir a Valência, pois fazia questão de participar naquela coisa chamada “tomatina”.
Em Portugal, organizam-se manifestações (em que eu participei) contra a precariedade e mesmo a dificuldade em obter um emprego. A maioria dos participantes nessas manifestações não queria mais do que o acesso a um emprego digno, que lhes dê estabilidade, permita construir família e mais tarde ter uma reforma – é esse o seu objetivo. O objetivo dos jovens australianos, a avaliar pelo Luke, não passa por estabilidade nem por reforma – é viajar e participar na mais estúpida de todas as festas (tão estúpida que até já existe uma versão bracarense). Acho que prefiro os nossos deolindos.

3 comentários :

Filipe Castro disse...

A Austrália tem fama de ser o país anglo-saxónico mais inculto e mais racista de todos. A Autrália, diz quem sabe, é muito pior que o Texas.

E o Texas, garanto-te eu, que vivo aqui há 13 anos, é MUITA MAU! :o)

Maquiavel disse...

Pois é... tudo mais barato? Em Praga?

Nem é preciso ir muito longe, Praga está a ums 2 horas da Alemanha, onde realmente os preços säo bem mais baratos. Surpreendentemente mais baratos.

Quero ver onde se consegue comprar uma cerveja óptima e premiada por 0,67€ por litro em Praga. Por acaso até queria.

Na Alemanha, é só ir a qualquer supermercado normal, seja Norma, Lidl, Netto, Penny Markt, ...

Se ele disser "as checas säo do mais boas que há", isso tá bem, näo o desminto, agora o resto...

Filipe Moura disse...

Homónimo, não está em causa a cultura do tipo nem dos australianos (os que eu conheço não são inculos nem de direita, mas se calhar diria o mesmo dos texanos - o mundo académico dá-nos uma visao de viés). Aposto que há tipos muito cultos a participarem na tal tomatina. A minha questão tem mesmo a ver com a natureza humana. Bem, eu próprio passei o verão mais preocupado com o meu Sporting que com os desvarios deste governo...