terça-feira, 3 de agosto de 2010

Privatizar a RTP? Extinga-se antes o SIS...

O Ricardo Pinho começou por me dizer (no Twitter) que se deveria privatizar a RTP. Agora diz que a quer «reciclar». Vamos ver.

É verdade que a televisão (e principalmente a por antena), está cada vez mais obsoleta enquanto meio de informação ou de entretenimento. Eu e o Ricardo Pinho devemos passar mais tempo em frente ao ecrã de computador, até fora das horas de trabalho, do que em frente ao da televisão. Mas convém não esquecer que existem sectores consideráveis da população portuguesa (talvez a maioria), que não serão como nós: idosos, crianças, e pessoas sem meios para aceder à internet ou à TV por cabo. E é por essa razão que a TV por antena continua a ter relevância.

A RTP presta um serviço público relevante a essas pessoas, nomeadamente através do RTP 2, que tem horas seguidas de programação para crianças e adolescentes, provas desportivas, debates com a «sociedade civil», séries que (dizem-me...) têm alguma qualidade, e um noticiário que é o melhor do panorama audiovisual português. E quase não tem blocos de publicidade. Esse é o melhor do serviço público da RTP.

O RTP Internacional e o RTP África, pese embora o facto de serem canais pouco ambiciosos, são  também importantes na medida em que o Estado português ainda se coloca como tarefa afirmar a língua portuguesa no mundo. E creio que o custo destes canais será pouco relevante.

Finalmente, o canal mais caro: o RTP 1. Enferma do mal de querer pescar nas mesmas águas dos seus concorrentes directos. Mas tem algumas vantagens: noticiários menos tablóides (e independentes do poder económico, que não do político); debates políticos verdadeiramente plurais (ao contrário da concorrência) e um provedor (o que permite dar voz ao consumidor, e não existe nos outros).

Se querem um Estado mais pequeno, não extingam a RTP mas sim o SIS e o SIED, que supostamente prestam um serviço público mas na realidade não servem rigorosamente para nada, a não ser para  dar ao governo do momento armas que são mais próprias das ditaduras (notar como o debate político está cada vez mais dominado por «guerras» de dossiês supostamente comprometedores que nunca se chegam a materializar), e com a agravante de incentivarem funcionários do Estado a cometer pequenos e grandes delitos. Num momento em que se corta tanto na saúde e na educação, parece-me mais racional cortar nas «informaçõezinhas». Para segurança, já existem a PSP, a GNR, o SEF e a PJ. E chegam.

24 comentários :

Anónimo disse...

Argumentos contraditórios. O facto é que a RTP não faz nenhum serviço público em território nacional, tudo o que aponta como sendo serviço público é feito com vantagens pela Zon, Meo, Cabovisão, Vodafone, Bragatel, etc... cujo acesso subsidiado custaria uma parte ínfima daquilo que nos custa a RTP. Para além de representar um problema concorrencial num mercado onde pratica dumping.

A RTP serve apenas como ferramenta política e, em muitos casos, como um lamentável instrumento de formatação de opinião. Anteontem transmitiu uma peça sobre os 100 metros do campeonato da Europa, não sobre Francis Obikwelu, mas sobre a importãncia de um branco ter feito um tempo abaixo dos 10s. Não sei se é isto que chamam de estado social...

A privatização é uma saída, mas o encerramento puro e simples parece-me a medida mais adequada.

Ricardo Alves disse...

Não sei onde os meus argumentos são contraditórios. E respondi à objecção da TV Cabo no texto.

Anónimo disse...

O preço? Mas o preço da RTP é muito maior. Mais vale pagar o cabo ou o satélite com um pacote científico/cultural a quem o solicite. Isso nem sequer é argumento, Ricardo.

Isto sem contar com o custo de se ter uma estação estatal a emitir propaganda racista ou, pior, republicana ;)..-.

Anónimo disse...

Respondido.

no name disse...

parece-me que a independência do poder económico, a maior pluralidade política, a voz do consumidor, o serviço além fronteiras, entre tantas outras coisas são por demais razões gritantes.

mas o divertido na malta liberal é que querem vender tudo como "experiência" de uma prática que realmente nunca foi feita em mais lado nenhum. e depois criticam que repetir práticas de sucesso em portugal não faz sentido pois (ainda) não conseguimos níveis de qualidade equivalentes aos exemplos inspiradores. é completamente ilógico...

Aires Marques disse...

Que post tao irrelevante.

"É verdade que a televisão está cada vez mais obsoleta enquanto meio de informação", mas tambem os vossos argumentos já sao cliches desde o 25 de Abril.

Anónimo disse...

Ricardo S.,

Atendendo que o estado português estoira 50% da riqueza do país, essa da independência do poder económico quase me mandou ao chão a rir. E a da pluralidade política esmagou-me...

Que experiência é que não se faz? Aquela de eu ter 9 ou 10 canais de divulgação científica mais 9 ou 10 de divulgação cultural sem ter que mandar milhares de cidadãos (que são dos que não interessam, nem sequer trabalham para o estado...) para o desemprego? Realmente, que catástrofe isso é para o serviço público...

Ricardo Alves disse...

Aires Marques,
passas anos sem comentar no meu blogue e depois nem te dás ao trabalho de argumentar? Preguiçoso...

Ricardo Alves disse...

«quantum objects»,
pode estruturar os seus comentários de a forma a que se perceba onde quer chegar?

João Vasco disse...

Ricardo Alves:

Concordo com o que escreves a respeito da RTP2. É um canal que proporciona alternativas, uma informação de qualidade - o nível de profundidade das entrevistas, por exemplo, é inigualável por nenhum dos outros canais - e proporciona voz à sociedade civil.
E tudo isto com pouca publicidade e por um custo bastante razoável.

Também concordo com o que escreves sobre o RTP Internacional, e África. Caso se tenha como objectivo "afirmar a língua portuguesa no mundo" (eu não sei se teria), então esta é uma forma muito eficaz face aos custos quase irrelevantes.

Concordo com as vantagens que afirmas existirem no primeiro canal. Mas salientas bem o "que não do político"... Não sei se estas vantagens justificam um canal tão caro, e não me parece boa estratégia «querer pescar nas mesmas águas dos seus concorrentes directo».

Para mim, no que diz respeito à RTP1, há que definir o seu papel. Se presta um serviço público relevante, e é por isso muito diferente da TVI e SIC (e que diferenças relevantes seriam essas?) admite-se um prejuízo como aquele que acontece em relação à operação da RTP2. Mas se é para prestar um serviço público de menor qualidade, mas ter maiores prejuízos, então alguma coisa tem de mudar.

Ricardo Alves disse...

JV,
a questão é que os custos não devem ser facilmente separáveis. Os noticiários aproveitam muito material produzido para a 1, por exemplo (e creio que a Internacional e a África aproveitam séries cujos custos devem ser indexados à 1).

Mas gostaria, sem dúvida, que a RTP 1 se demarcasse mais claramente do estilo e do conteúdo da SIC e da TVI.

João Vasco disse...

Em vez de competir com essas estações pelas audiências, limitava-se a cumprir um serviço público de qualidade que fosse bem menos custoso.

no name disse...

joão: a experiência que não se fez foi privatizar tudo e mais um par de botas, não mantendo qualquer serviço público de televisão...

João Vasco disse...

?

Anónimo disse...

João Vasco,

Acho que a do João era para mim...

Ricardo Alves,

Era uma resposta ao Schiappa. Talvez não se entenda, mas aquilo que eu contestei do comentário dele é que não entendo como pode afirmar que a RTP é independente do poder económico quando ela é parte desse poder económico, ou seja, da elite que controla o estado. Logo a RTP só serve o estado e não o país, como acontece com conjunto de canais emitido pelas empresas de comunicações. E nem se conhece outro meio de distribuir pluralidade que não seja multiplicando as fontes.

R.Schiappa,

Aquilo que estás a falar é de um serviço do estado de televisão, não um serviço público porque esse não é prestado em Portugal pela emissora estatal. Não sei se a experiência se fez ou não, sei que a emissora estatal em Portugal não presta um serviço público. Presta um serviço a alguém, mas não ao público. Por isso não sei para que procuras a experiência se estás a viver uma.

Dei o exemplo da emissão de propaganda racista no último fim-de-semana mas foi um exemplo deste fim-de-semana, poderia achar outros durante a semana. E foi só a RTP que o emitiu. Portando chamar serviço púbico a isto...

Aires Marques disse...

Viva. Eu argumentaria sobre assuntos interessantes, mas sobre a RTP nao... alias, foi-me penoso dedicar tempo a pensar nisso, tempo que que já nao vai voltar.

no name disse...

ora assinas com nome, ora com pseudónimo, não tenho a certeza do que preferes...

a rtp tem falhas? claro que sim, o RA e o JV já apresentaram exemplos (mesmo aqui no ER existem outros posts criticando conteúdos de emissão e a pouca atenção dada pelo provedor). mas o provedor existe, as falhas podem ser apontadas, e podemos (pelo menos tentar) que se corrijam os problemas pois o serviço é público (o que não sucede nos canais privados --- que sim, ao contrário da rtp são dependentes do poder económico privado e basta veres o exemplo italiano para vislumbrar a ameaça que isso pode ser para a democracia).

mas apontar falhas, como fazes, e depois dizer "isto tem falhas, logo, privatize-se" não faz qualquer sentido por duas razões principais: (a) a atitude ignora as muitas outras falhas dos canais privados (que é lá com eles enquanto existir serviço público para preencher lacunas, mas será um problema de todos nós se esse serviço público deixar de existir) e (b) escolhe-se a solução mais acéfala e derrotista, baixando os braços em relação a corrigir os problemas para tentar atingir a excelência no futuro, e contentando-se com a mediocridade do status quo.

finalmente, só mesmo quem nunca morou além fronteiras não consegue perceber o serviço público fundamental que é desempenhado pela rtpi...

ps - e notar que um branco pela primeira vez consegue correr os 100 metros em menos de 10 segundos não é ser-se racista...

Anónimo disse...

r. schiappa,

esta porcaria do blogger assumiu o pseudónimo e agora não se consegue mudar. Devo ter feito um next->next qualquer...

Eu não apontei defeitos. Defeitos todos têm. Eu apontei custos. E não são custos em dinheiro porque esses, enquanto houver credores totós, as costas folgam. São custos económicos. Fazer uma peça sobre a importância de um branco fazer menos de 10s aos 100 metros num campeonato europeu (não foi referência, foi uma peça de telejornal) ou, hoje, uma peça sobre a importância escutismo de inspiração católica como transmissão de valores às crianças, tem custos económicos irreparáveis.
Isto sem falar na permanente propaganda a uma visão única das funções do estado, na qual a RTP é parte interessada e meio de transmissão dos interesses económicos daqueles vivem do contribuinte.

Tudo isto feito com o dinheiro a sair de um 'poço sem fundo', destruindo a concorrência leal e o pluralismo que seria suposto defender e fornecer. Por isso, estou-me nas tintas para a privatização da RTP, a sua extinção pura e simples seria o mais correcto, até porque está a ocupar indevidamente um lugar no mercado. Não pelos defeitos, mas pelos custos económicos gigantescos.

Eu falei na RTP no território nacional. Fora dele, aquilo que disse acima não faz sentido e até posso encontrar vantagens na sua existência. A questão é se não seria facilmente substituída por uma agregação da produção dos demais canais.

no name disse...

bom, eu não vi a peça que tanto te choca, mas a verdade é que o francês é uma novidade genética em relação à velocidade dos disparos elétricos na massa muscular... mesmo aceitando que esse facto tenha sido completamente distorcido não percebo bem para o quê, não invalida que a informação da rtp é várias ordens de grandeza de melhor qualidade que a da sic ou o horror da tvi, em termos de independência e pluralidade. eu nem quero imaginar que berlusconis poderiam aparecer fosse toda a informação controlada por interesses privados, sem qualquer "ilha de bom senso" pública...

Anónimo disse...

R. Schiappa,

Claro que choca, a peça era algo como "nós estamos a lá chegar!". Mas se procuras o porquê, acho que era uma adaptação de uma peça francesa, o que explica a sua existência. E faz-me um favor, não repitas essas dos pretos terem mais isto de electrões e menos aquilo de elastecidade proteica. No fim, essas coisas acabam todas no baú das grandes mentiras nazis porque nunca se verificam. Há uns dias li uma Nature sobre o calçar sapatilhas a correr que explicava as diferenças nas articulações e forma de correr do Quenianos. Afinal a vantagem deles não é genética, é o produto de uma desvantagem económica que os põe a correr descalços em miúdos...

Informação de qualidade é pluralismo. Só. Não é corroboração da tua opinião, que invariavelmente te leva (e a mim, e a toda a gente) a uma percepção de qualidade. A informação veículada pelos operadores de comunicações nuns 18 canais é de certeza melhor, no seu conjunto, que aquela que é veículada pela RTP.

E isto sem contar com os Prós e Prós e os debates entre gente que acha que o estado é muito bom e aquelas que acham que é fantástico.
É que o Berlusconni, pelo menos, teve que se candidatar às eleições. Não fez como cá em que pagam a alguém para fazer esse papel. A televisão do estado está debaixo de interesses económicos muito mais poderosos que a SIC ou a TVI.

no name disse...

joão, não existem 18 canais distintos a produzir informação nacional, existem 3. e, sim, existem diferenças genéticas entre diferentes populações e diferentes etnias, o que é uma observação puramente científica...

Anónimo disse...

Sim, era esse o argumento de Hitler...

Não os contei, mas

ETV, SIC, RTP, TVI, CNN, TVE, RAI, SKY, CBS, Porto, ...

E mais mercado houvesse (menos agentes protegidos) mais canais haveria.

no name disse...

tens razão, a CNN a RAI ou a CBS passam a vida a relatar informação nacional... (sigh)

e não entenderes ou não aceitares dogmáticamente diferenças genéticas entre diferentes populações, não só é cegueira científica, como falha completamente o alvo (de forma perigosa, acrescente-se, as consquências podem rebentar de volta na tua cara em relação ao que aparentemente queres combater): o racismo não diz respeito à observação dessas diferenças (que estão tão bem documentadas que já dão origens a medicamentos distintos para fracções distintas de populações), o racismo diz respeito a achar que podes de alguma forma discriminar quem quer que seja baseado em qualquer tipo de diferenças que existam...

Anónimo disse...

John Watson tinha bem documentado que os pretos eram menos inteligentes que os brancos, um prémio Nobel. Aliás, O prémio Nobel. Nada que leve a discriminação, quem contrata é que pode discriminar ou não...Mas bem documentado estava. Certo não estava, mas bem documentado estava. Ora, Ricardo, tem dó de mim!

Falei-te de 5 canais nacionais - ETV, SIC, RTP, TVI e Porto. Ainda tens redações próprias para a RTP2, África, SIC N, TVI N e RTP N. , que vai em 10. Resta dizer que a RTP nos custa 250 milhões de euros e a facturação total da Zon é de 750 milhões, incluindo televisão, banda larga e voz. Não me parece haver grande discussão sobre quem são os 'necessitados' nesta história...