domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os casos de Sócrates

Parece-me que a análise que o Daniel Oliveira faz sobre os diferentes "casos" que associamos a José Sócrates merece ser reproduzida integralmente. Subscrevo-a na totalidade.

«Aqui vai um texto um pouco maior do que se aconselha neste meio. Quero falar aqui desse assunto tão raro nas colunas de opinião: José Sócrates. Disse Almeida Santos que já o tentaram tramar quatro vezes. E que das quatro vezes falharam. Como as coisas não são todas iguais, como o nem as pessoas nem os factos se dividem entre os que são a favor de Sócrates e os que são contra Sócrates, vale a pena voltar a lembrar do que estamos exactamente a falar.
Fica o meu resumo (e por ser meu, sempre questionável) de cada um dos seis (e não quatro) casos que tomaram muito do nosso tempo (aquele em que podíamos ter estado a discutir a crise e o futuro do país):

O caso da licenciatura. Aqui, a única coisa que interessava saber era se José Sócrates usou o seu poder ou influência política para obter uma licenciatura. Nada do que se soube permite tirar esta conclusão. Não há, por isso, tema.

O caso dos projectos de casas a que deu o seu nome como engenheiro. Das duas uma: ou os projectos eram realmente seus, e tivemos como ministro do ambiente alguém que na sua vida profissional se dedicou a grotescos atentados ao património arquitectónico (e isso é um pouco grave); ou os projectos não eram realmente seus e Sócrates assinou em nome do verdadeiro projectista, e isso é ilegal. A gravidade também depende em nome de quem assinou.

O caso Freeport. A parte da justiça está, ao que parece, encerrada. Manda o rigor que se aceite esse facto. Restam então as dúvidas estritamente políticas: a que se deveu a pressa de, em vésperas de passar o poder para outros, encerrar o licenciamento daquele projecto, tendo em conta todas as dúvidas que subsistiam quer em relação aos efeitos ambientais da obra quer em relação às estranhas alterações que se fizeram aos limites da zona ecológica. Uma coisa é aceitar o encerramento do processo judicial, outra é fingir que é politicamente normal a forma como as coisas foram feitas.

O caso do seu apartamento em Lisboa. Foi avançado pelo jornal "Público". A dúvida, ao que parece, era o preço a que o apartamento foi comprado. Como o jornal não explicitou qual era exactamente a suspeita que recaia sobre Sócrates nem avançou com nenhum dado relevante para que alguma suspeita tivesse sustentação, é um não caso. Nada a dizer a não ser que a notícia foi absurda.

As pressões sobre os jornalistas. Misturaram-se aqui coisas muito diferentes. Desabafos de um primeiro-ministro, processos a jornalistas, telefonemas a directores e uso de publicidade como forma de punir jornais indesejados. Não devemos pôr tudo no mesmo saco. Os jornalistas devem saber viver com as pressões do poder político. Apesar do que dizem algumas virgens com amnésia em relação às suas responsabilidades passadas, muito disto não tem nada de novo.
A questão é saber até que ponto foram usados meios do Estado para silenciar vozes incómodas e se há um padrão de comportamento em José Sócrates que prova não apenas o seu incómodo em relação à descoberta da verdade, mas uma intenção clara e premeditada de diminuir as garantias de liberdade de imprensa. A resposta é para mim evidente: sim, tudo indica que houve essa intenção.
Isto não quer dizer - e basta ler os jornais para o perceber - que esse objectivo tenha sido alcançado. Não foi, como é óbvio. Arrisco-me mesmo a dizer que teve, na maior parte dos casos, o efeito exactamente oposto ao pretendido. Não vivemos nem sem liberdade de expressão nem num processo de berlusconização do país. Quem o disser apenas consegue reduzir a credibilidade das justas queixas sobre relação de José Sócrates com a comunicação social.

O caso PT e TVI. Está a meio. Sem esquecermos as escutas, podemos dizer que Sócrates tem de responder por duas coisas:
Pela colocação de boys pornograficamente pagos em lugares de enorme responsabilidade numa das maiores empresas portuguesas, para, através das golden shares do Estado, ter influência partidária nos negócios da PT. Só quem nos queira tomar por parvos acredita que Rui Pedro Soares chegou onde chegou por mérito profissional. Basta olhar para o seu currículo e para a coincidência de estar várias vezes envolvido em negócios que se cruzam com os interesses políticos de Sócrates - o seu nome volta a aparecer no caso Targuspark/Figo - para perceber o que lá estava a fazer.
Pela mentira. Todas as provas, sem precisarmos de escutas, mostram que Sócrates não disse a verdade ao Parlamento sobre o que sabia e não sabia sobre o assunto.
As escutas, que são parcelares e em alguns casos contraditórias, levantam muitas outras questões, uma delas muito mais grave do que as anteriores: a possibilidade de existir um plano para a utilização de empresas e do Estado no silenciamento de vozes incómodas na comunicação social. Seria de uma gravidade extraordinária. Mas para confirmarmos ou desmentirmos esta suspeita teremos de esperar que muito mais seja conhecido.


A esta sucessão de casos, tem havido duas péssimas reacções:

Primeira: partir do princípio que há uma cabala montada, que envolve mais de metade da comunicação social, e que inventa história mirabolantes que, curiosamente, correspondem todas ao mesmo padrão: falta de rigor profissional, falta de verdade nas declarações que se fazem e dificuldade extrema em viver com um dos mais importantes patrimónios da nossa democracia - a liberdade de imprensa. Este padrão não confirma à priori nenhum facto. Mas muitos dos factos dão-nos este padrão.

Segunda: partir do princípio que todas as suspeitas, desde que sejam sobre José Sócrates, serão verdadeiras. Muita gente já nem pára para ler as notícias e saber da verdade. Se confirma que Sócrates é pouco sério então só pode ser verdade. E qualquer dúvida que se levante sobre qualquer revelação atira o cuidadoso para o campo dos oportunistas e vendidos.
Mais estranho: cada um parece estar obrigado a aplaudir todo aquele que se oponha a José Sócrates e a transformá-lo num freedom fighter. Desculpem, não elevo Mário Crespo, Manuela Moura Guedes ou Felícia Cabrita a heróis libertadores. Nem Sócrates consegue tanto de mim.

A histeria que tomou conta do debate político, dos colunistas e, mais grave, dos próprios jornais. Todos se chegam à frente a ver se ganham a medalha de heroísmo, tentando escrever uma barbaridade maior do que a do vizinho do lado. E do lado oposto estão aqueles que se dispõe a dizer iguais enormidades, a defender o indefensável e a imaginar conspirações delirantes.
No meio desta histeria, que torna o debate político insuportável - é já quase sinal de cedência escrever sobre qualquer outro assunto que não seja José Sócrates -, a falta de rigor e de apego à verdade de que o primeiro-ministro é acusado parece ter tomado conta do país inteiro. Interessa saber se José Sócrates fez o que se diz que ele fez. Mas, se não levarem a mal, a verdade dos factos pode, de vez enquanto, ter voto na matéria

Islamistas infiltram o Partido Trabalhista

Este artigo (via Der Terrorist) afirma que o Islamic Forum of Europe, uma organização que promove a chária, está a infiltrar o Partido Trabalhista do Reino Unido. A fonte é um ministro governamental, e portanto a alegação será credível. Numa autarquia onde têm poder, já terão começado a pedir às escolas, mesmo as que não são de maioria muçulmana, que fechem as portas nos feriados muçulmanos. Com tempo e trabalho, exigirão o véu obrigatório para muçulmanos e não muçulmanas.
Gostaria de saber o que pensa disto o Renato Teixeira, grande defensor da «Resistência Islâmica».

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A guerra é santa e Muamar o seu profeta

Pode um louco ser presidente?

Sim, se o país for a Líbia e o louco for Kadhafi.

Pode um monárquico ser Presidente da República? - Sim, pode. Mas não com o meu voto.

Na sua entrevista à revista Sábado (nº304, 25 de Fevereiro a 3 de Março), Fernando Nobre responde como se segue à questão do regime.
  • «Pergunta - Era monárquico?
  • Resposta - Pertenci há uns anos à Causa Real.
  • Pergunta - Já não pertence e já não é monárquico?
  • Resposta - Sou simpatizante. A História de Portugal não começou em 1910. Temos quase nove séculos de História. Vamos apagar oito e olhar para os últimos 100 anos?
  • Pergunta - A república deve ir a referendo?
  • Resposta - É um tema que dependerá da AR. Nunca será um processo de iniciativa presidencial.»
«Simpatizante» é uma expressão apropriada para descrever o nosso grau de adesão a um partido de que não somos militantes, ou a um clube de futebol de que não somos sócios. Mas, se não sei nem me interessa saber se Fernando Nobre ainda paga as quotas da Causa Real, a questão é que não se é «simpatizante» da República ou da monarquia, da democracia ou da ditadura. Numa questão tão fundamental como a  da forma do regime ou a da forma de governo, ou se é a favor ou contra.

Portugal é uma república democrática. Fernando Nobre diz que é democrata, e eu acredito. Diz que é «simpatizante» da monarquia, e eu fico a pensar que é monárquico. E, quando remete um referendo sobre o regime «para a AR», parece esquecer-se que um Presidente pode vetar propostas de referendo.

Conforme já escrevi, um monárquico pode ser Presidente da República. Mas não pode contar com o meu voto.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um desastre anunciado há dois anos


É uma altura de dor (pois ninguém o nega) tristeza e luto nacional (ninguém o contesta), mas se se apontar o dedo aos responsáveis pelo caos urbanístico que ampliou as consequências desta tragédia (o principal é, sem dúvida, o governo regional) é-se acusado de "canalhice" e de "fazer política baixa". Francamente espanta-me como, com um ambiente destes (criado pela direita) há gente que ainda tem o topete de estar sempre a falar na "ditadura do politicamente correto". O que sucedeu na Madeira poderia suceder: já se sabia há anos, como demonstra este documentário que me foi indicado pelo Rui Curado Silva. Há dez anos caiu uma ponte em Entre-os-Rios e dezenas de pessoas morreram afogadas; o então ministro das obras públicas (um político por quem não tenho especial simpatia) disse que a culpa "não podia morrer solteira" e demitiu-se. (E não é claro que fosse ele o responsável pelo sucedido.) Na catástrofe da Madeira, onde, apesar da intempérie ser grande, a desgraça tem responsáveis muito mais claros, será que a culpa vai morrer solteira?

Declaração de Princípios

Um blogue com quase cinco anos já tem direito a uma declaração de princípios.
  • Declaração de Princípios: «O Esquerda Republicana é um blogue à esquerda, independente dos partidos mas não de valores e causas, republicano, laicista, democrata e plural».
(Nada que os leitores mais atentos não soubessem já.)
Fica na coluna da direita.

Alegre e Nobre: diferenças discursivas

Fernando Nobre (FN) e Manuel Alegre (MA) produziram discursos quase em simultâneo na passada sexta-feira. Enquanto o primeiro fez um discurso de apresentação de candidatura, o segundo continua na disponibilidade, e portanto a comparação não será perfeita. De qualquer modo, vale a pena tentá-la.
  • FN - «Portugueses, Sou candidato a Presidente da República, impulsionado por imperativo moral, de consciência e de cidadania. (...)
  • MA - «Amigos, companheiros e camaradas, Meu caro e querido amigo António Arnaut, Gostaria de vos apertar a todos no mesmo abraço. Estou muito comovido e quero agradecer a todos os que organizaram este jantar. O que se passa aqui hoje, à moda de Coimbra, é cidadania, nada mais que cidadania, pura cidadania (...)
  • FN - Sou democrata, patriota e com particular sensibilidade social e humanística. Tenho orgulho de ser português e, trago bem enraizadas em mim as marcas da multiculturalidade, da lusofonia e de uma profunda mundivivência. (...)
  • MA - Sou um republicano para quem a ética republicana não se funda apenas na lei, mas na consciência e no comportamento. Sou um socialista para quem o socialismo, antes de ser uma ideologia e um projecto de poder, é uma ética e um humanismo. Sou um democrata para quem a democracia deve ser uma vivência transparente e não um jogo obscuro de poder pelo poder. Sou um patriota para quem Portugal não é um sítio, mas uma história, uma língua, uma cultura, uma identidade. (...)



Bernard Henri-Levy sobre a burca

Artigo descoberto via Jugular (sim!).
  •  «Há quem diga: "A burca é um vestido ou, quando muito, um fato. Não vamos agora criar leis sobre vestuário." Errado: a burca não é um traje. É um ultraje. É uma mensagem que transmite claramente subjugação, subserviência e, em última instância, a aniquilação das mulheres.
  • Outros dizem: "Talvez seja subjugação, mas são usadas com o consentimento de quem as enverga. Não são maridos maliciosos, pais abusadores ou tiranos locais que obrigam as mulheres a usá--las." Isso é tudo muito bonito, mas essa teoria da servidão voluntária nunca colheu como argumento. Um escravo feliz nunca justificou a infâmia essencial, fundamental e ontológica da escravatura. (...)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A manipulação quando nasce é para todos

A escuto-novela PT/TVI tem mais um desenvolvimento: prova-se que Manuela Ferreira Leite estava a par do que se passava, e que inclusivamente fez uma intervenção política porque «sabia» que o contrato tinha sido assinado uma hora antes (não fora).

Uma pessoa põe-se a pensar quantas negociatas destas estão a acontecer, a cada momento, e apercebe-se de que o real problema não são os políticos.

Neste caso, a orquestração total parece mesmo ter sido de José Eduardo Moniz, que, presumivelmente, se manteve com o intermediário de Sócrates num telefone e o intermediário de Ferreira Leite no outro telefone, enquanto procurava o seu interesse pessoal. Ou foi dizendo que sim aos do PS, enquanto dizia aos do PSD «sabem o que eles querem fazer?».

É um mundo lindo. Quase que fico com saudades do Vasco Gonçalves: com media estatizados, poderíamos responsabilizar os mediacratas pelos seus actos. Politicamente. No regime actual, o poder mediático obedece a uma agenda ideológica e económica oculta. E não é responsabilizável.

Revista de blogues (24/2/2010)

1. «Andar de cara tapada ou destapada não é opção de moda ou idiossincrasia cultural. Em regra as pessoas não andam de cara tapada quando interagem com outros. Além de ser a parte mais expressiva do nosso corpo, a cara é a forma de nos identificarmos. (...) Andar de cara tapada é uma atitude ameaçadora, porque uma pessoa que esconde assim o que quer e quem é não parece vir com com boas intenções. Em todas as culturas há uma aversão natural a quem aja assim. (...) Os franceses querem proibir o uso da burka em espaços públicos e há quem diga que isto é atentar contra os direitos e costumes daquelas mulheres. Não é uma crítica muito acertada porque os costumes visados são mais os dos “donos” dessas mulheres.» (Ludwig Krippahl)
2. «O ateísmo é definido sempre pela negativa (a-teísmo, des-crença) como se existisse só em função das religiões e não tivesse mérito próprio para responder às manifestações religiosas e pseudo-científicas com uma abordagem científica, racionalista e humanista. (...) O caminho faz-se caminhando, como diz num belo poema o poeta andaluz, António Machado, e o ateísmo tem vindo a afirmar-se como o espaço onde homens e mulheres constroem os seus valores e uma moral humanista alheia aos caprichos dos deuses e às ameaças do Inferno. A história do ateísmo é também a história desse combate pela autonomia da moral, sem especulações metafísicas nem orientação espiritual do clero.» (Carlos Esperança)

Obama

Muitas vezes a diferença está nos pormenores. Não é este, obviamente, o caso. Bush foi um presidente delinquente, um camorrista, e Obama é um homem culto e civilizado. Mas os pormenores contam imenso. Ao fim de sete anos, os pais de Rachel Corrie vão finalmente poder pedir explicações ao estado israelita pelo assassinato brutal da sua filha.

A Oeste Nada de Novo

Mas mesmo assim, isto é interessante: As religiões nos EUA e o rendimento médio dos crentes. Como é sabido, judeus e indus são os praticantes com mais dinheiro. E os evangélicos e jeovás, a plataforma de apoio do George W. e da Dona Sarah Palin, os mais pobres.

Julgo que os rendimentos se referem a agregados familiares e não a indivíduos (estaríamos lindamente se 18% da população ganhásse mais de $100k por ano, mas não é assim).

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Rangel não se lembra de entrar no CDS, mas recorda-se de sair

  1. «Chegou a fazer parte do CDS? Sim, participei nuns conselhos? Mas foi mesmo militante? Isso é que eu também não sei? Eu tenho um problema com as militâncias (risos). Mas assinou um cartãozinho? Não sei se assinei. Não me lembro bem. Estou a dizer a verdade? A sério que não se lembra? Não me lembro!» (Paulo Rangel, entrevista ao i, 19/5/2009)
  2. «Afinal, foi ou não foi militante do CDS? Paulo Rangel - Não sei. Eu apoiei de forma informal e muito activa a candidatura de António Lobo Xavier à presidência do CDS contra Manuel Monteiro. E isto porque tínhamos uma proximidade muito grande. E nessa altura não sei se assinei alguma ficha ou não. Não me lembro.» (Paulo Rangel, entrevista ao Correio da Manhã, 24/5/2009)
  3. «Paulo Rangel foi militante do CDS durante cerca de três anos. A ficha de admissão no partido – então liderado por Manuel Monteiro, a que o CM teve acesso – foi assinada em Outubro de 1996 (...) O pedido de renúncia surgiu só em Março de 1999.» (Correio da Manhã, 22/2/2010)
  4. «"Nunca escondi a ligação ao CDS, apenas disse que não me recordava de me ter filiado" (...) "Escrevi a carta de renúncia no dia em que Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Portas romperam com o acordo para a Alternativa Democrática (AD)", esclarece. E enviou-a a 30 de Março de 1999, recorda agora com clareza o candidato a líder do PSD.» (Diário de Notícias, 23/2/2010)
Há um amigo meu que também só se lembra de acordar com a boca a saber a papel de música e um estafermo ao lado. Pelo menos, é o que ele diz.

    Ora aí está uma excelente ideia

    A Entidade Reguladora para a Comunicação Social quer saber quem são os donos dos meios de comunicação social em Portugal. Parece-me excelente. Só sabendo quem compra e paga a comida que nos metem no prato saberemos porque ela nos cheira, tantas vezes, tão mal.

    Tristes tempos em que até Isaltino pode fazer figura de homem honrado

    Isaltino Morais não prolonga contrato entre Tagus Park e Figo

    Despropositada é a comparação "A Câmara de Oeiras vai fazer tudo para que não haja partidarização do Tagus Park. É mau se o pólo se transformar em mais uma empresa pública para acolher os boys daqui ou de além". Logo a Câmara de Oeiras, esse exemplo de seriedade.

    segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

    Esquerda radical e islamofascismo: a mesma luta?

    O Renato Teixeira do Cinco Dias descobriu um novo espectro que anda pelo mundo - o espectro do islamofascismo. Todos os poderes europeus e norte-americanos lhe dão luta, portanto há que alinhar ao seu lado. Nem mais nem menos.

    A motivação principal é o combate ao imperialismo (estado-unidense). Quando o Hamas e o Hezbollah enfrentam Israel, o Irão desafia o mundo com o seu programa nuclear, os talibã se mantêm há  mais de oito anos em guerra intermitente contra a NATO, e a Al-Qaeda rebenta homens-bomba um pouco por todo o lado, do Iraque a Londres, Madrid e Nova Iorque, é certo que há um movimento político global que se opõe às democracias laicas. A natureza desse movimento parece não incomodar por aí além o Renato Teixeira, que presumo ser um marxista e um revolucionário.

    E no entanto, desde 1979 que os países de população islâmica se começaram a afastar das simpatias pós-coloniais por um socialismo laico (sempre bastante vago, à moda de Nasser). Com a revolução islâmica no Irão, a sobrevivência alimentada a petróleo do regime mais retrógrado do planeta (a Arábia Saudita), a vitória dos mujahedin no Afeganistão e a quase vitória da FIS na Argélia, e, mais recentemente, a substituição da OLP pelo Hamas na liderança efectiva da Palestina, e avanços islamistas em países tão distintos como a Somália ou a Turquia, o que confrontamos hoje é um movimento islamofascista global, que representa um perigo imenso para os direitos humanos das mulheres, das minorias culturais e sexuais, e para as liberdades.

    E este movimento está presente na Europa, como se vê nos incidentes anti-semitas em Malmöe (Suécia), ou pela perseguição continuada a um cartunista anarquista (na Dinamarca). Hoje, na Europa, não são apenas os neonazis racistas que representam um perigo para judeus e homossexuais. São também os fascistas que saem das mesquitas radicais.

    Não entender isto, e manifestar simpatia pelos islamofascistas com o argumento de que se opõem ao «imperialismo», é alimentar o mais reaccionário movimento político do planeta.

    E, de certo modo, é trágico: os bisnetos de Lenine aliam-se aos czares contra Kerenski. Preferem o fascismo verde à democracia «burguesa». Para que serve esquerda desta?

    domingo, 21 de fevereiro de 2010

    Israel: uma democracia assassina?

    O primeiro ministro da democracia israelita terá dado ordem directa para assassinar o líder do Hamas num hotel do Dubai.Terão sido usados passaportes diplomáticos europeus (falsos).


    A Mossad tem uma longa história de operações deste género. O consenso interno (em Israel) parece ser de que são necessárias. Mas não é possível conviver com isto e continuar a considerar Israel um modelo de respeito pelos Direitos do Homem. Com apoio maioritário ou não, há actos que desonram quem os tolera ou, pior, os promove.

    O que significa o véu islâmico?

    Não há melhor do que dar a palavra aos muçulmanos:
    • «É absurdo pensar que o hijab, que faz parte da fé islâmica, "simboliza a desigualdade sexual e o aprisionamento das mulheres". Os que têm como fonte de conhecimento os meios de comunicação ocidentais têm esta imagem. Na verdade, vivem num paraíso de tolos ao aceitar o slogan ocidental de que o Islão oprime as mulheres. (...) O Islão preserva a dignidade das mulheres e recusa que ela seja possuída por estranhos. São as mulheres não muçulmanas e as muçulmanas "emancipadas" que são dignas de pena por mostrarem a sua privacidade para todos verem.
      A verdade é que o hijab foi decretado não para degradar as mulheres, mas para proteger a sua modéstia e honra. É tão bárbaro colocar um elevado prémio sobre a honra das nossas mães, irmãs e mulheres? É errado respeitá-las? Deve uma mulher estar semi-nua para ser civilizada e decente? A resposta é clara: o Islão não é repressivo nem escraviza a mulher.» (Al Furqan)
    E mais, ler testemunhos de mulheres islâmicas:
    • «Embora tenha nascido americana, sou muçulmana há muitos anos, louvado seja Deus, e escolhi usar o hijab de acordo com a Lei Divina. A Charia pede que a mulher muçulmana se cubra da cabeça aos pés deixando só a cara e as mãos descobertas. Cobrir-se (hijab) não é um sinal de atraso, ignorância ou incompetência mental, mas o dever de uma mulher e o seu direito. O uso do hijab protege as mulheres da perseguição dos homens. É também um símbolo de devoção religiosa tal como de obediência a Deus.» (idem)
    Espero que seja esclarecedor.

    Quinto inquérito: laicidade

    Neste inquérito, vamos tentar entender se os leitores deste blogue compreendem realmente do que se está a falar quando se fala de laicidade.
    Questão: a laicidade, para si, significa que (escolha múltipla):
    • O Estado não adopta uma religião
    • O Estado persegue a religião
    • O Estado financia actividades religiosas
    • O Estado não financia actividades religiosas
    • As igrejas exprimem-se livremente
    • Os cidadãos criticam a religião livremente
    • Argumentos religiosos não têm validade política
    • Há ensino religioso na escola pública
    • Não há ensino religioso na escola pública
    • As procissões são como quaisquer outras manifestações
    • As procissões são inteiramente livres
    • Só é reconhecido o casamento civil
    • Os casamentos religiosos têm efeitos civis
    • Uma associação religiosa é como as outras associações
    • As associações religiosas têm direitos específicos
    • Há Concordatas
    • Não há Concordatas
    • A lei é a mesma para todos
    • Quem pertence a uma religião tem certos direitos
    • Nenhuma das respostas anteriores
    Note-se que não é apenas possível escolher várias hipóteses: é recomendável. Uma resposta completa pode até significar escolher cerca de metade das hipóteses.
    O inquérito dura até 5 de Março.

      sábado, 20 de fevereiro de 2010

      Resultados do quarto inquérito: eleição presidencial

      Num momento de grande agitação em torno da questão presidencial, o nosso quarto inquérito tinha a pergunta: qual será o melhor candidato da esquerda para derrotar Cavaco Silva em 2011?
      Resultados (em número de respostas e percentagem):
      • Ana Gomes: 5 votos (3.7%)
      • António Costa: 3 votos (2.2%)
      • António Guterres: 8 votos (6%)
      • António Vitorino: 2 votos (1.5%)
      • Carlos Carvalhas: 0 votos (0%)
      • Carvalho da Silva: 9 votos (6.7%)
      • Fernando Rosas: 1 voto (0.7%)
      • Ferro Rodrigues: 4 votos (3%)
      • Francisco Louçã: 1 voto (0.7%)
      • Garcia Pereira: 6 votos (4.5%)
      • Helena Roseta: 0 votos (0%)
      • Jaime Gama: 12 votos (9%)
      • Jerónimo de Sousa: 2 votos (1.5%)
      • Jorge Sampaio: 9 votos (6.7%)
      • Manuel Alegre: 45 votos (33.6%)
      • Maria de Belém: 1 voto (0.7%)
      • Mário Soares: 3 votos (2.2%) 
      • Odete Santos: 15 votos (11.2%)
      • Outro/Outra: 8 votos (6%)
      O inquérito contou com a participação de 134 respondentes.
      O próximo inquérito começará amanhã.

      Grandiosa manifestação clerical e neonazi na Av. da Liberdade: três mil pessoas(?)

      A manifestação convocada pelos fascistas do PNR e pelos clericais das associações pró-«família tradicional» juntou de duas mil e quinhentas a cinco mil pessoas.
      Se foi por causa desta tropa fandanga de beatos, freiras, cabeças rapadas e monárquicos que o Sócrates não aprovou já a adopção de crianças por casais do mesmo sexo, foi muito maricas.
      Cavaco ficou com menos espaço para vetar.
      (A imagem é do Cinco Dias.)

      Blasfémias, Sócrates e escutas

      Apesar de acreditar que muito do que lá é escrito é equivocado ou mesmo disparatado, um dos blogues que vou acompanhando com regularidade é o Blasfémias.

      Mas, a propósito do caso das escutas, vi lá dois textos que me pareceram certeiros. O primeiro é de Carlos Amorim:

      «Face ao imparável declive ético e político de Sócrates, o PS atém-se a uma atitude de resguardo aperreado do poder pelo poder – o que condicionará o futuro do partido por muitos anos.
      Se o PS mudasse higienicamente de líder ficaria em condições de enfrentar os desafios da governação de cabeça limpa e discurso tranquilo. Ao contrário, parece ter optado por se barricar no bunker que a falta de vergonha do seu Chefe tramou para si e para os que não têm pudor em serem comparados com ele.
      Um Governo assim não governa coisa nenhuma, apenas gere de forma desconexa a sua morte adiada.
      O PS pagará bem caro este apoio deplorável.
      Em vez de ser o partido da liberdade e da democracia passará a representar o pior do regime – a malta de Sócrates, de Vara e do Soares da PT.
      »

      É verdade que o PS era, até recentemente, o partido da liberdade e da democracia. Antes da governação Sócrates, o pior dos abusos de poder, da governação de pendor autoritarista, das tentativas de controlo da comunicação social, era «propriedade» do PSD, com Alberto João Jardim como a cereja em cima desse bolo.

      Mas o PS parece estar a abdicar desse património valioso, de defensor da liberdade e da democracia, na forma como se tem comportado perante esta situação. O texto do João Miranda esclarece aquilo que tenho visto a acontecer da parte do PS:

      «Enfrentado o inimigo às arrecuas

      Linha de defesa nº1: Não há provas de que as escutas existam. Pode ser invenção dos jornais.

      Linha de defesa nº2: As escutas existem, mas escutar o Primeiro-Ministro é ilegal

      Linha de defesa nº3: Pronto, também existem escutas aos boys do PS. Existem escutas legais, mas divulgá-las é violação do segredo de justiça

      Linha de defesa nº4: Tá bem. O caso foi arquivado, as escutas podem não estar em segredo de justiça. Mas divulgar escutas é violação de privacidade

      Linha de defesa nº5: Pronto. Eles não discutiam a vida privada. Pode ter interesse público. Se calhar não é violação de privacidade, mas as escutas estão descontextualizadas

      Linha de defesa nº6: Ok. Tá bem. Não imagino que contexto é que desculparia aqueles fulanos. Mas que fique claro, isto foi tudo iniciativa dos boys do PS. O Sócrates não sabia de nada.

      Linha de defesa nº7: Para alem do mais, todos os partidos fazem o mesmo. E se falássemos do caso BPN?

      Linha de defesa nº8: Sócrates? Nunca me enganou. Fez muito mal ao país e ao PS.»



      Alguém comentou: «Dentro do PS há muito que se anda a tocar a oitava, mas quem tem acesso às primeiras páginas é o grupo dos hotéis. Quanto menos transparente é um partido mais as pessoas se colocam numa linha de defesa de nível inferior à medida que se aproxima alguém do comité central.»

      Espero que esses tenham falado alto e cedo. Parece-me que quem chega à oitava apenas depois de se terem esgotado as anteriores, perde, aos olhos de observadores descomprometidos, toda a credibilidade.

      O PS não vai ficar eternamente no poder. E quando (não é "se", é "quando") o PSD tentar manipular e controlar a comunicação social, as críticas que o PS fará podem ser vistas como oportunismo político, como clubismo, como intriga partidária, ou ser vistas como críticas legítimas e justas de quem tem preocupação genuína pela liberdade de imprensa. É importante que a segunda opção prevaleça, esteja o PS ou o PSD no poder, para que o país não fique a perder. Mas para que isso aconteça é necessário que todos os envolvidos na monumental fraude que foi agora descoberta sejam exemplarmente castigados. E isto inclui Sócrates, quer ele tenha dado ordens directas aos seus colaboradores próximos, quer não o tenha feito. Ele tem responsabilidade política pelo que aconteceu, mesmo que em termos criminais esteja inocente.

      O primeiro ministro tem obrigação de proteger a riqueza pública. Que seja gasto o dinheiro de todos nós para que Luís Figo declare o seu apoio a um partido (para dar um exemplo) é algo que nenhum militante do PS admitiria se o partido em causa fosse o PSD. Por favor, sejam coerentes e critiquem duramente (e publicamente) os responsáveis políticos pelo que aconteceu - não sacrifiquem a credibilidade das ideias que defendem em nome de uma táctica tosca, de curto prazo, de manutenção do poder.

      sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

      E as fotocópias com saliva?

      Nem é particularmente a "teatralidade" o que mais me incomoda no espetáculo que Mário Crespo deu esta semana na Comissão Parlamentar. O fulano tem o direito a ser um mau ator. O que me incomodou, e tratou-se de um péssimo exemplo, foi Crespo lamber os dedos antes de distribuir uma folha a cada deputado (com uma "crónica" ridícula que toda a gente já tinha lido). Além de mau cronista é  porco. Ninguém lhe disse isso?

      "Um objetivo claro"

      Via o (bem) regressado Tiago Barbosa Ribeiro.

      Hitchens: do ateísmo ao combate ao islamismo

      Foi uma excelente iniciativa da Casa Pessoa, a conferência de ontem com Christopher Hitchens. É raro podermos sentir que Portugal não fica de fora do movimento global de ideias.

      Hitchens começou com uma citação de Marx, e com algumas memórias, dos anos 70, dos seus contactos com revolucionários africanos de língua portuguesa.

      A citação do «ópio do povo», descontextualizada como habitualmente, é reduzida a um bitaite anti-religioso. Na opinião de Hitchens, é mais do que isso: Marx entendia a crítica da religião como o início do processo que liberta o homem para questionar a sua condição.

      No início da parte mais formal da sua conferência, Hitchens sublinhou como «Deus» retira o homem da sua liberdade, ao condicionar o seu pensamento ao de um «criador» que estabeleceu o que é certo e errado. Precisou a distinção entre o deísmo (mera fé) do teísmo (que já presume uma religião revelada, com os seus textos dogmáticos e as suas regras normativas inquestionáveis).

      Christopher Hitchens é um bom conferencista. Exprime-se com clareza, em frases curtas, leu os clássicos do iluminismo (mais os anglo-saxónicos, todavia), acompanha as descobertas científicas actuais, e trata de questões complexas com frases certeiras, rematadas com o humor altivo típico da sua formação oxfordiana.

      Existem, sem dúvida, boas razões para o regresso de um ateísmo combativo: a persistência de irracionalidades supersticiosas que impedem um mundo mais justo; as tentativas renitentes de interferir na política das democracias; e o islamismo radical.

      Foi só na parte final da sua intervenção, e em particular no período de perguntas, que Hitchens insistiu mais na questão do islamismo radical enquanto movimento global. Está correcto quando afirma que se trata do único movimento totalitário global em ascensão no mundo actual; e quando acrescenta que boa parte da esquerda europeia renunciou a confrontar esse movimento, com o argumento do «anti-imperialismo»; é injusto quando diz que a Europa, toda, desistiu. Porque, na verdade, muitas correntes políticas na Europa percebem bem o que o extremismo islâmico na Europa significa. A proibição do véu nos serviços públicos, na França de 2004, é um sinal claro de que pelo menos um país ainda entende que o laicismo não se resume à separação entre o Estado e a igreja (católica).

      A pretexto de um autógrafo, troquei mais algumas palavras com o homem. Interessava-me sobretudo entender que limites entende que se devem colocar no combate contra o islamismo. Disse-me que Geert Wilders apela aos «sentimentos errados» mas que, se fosse suíço, não saberia como votar no referendo sobre os minaretes («que são a coisa mais bonita no Islão»). Mostrou-se também sensível ao perigo que representam a Arábia Saudita e o Paquistão. A insistência no Irão aparece, portanto, como escusada. E como um alinhamento excessivo com a política externa dos EUA. O que me parece desnecessário.

      No fundo, Hitchens ainda tem algo de marxista: a convicção de que é viável uma «guerra permanente» contra os movimentos reaccionários activos no mundo. Mas é lamentável que não tenha retirado a lição do que isso significou no Iraque.

      Notas dispersas

      1. Mário Crespo fez, esta semana, uma palhaçada numa audição parlamentar, queixando-se de «censura». Registe-se que colaborou com Kaulza de Arriaga na fase de Wiryamu e com o regime do apartheid, e que não parece lamentá-lo. Entrou também em polémica com Belém.
      2. O jornal Sol é propriedade de empresários angolanos. Assim se entende o porquê de ter havido uma edição «amaciada» para Angola.
      3. O futebolista Luís Figo poderá ter sido recompensado com dinheiro público pelo seu apoio a Sócrates. José Mourinho terá recusado algo semelhante.
      4. O jornal i foi visado nas escutas-privadas-que-são-publicadas-pelo-Sol. E não gostou.

      «Novo» Diário Ateísta

      A casa histórica do ateísmo português, o Diário Ateísta, está de cara lavada. Uma boa notícia para o blogue em que me iniciei nestas lides, e que chegou, em tempos, a ser dos três ou quatro mais lidos da blogo-esfera.

      quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

      Um Presidente da República monárquico?

      Fernando Nobre é dado como monárquico pela Causa Monárquica e pelos Realistas (e também por bloguistas monárquicos). É presidente da Assembleia Geral do Instituto da Democracia Portuguesa, associação filo-monárquica cujo Presidente de Honra se faz tratar por «Dom Duarte de Bragança», e cuja «Missão» inclui, estatutariamente:
      • «A Associação defende a necessidade de Portugal evoluir politicamente para uma sociedade mais democrática no âmbito do princípio de soberania popular e no pleno respeito pelo Estado de Direito, nomeadamente através da liberdade de definição constitucional da forma de governo.»
      Esclareça-se: a República é de todos, e qualquer cidadão deve poder ser Presidente, inclusivamente os monárquicos. Mas as convicções políticas dos candidatos, particularmente sobre a questão do regime, não são, não podem ser, indiferentes. Mesmo que outras razões não pesassem, muito dificilmente votarei num monárquico para Presidente da República.
      E mais: com esta candidatura, arriscamo-nos a perder um bom activista humanitário ganhando um mau Presidente. Ou a perder um bom activista ganhando um candidato cujo objectivo principal parece ser barrar o caminho a Manuel Alegre.

      quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

      Fernando Nobre candidata-se à Presidência da República

      Tenho um enorme respeito pela obra humanitária e pela postura cívica de Fernando Nobre, mas dificilmente votarei em alguém que nunca foi eleito para um cargo político, nem nunca exerceu um cargo no Governo ou nas autarquias. A política tem os seus costumes, práticas e segredos que, nem sempre sendo recomendáveis ou inacessíveis a estranhos, não se aprendem instantaneamente. É certo que qualquer cidadão se pode candidatar; mas é necessário ter experiência específica no CV.

      Aguarda-se manifestação em frente à embaixada de Angola

      • «O artigo de fundo sobre as escutas do caso Face Oculta que na edição portuguesa ocupa quatro páginas foi reduzido para apenas duas na versão angolana. O texto que surge nas páginas 4 e 5 relatando vários passos no alegado plano para controlar a comunicação social foi encurtado na versão angolana do SOL.
        As diferenças são ainda mais evidentes nas páginas 6 e 7 que relatavam o envolvimento de Joaquim Oliveira. A fotografia do dono da Controlinveste, proprietária do DN, TSF e JN desapareceu na edição angolana e foi substituída por um anúncio de promoção ao próprio jornal.
        Esta alteração já está a ter uma leitura política em Luanda. Joaquim Oliveira é sócio da ZON empresa da qual Isabel dos Santos, filha do presidente angolano, também é accionista.
        » (SIC, 12/2/2010)
      •  «Mário de Carvalho, jornalista português contratado para coordenar a delegação do Sol, em Luanda, demitiu-se – aparentemente por considerar diminuta a liberdade editorial de que dispunha. Por imposição dos accionistas angolanos que controlam a empresa, foi substituído pelo jornalista Luis Costa Branco (ex-SIC), casado com a manequim Nayma Mingas.» (Angola Digital News, 16/2/2010)

      Michael Shermer

      Michael Shermer no TED. Delicioso: começa com um detector de marijuana que custa 900 dólares :o)

      terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

      segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

      Violações e abusos de menores

      Nove meses depois das revelações terríveis do Relatório Ryan, o papa declara que quer que os criminosos se arrependam. Tenho a certeza de que eles já se arrependeram. A brutalidade exercida sobre talvez 30 mil crianças irlandesas deve aliás ser uma excepção, juntamente com as 11 mil dos EUA...

      Inês Pedrosa sobre a burca

      Aquando da polémica sobre as declarações de Saramago, Inês Pedrosa foi das poucas pessoas a compreender como aquilo que Saramago dizia era justo, necessário e até urgente. Sobre a burca, também não se engana.
      • «A lei destinada a proibir o uso da burka no espaço público francês tem causado uma polémica incompreensível. Uma mulher da tribo Bororo pode passear-se por Paris com o seu traje típico, que consiste no corpo nu pintado com argila? Uma francesa pode entrar numa repartição pública com o biquíni que usa na praia? (...) Mesmo que muitas dessas mulheres se manifestem defensoras do traje que as anula, a nossa liberdade acaba onde começa a dos outros - e um ser fantasmático, sem rosto, sem identidade, é uma ameaça evidente a todos os outros que circulam no espaço público. (...) E não faz sentido que, num país com as responsabilidades históricas que a França tem na conquista de uma civilização laica, com direitos iguais para todos, se passeiem pelas ruas mulheres tapadas como monstros ou criminosos. O exemplo da humilhação humilha - a burka é um enxovalho para todas as mulheres e homens que se vêem como seres livres e iguais. (...) A liberdade inclui o disparate. Mas não inclui a tolerância para com o esmagamento das mulheres debaixo de burkas.» (Expresso)

      A «via socialista» para o neoliberalismo

      Ao passar do Estado para uma «entidade pública empresarial» a propriedade de 332 das 445 escolas secundárias do continente, o governo «socialista» em funções facilita a futura alienação (privatização) dos edifícios das escolas públicas.

      Assim se alivia, para já, a despesa do Estado, e se facilita também a adjudicação de projectos sem concurso. Dois em um: desorçamenta-se, e põe-se a construção civil, essa grande indústria portuguesa, a mexer.

      Possivelmente, o actual governo não irá mais longe, mas num futuro governo PSD-CDS este importante património, em boa parte localizado no centro das cidades, poderá ser vendido. Como se diz no Ponte Europa, «no ano em que se comemora o I Centenário da República Portuguesa, corremos o risco de abrirmos caminho para o derrube de uma das emblemáticas bandeiras republicanas: A Escola Pública».

      É o «socialismo» que temos.

      domingo, 14 de fevereiro de 2010

      Revista de blogues (14/2/2010)

      1. «(...) Mas o perigo para a liberdade de informação, o perigo que os socialistas deviam combater, é precisamente o controle quase total da comunicação por grupos económicos- Controlinveste, Ongoing, Media capital, PT, etc.
        Aquilo a que os socialistas chamam “a vergonha” é um episódio da concorrência entre esses grupos, da luta contínua pelo controle dos conteúdos, da relação intíma entre o poder politico, os seus homens de mão nas empresas e os patrões dos media.
        (...)» (Luís Januário)
      2. «Segundo a Lusa o consumo de electricidade chinês, um dos dados mais fiáveis no país para conhecer o ritmo de crescimento da economia, cresceu 40,14 por cento homólogos em Janeiro, anunciou hoje a Administração Nacional de Energia.
        Este crescimento do consumo, para 353 100 milhões de kilowatts hora, compara com igual mês do ano passado, refere a Administração Nacional de Energia (ANE) na sua página na Internet.
        (...) É este tipo de coisas, publicado nas páginas interiores dos jornais, que está realmente a transformar o mundo.» (Fernando Penim Redondo)

      Centenário da República: algumas iniciativas locais

      As celebrações da implantação da República mexem ao nível dos municípios. Veja-se, por exemplo, a existência de associações e blogues no Porto, em Coimbra, na Figueira da Foz ou em Alcácer do Sal, ou iniciativas como a da Câmara Municipal da Moita, assim justificada:
      • «Deve-se também relembrar e enfatizar a Constituição Republicana de 1911, que erigiu as estruturas políticas e institucionais que garantiram o sistema de governo parlamentar, a extinção dos foros de nobreza e dos títulos nobiliárquicos, o reconhecimento do habeas corpus, os crimes de responsabilidade de titulares de cargos políticos, a fiscalização judicial da constitucionalidade das leis, a autonomia e referendo municipais, a alteração às leis da família, do registo civil, a separação da Igreja e do Estado e a instituição do ensino obrigatório. Factos que, apesar dos constrangimentos e proibições da ditadura, perduram e marcaram positiva e civilizacionalmente a sociedade actual, pela reposição da liberdade em 25 de Abril de 1974.»
      Como é sabido, a República foi proclamada no dia 4 de Outubro de 1910 em várias localidades do país, como Loures, Grândola, e a quase totalidade da península de Setúbal. Na Moita, a vereação, maioritariamente republicana, reuniu-se na madrugada de 4 de Outubro e votou a proclamação da República.

      Não assinar

      Não assinarei a petição «Pela democracia, nós tomamos partido», como não assinei a petição «Todos pela liberdade». Quando se formam facções de sinal oposto, polarizadas e polarizadoras, o meu primeiro impulso é saltar fora. Não gosto de rebanhos nem de oposições tribalescas. Estou à esquerda (ver o nome do blogue), mas gosto de pessoas de direita e do que defendem.


      Não assinei a primeira petição porque não achei (e não acho) que a «Liberdade» estivesse em causa, e porque o problema não é apenas a personalidade susceptível à crítica e dada a autoritarismos de José Sócrates. É também o controlo que os media exercem sobre a política, de forma manipuladora e demasiadamente próxima dos grupos económicos.


      E não assinarei a segunda porque aborda o segundo problema (superficialmente), ignorando o primeiro.


      Enfim, quando se formam duas filas hostis, quem se recusa a alinhar será atacado em duas frentes. Seja. Antes isso.

      sábado, 13 de fevereiro de 2010

      750 mil euros

      O xenófobo Luís Figo, popularizado pela indústria do entretenimento futebolística, recebeu 750 mil euros para tomar o pequeno-almoço com José Sócrates no último dia da campanha eleitoral. A PT pagou a conta, e não me refiro ao pequeno-almoço.

      730.230 Euros

      Foi o custo das deslocações de Durão Barroso em 2009, em plena crise económica.

      Como se ele tivesse moral para falar

      sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

      Revista de blogues (12-02-2010)

      O candidato peronista, por Ana Gomes.
      E o “Sol” brilhará para todos nós, por Daniel Oliveira. Imperdível.

      O escândalo que se segue

      Comprei o Sol hoje. Dei o dinheiro por mal empregue. Relativamente à semana passada, não avança nada de substancial. Se ficou «provado» que a equipa de Vara, obedecendo a Sócrates ou reportando a Sócrates (nunca saberemos), tentou usar a PT para controlar a TVI, a verdade é que o negócio falhou. O que deixa a intenção e os métodos. Que são feios sem serem criminais. Sócrates não merece ser Primeiro Ministro mas vai sobreviver.

      Ah, mas afinal há qualquer coisa de substancial no Sol. É assim: «[Moniz fez] jogo triplo (...) Foi ele que ao mesmo tempo que estava a negociar connosco e a dizer aos espanhóis que queria sair, também foi ele que andava a dizer ao PR que o queriam pôr fora». O que começa a parecer uma armadilha. E que levanta a questão de fundo.

      Porque o poder já não é político. É mediático e económico. Como diz este:
      • «Promovido pelos pseudo defensores/mártires da liberdade de informação/expressão, este é o polvo que resolveu o problema “Santana Lopes”, que está a resolver o problema “José Sócrates” e que resolverá o próximo problema, seja de que partido for. É que, ao contrário do que muitos pensam, isto não é uma questão de partidos ou carácteres. Este polvo não quer saber disso. Apenas está interessado em instituir uma nova ideia de Estado de Direito assente na seguinte trave mestra: todos devemos ser responsabilizados pelos actos que praticamos, excepto eles próprios. Porque quem os tenta responsabilizar está a promover a institucionalização da censura. (...) é este polvo que, em parceria com uma face oculta do meio judicial português, nos passou a dizer o que está ou não provado, quem é culpado/inocente, quem pode ou não governar, o que é o interesse público, enfim, a diferença entre o bem e o mal. Quando assim é, o voto passa a ter uma importância muito relativa…» (31 da Armada)
      Tudo visto, os senhores dos grupos económicos estão todos enrolados uns com os outros. Os media são um meio, e não sei se o próprio governo não será um meio também. Quando as coisas aquecem, fazem umas trocas e baldrocas, tiram este para o pôr acolá, eu compro-te a tua empresa e tu a minha, e vamos lá tentar não dar cabo do sistema que mantém o dinheiro a correr.

      Ah, e às vezes nós votamos. O que não lhes interessa.

        quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

        A internet também é isto

        Uma manifestação que contava com o apoio de (pelo menos) 103 blogues teve menos de 100 participantes.

        quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

        Afiam-se as facas

        Enlouquecidos pelo sangue de Sócrates, os (tu)barões do PSD avançam para o privilégio da facada final. Agora, é Aguiar Branco quem se chega à frente.
        Na Primavera, Cavaco terá outra liderança no PSD, e poderá cicutar Sócrates. O casamento gay ficará pelo caminho.
        (Santana: faltas tu, rapaz...)

        E eis que chega o Salvador

        Paulo Rangel candidata-se a líder do PSD. Os «liberais» da blogosfera ficam divididos, o que não creio que tenha significado dentro do PSD. E a «manif» de amanhã ganha todo um outro significado. Resta saber se Cavaco prefere Aguiar Branco. E se Santana fica nas covas.

        Um problema chamado Sócrates

        Sem citar ninguém em concreto, nem sequer a proverbial «fonte próxima de», o Público lá difunde o rumor de que Jaime Gama «já manifestou a sua profunda preocupação» sobre a continuidade de Sócrates na liderança do Governo e do PS. Começa a parecer plausível o afastamento de Sócrates pelo próprio PS, o que seria, na minha modesta opinião, a menos má das soluções.
        Entretanto, Baptista-Bastos escreve estas palavras meigas sobre o ainda Primeiro Ministro:
        • «O homem mente compulsivamente, denegou os testamentos da esquerda, bandeou-se com a direita procedendo às mais graves traições, não possui bússola ideológica, ignora o que são convicções, é destituído de compleição de estadista e cultiva uma mediocridade feliz dissimulada numa incontinência retórica que, amiúde, o emparelha com um vendedor de feira. Depois disto e com o desenrolar de acontecimentos que o perseguem, porque por ele próprio provocados -, chega-se a este melancólico resultado: José Sócrates é tolo, ingénuo ou extremamente sinistro. As escutas esclarecem não só os contornos desses defeitos como no-lo dizem da desastrosa escolha das suas companhias e das relações perigosas que tem sustentado.» (Diário de Notícias)
        A «festa» acabou.

          terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

          O que tem a liberdade de expressão a ver com isto?

          A liberdade de expressão é, no mínimo, eu poder pegar num cartaz e passeá-lo no centro da cidade. No máximo, é ninguém me incomodar por aquilo que lá escreva. A liberdade de expressão não é eu ser dono da TVI, director do Público, ou ter livre acesso a um qualquer órgão de comunicação social.

          Portanto, não: o caso da hipotética-compra-da-TVI-pela-PT-para-afastar-uma-ex-deputada-do-CDS-e-seu-salazarista-marido não é um problema de liberdade de expressão (em sentido estrito). É uma luta de poder pelo monopólio da comunicação social de massas. Ninguém impede Manuela Moura Guedes, Mário Crespo ou José Manuel Fernandes de começarem a escrever no 31 da Armada, n´O Insurgente ou no Blasfémias (olha, o último vai fazer isso mesmo...). A sua liberdade de expressão está portanto garantida. O que a actuação de Sócrates condiciona, a confirmar-se tudo, é  o alinhamento dos telejornais, as manchetes do Público e a condução de entrevistas. O que é muito e será grave. Mas manda a verdade que se diga que a interferência dos governos é apenas uma das várias pressões sobre a comunicação social. Nunca dei conta que os media fossem realmente independentes do poder económico. E não vejo como deixarão de sê-lo tão cedo.

          A manifestação anunciada tem várias curiosidades: ser convocada para uma quinta-feira  à hora de almoço (os patrões vão dar dispensa aos trabalhadores?); um manifesto mal amanhado e confuso; ser na Assembleia da República (seria mais adequado outro local, dados os objectivos); e o pitoresco cromatismo azul e branco (FCP?).

          Enfim, se Sócrates afirma que «nunca o Governo deu nenhuma orientação à PT para comprar nenhuma estação de televisão», ou está a mentir e deve demitir-se, ou fala verdade e alguém nos anda a enganar. De qualquer modo, o parlamento vai funcionar (provavelmente sem resultados). Mas se o problema é Sócrates, a solução é Cavaco. O que deveria ser dito explicitamente.

          Sobre violação de emails (de trabalho)

          Vale a pena ler o editorial da Nature sobre o caso dos emails roubados aos investigadores de climatologia. Cheguei lá via Klepsýdra.
          "Nothing in the e-mails undermines the scientific case that global warming is real — or that human activities are almost certainly the cause. That case is supported by multiple, robust lines of evidence, including several that are completely independent of the climate reconstructions debated in the e-mails."
          Transcrevo mesmo as palavras do Rui Curado Silva:
          Não vale a pena os niilistas do costume recorrerem à esquizofrenia conspirativa tentando descredibilizar a revista Nature. É a melhor revista científica, onde são publicados os melhores trabalhos científicos. É na Nature que se publica a ciência que dá prémios Nobel, é na Nature que se publica a ciência que nos permite ter uma vida extremamente confortável atrás de televisores, de volantes de automóveis, de écrans de computadores, que nos permite usar um GPS para nos orientarmos no deserto, enviar satélites de comunicações para o espaço e desfrutar da enciclopédia infinita que é a internet. É por ali que passa a verdadeira ciência. Qual é a ciência associada às parcas referências dos niilista do aquecimento global? Talvez a ciência da exploração de poços de petróleo...

          segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

          Bem-vindo!

          O Luís Rainha é um dos blogueiros mais conhecidos do Cinco Dias. Não é uma surpresa vê-lo a assumir o seu ateísmo militante, rezingão, mas laicista nos limites que se coloca. Leia-se na íntegra, que só deixo uma amostra.
          • «Dias houve em que calculava ser bastante ignorar as superstições alheias, numa prática de tolerância e distanciamento. Hoje, parece-me cada vez mais urgente pegar este touro pelos cornos, antes que acordemos com uma chifrada nas costas.
            É que a religião, que até poderia parecer coisa inofensiva se circunscrita às meninges e à vida dos apaniguados, tem vindo a assumir características de praga imparável, infectando os fiéis mas também os infelizes que eles conseguem apanhar à sua volta.
            Os ogres muçulmanos que só se aquietarão quando o mundo infiel estiver reduzido a poças de sangue. Os fanáticos judeus que encontram no seu ADN resquícios de laços especiais com Deus, que lhes dão direito a espezinhar os vizinhos. Os palonços evangelistas que se julgam obrigados a propiciar uma segunda vinda de Cristo. O geronte do Vaticano que agora acha que reconhecer direitos aos homossexuais de alguma forma diminui os direitos da sua manada. Isto para nem mencionar aldrabices ainda mais óbvias, da Cientologia à IURD.
          • (...)
          • Exigências: deixem as cabeça dos nossos filhos em paz. Tirem as mãos das nossas leis, do erário público, da nossa liberdade. Querem capelães, isenções fiscais, sinecuras no sistema de ensino para padres? Não com o dinheiro dos meus impostos.
            (...)
            Elevemos a blasfémia a passatempo nacional. A heresia a hábito diário. A curiosidade desrespeitosa a dogma. Isto sem os proibir de nada. Os religiosos devem manter todos os direitos do mundo; menos o de implicarem com os meus direitos.»

          Uma petição para assinar

          Mais direitos para os trabalhadores precários: esta justíssima petição exige mais justiça nas contribuições para a Segurança Social, o fim dos falsos recibos verdes. São os últimos dias para assiná-la, antes que seja entregue na Assembleia da República. Eu já a assinei em papel; quem quiser assiná-la na rede pode fazê-lo aqui.

          Tous pourris?

          Não deveríamos formar opinião sobre as pessoas através de informação obtida por meios ilícitos (vulgo «buraco da fechadura»). Mas, quando estão em causa manobras político-económicas para controlar meios de comunicação social e afastar jornalistas (relativamente inofensivos, na minha opinião), parece-me que temos o direito de saber. Ou seja: não me interessa que Sócrates use calão ao telefone, quer seja sobre adversários políticos ou não (se todos soubéssemos o que terceiros dizem de nós,  ficaríamos todos loucos); o que me interessa é que parece claro que Armando Vara e a sua equipa, actuando com o presumível beneplácito de Sócrates, ou pelo menos no interesse deste, elaborou um complexo esquema de tomada de poder num grupo mediático, e com claros objectivos políticos.

          Comentei abundantemente neste blogue a «inventona da Avenida de Roma», de que tomámos conhecimento através da violação de correspondência privada. Da mesma forma que defendi  então que Cavaco poderia renunciar ao mandato, não tenho agora grandes dúvidas em afirmar que Sócrates faria melhor em passar a pasta a outro.

          Há duas diferenças.

          Primeira: Fernando Lima trabalhava directamente sob as ordens de Cavaco, enquanto Armando Vara, teoricamente, é um «trabalhador independente». Porém, o que fica deste acumular de casos é cada vez mais a suspeita de que os homens fortes do regime estão rodeados por umas equipas «informais» de gnomos de gabardine que plantam manchetes nos jornais, planeiam tomadas de poder em empresas, elaboram dossiês sobre adversários, e, possivelmente, fazem umas escutazitas, umas trocazitas de dossiês e de acções e umas chantagenzitas para chegarem de A até B. O que é inquietante.

          Segunda diferença: enquanto o esquema cavaquista para manipular o Público foi quase artesanal na sua elaboração e execução, o esquema socrático para controlar a TVI, a confirmar-se, é uma jogada que envolve várias empresas com maior ou menor participação do Estado, possíveis cumplicidades no país vizinho, e o inefável Zeinal Bava.

          A minha vontade é que se vão todos. E o parágrafo mais marcante, no meio de toda a lama, é este:
          • «Ainda na mesma conversa, Rui Pedro Soares equaciona mais uma ideia: «As rádios (da Media Capital) vão ser compradas pela Ongoing e pelo genro de Cavaco» (o empresário Luís Montez).

            Penedos comenta que «isso é bom» e pergunta--lhe se é «o autor desta patifaria». Rui Pedro acrescenta, referindo-se a Cavaco, que «é o preço da paz e que esse cala-se logo, fica a cuidar dos netos».»
          «O preço da paz».

          Erros do liberalismo de direita - V

          Os partidos de direita tendem a dar menos importância à promoção da redistribuição, e tendem a anunciar intenções de reduzir o peso do estado na economia, e esta é uma razão pela qual os liberais de direita (que omitem a segunda parte desta designação quando se auto intitulam) tendem a votar em partidos de direita.

          Esperar-se-ia que à governação dos partidos de direita estivesse associado um crescimento económico superior. Ou, se isto não acontecesse, que o défice fosse sistematicamente maior quando os partidos de esquerda estão no poder.

          Na verdade, nos dois casos que conheço - Portugal e EUA - passa-se o contrário.

          Sobre os EUA, já o tinha referido neste texto. Considerando o período de 1948 até 2005, e fazendo um ano de defasagem (a situação económica no primeiro ano de mandato dependerá mais das políticas do mandato anterior do que do próprio) é possível ver como o crescimento económico foi em média, muito superior quando os democratas estiveram na Casa Branca.

          No que diz respeito ao défice, a imagem que se segue é eloquoente:



          Apesar da retórica relativa à responsabilidade fiscal, foi Reagan o responsável pelo primeiro défice significativo. Clinton transformou esse défice num superavit nunca antes visto. Quando esse legado passou para Bush ele transformou-o num défice sem precedentes.

          Em Portugal os dados não permitem tirar conclusões tão sólidas. O arranjo partidário é mais complexo, com alianças e cinco ou mais partidos com assento parlamentar, muitos mandatos ficam a meio, sendo mais complicado o procedimento nessa situação, e existem menos anos entre agora e 1974 do que entre 1948 e 2005.


          Ainda assim, feitas as contas por alto, nos governos encabeçados pelo PS, em média, o crescimento da economia foi de 2.97% do PIB. Para o PSD foi de 2.60%, se não incluirmos os anos do bloco central (encabeçado pelo PS), e 2.47% se incluirmos.

          O PS, em média, fez variar o défice -0.16% ao ano, e o PSD fê-lo aumentar 0.11% se não incluirmos os anos do bloco central (como é evidente incluo sempre nas médias do PS), ou 0.16% se incluirmos.



          Crescimento económico



          Défice

          É esta a realidade que muitos liberais de direita, pelo seu discurso e apelos políticos parecem não conhecer. E a verdade é que estes números parecem não ser muito discutidos. Porque os preconceitos ideológicos são mais fortes que a curiosidade e abertura de espírito, que a vontade de conhecer o mundo que nos rodeia, e que a vontade de testar as ideias contra as observações.

          Em defesa do mata-frades Ricardo! :o)

          Esta fotografia, do Senhor Padre Angelo Idi a acolher o rebanho dos fiéis à porta da sua igreja no Norte de Itália, tirada no ano passado, serve para lembrar aqui que nem todas as vítimas da brutalidade republicana foram apanhadas de joelhos, a rezar.

          Acho que há uns anos publicámos aqui uma carta do São Escrivá - que Deus tem no Céu, todo contente - a congratular o generalíssimo pelos fuzilamentos em massa de cidadãos - pais de família - que se tinham batido pela democracia e defendido um governo legítimamente eleito de bando de rebeldes apoiados pela Alemanha Nazi.

          domingo, 7 de fevereiro de 2010

          «Os padres do convento fuzilaram-no»

          Na versão católico-monárquica, os padres católicos eram, em 1910, uns homens pacíficos e pacatos que os republicanos mandaram prender de forma totalmente gratuita e por pura maldade e fanatismo. Na verdade, a realidade não é a preto e branco: os padres são homens como os outros, nem anjos nem demónios. Veja-se, por exemplo, o recorte seguinte. É do jornal «A Vanguarda», de 9 de Outubro de 1910.
          Agradeço a dica ao Almanaque Republicano: com os jornais republicanos digitalizados, agora vai ser um regabofe.

          Lenços na cabeça e caras tapadas


          Hoje um amigo meu cuja mulher é turca dizia-me que era fundamental proibir as burcas e os hijabs, com e sem a boca tapada, em todos os edifícios públicos. Segundo ele esa proibição, em vigor na Turquia há muitos anos, tem sido um garante da paz naquele país.

          Eu concordo que ninguém devia poder entrar num banco com um saco enfiado pela cabeça e até aos pés. Mas acho que nenhum estado deve ter o direito de legislar sobre a maneira como as pessoas se vestem. Pergunto-me se estas proibições serão muito diferentes de obrigar a mulher dum amish a mostrar as pernas.

          E se amanhã uma mulher ateia quiser usar um lenço na cabeça e uns óculps escuros em bico, como nos anos 50?

          Concordo que no caso particular dos muçulmanos, o hijab é uma moda troglodita, que representa a opressão das mulheres, um projecto político separatista e totalitário na Europa, e no caso das burcas um perigo óbvio para a sociedade civil. Por isso acho que a proibição de símbolos religiosos nas escolas públicas francesas foi uma medida civilizada e eficaz.

          Mas já escrevi aqui que me parece que esta moda é uma reacção à estupidez criminosa do Ocidente, sob Bush, Blair e Sharon, e acredito que ela pode passar em poucos anos, se nos descontrairmos um bocado.

          Concordo que é importante prender e reprimir os selvagens (muçulmanos ou não) que batem na mulher ou arrancam o clitoris às filhas. Mas acho que devíamos deixar os outros em paz.

          Coisas sérias

          Parece-me que Portugal anda entretido a discutir as baixezas morais de José Sócrates e se esquece da situação económica. Aqui fala-se da possibilidade da economia portuguesa implodir estrondosamente.

          Toda a gente parece concordar que Sócrates é um aldrabão de feira com uma falta de escrúpulos própria de um sociopata. Mas o problema, a meu ver, é muito mais sério. A oposição do PSD não tem carisma nem inspira confiança, ninguém acredita na boa fé do governo, o PCP sem a URSS é um partido sem eira nem beira, o BE especializou-se em criticar e não parece competente para assumir responsabilidades, sejam elas quais forem, e o PP é um partido de idiotas, felizmente poucos.

          Embora eles falem conosco como se nós fôssemos estúpidos, toda a gente sabe que o Santana Lopes não merecia a condecoração qu recebeu, que o processo da Casa Pia foi abafado e que a oligarquia que governa o país perdoa os crimes de colarinho branco, incluindo às Donas Brancas das bancas pública e privada, fecha os olhos ao financiamento ilegal dos partidos e à corrupção, deixa os ricos roubarem os pobres e conspira à esquerda e à direita para manter no poder um pequeno grupo de cleptocratas que alterna entre o governo e as empresas. Todas as pessoas normais sabem que nenhum Jacinto Leite Capelo Rego passou alguma vez um cheque ao PP.

          Eu sei que a paciência e o desinteresse (e a cobardia) dos portugueses são proverbiais, mas mesmo assim acho que este jogo é perigoso.

          sábado, 6 de fevereiro de 2010

          Escutas

          «O Correio da Manhã garante ainda que Sócrates e Vara planeavam usar o dinheiro das empresas públicas do Estado para financiar a campanha socialista. Os investigadores teriam mesmo considerado que esta estratégia de intromissão na vida das empresas públicas configurava um crime de atentado contra o Estado de Direito Democrático. Um crime com uma moldura penal de 2 a 8 anos de prisão se for consumado e de 1 a 4 anos na forma tentada.» Visão

          Se isto for mesmo verdade, nunca poderei voltar a votar numa lista encabeçada por José Sócrates.

          Votei no PS apesar de Sócrates, tal como expliquei neste espaço. Mas agora, a verificar-se esta informação, o sapo tornou-se demasiado grande para que o consiga engolir.

          Quarto inquérito: eleição presidencial

          Pergunta: qual será o melhor candidato da esquerda para derrotar Cavaco Silva em 2009?
          Respostas:
          • Ana Gomes
          • António Costa
          • António Guterres
          • António Vitorino
          • Carlos Carvalhas
          • Carvalho da Silva
          • Fernando Rosas
          • Ferro Rodrigues
          • Francisco Louçã
          • Garcia Pereira
          • Helena Roseta
          • Jaime Gama
          • Jerónimo de Sousa
          • Jorge Sampaio
          • Manuel Alegre
          • Maria de Belém
          • Mário Soares
          • Odete Santos
          • Outro/Outra
          Agradece-se a participação dos leitores (coluna da direita, topo), até dia 20 de Fevereiro.

          Resultados do terceiro inquérito

          Pergunta: quais são os principais factores de risco para a democracia portuguesa?
          Resultados (em número de respostas e percentagem):
          • Os serviços «de informações»: 10 votos (10% dos participantes)
          • A ICAR: 25 votos (24% dos participantes)
          • Os grupos económicos: 29 (28% dos participantes)
          • Os sindicatos: 5 votos (5% dos participantes)
          • A corrupção: 62 votos (60% dos participantes)
          • A demagogia: 36 votos (35% dos participantes)
          • O peso do Estado: 13 votos (13% dos participantes)
          • Os partidos extremistas: 15 votos (14% dos participantes)
          • O desinteresse dos cidadãos: 43 votos (41% dos participantes)
          • A União Europeia: 10 votos (10% dos participantes)
          • Outros factores: 12 votos (12% dos participantes)
          O inquérito contou com a participação de 104 respondentes, que escolheram, em média, 2.5 «factores de risco» cada um.
          O próximo inquérito sai já a seguir.

          sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

          Erros do liberalismo de direita - VI

          Podemos assumir, para uma determinada sociedade e cultura, que o peso do estado na economia (neste caso definido como o quociente entre as receitas fiscais e o PIB) vai ter impacto no crescimento do PIB. É razoável acreditar que existe um valor para o peso do estado que maximiza o crescimento. Abaixo deste valor o estado não cumpre funções que são importantes para que exista um ambiente económico favorável ao crescimento e criação de riqueza (no mínimo justiça e segurança, possivelmente educação, incentivo à investigação fundamental, regulamentação, etc..) e acima deste valor o investimento é menos recompensado (devido à carga fiscal excessiva).

          Se assumirmos que existe um ponto para o peso do estado que maximiza o crescimento (chamemos-lhe p1), então haverá um ponto superior que maximizará a receita fiscal (chamemos-lhe p2).






          Qual então o peso ideal do estado? Se estes pontos fossem conhecidos, seria possível argumentar que não faria sentido ter um peso inferior a p1, nem um peso superior a p2. O debate seria a respeito de qual o valor ideal entre p1 e p2. Para quem desse bastante importância à promoção da equidade, face à prosperidade, o valor seria mais próximo de p2. Para alguém com um sistema de valores que convivesse menos mal com a desigualdade na distribuição da riqueza, acreditando ser mais importante a prosperidade geral, o valor adequado seria mais próximo de p1.

          Há então que distinguir dois aspectos: o aspecto descritivo, que permite, independentemente dos valores morais, procurar encontrar p1 e p2; e o aspecto normativo, no qual dados p1 e p2 se advoga o melhor equilíbrio entre ambos.

          Um dos objectivos desta série é mostrar como muitos dos liberais de direita que advogam um menor peso do estado na economia tendo em vista uma maior prosperidade não estão apenas errados moralmente. Estão errados na descrição que fazem da realidade. Tomemos o caso de Ronald Reagan e da sua política, a chamada Reaganomics.

          Reagan alegou que nos EUA a carga fiscal era tão elevada, que a diminuição dos impostos levaria a um aumento da receita fiscal. Dito de outra forma, Reagan alegou que o peso do estado na economia era superior a p2. Os liberais de direita na altura não contradisseram Reagan. Pelo contrário, na sua generalidade apoiaram a sua alegação. Afinal, não tinha sido propriamente invenção sua.

          Note-se que esta não era uma alegação moral. Pelo contrário, tratava-se de algo descritivo que poderia ser testado. E foi.

          E verificou-se que a alegação era falsa. A diminuição dos impostos levou a um défice recorde. Quando ajustadas as receitas fiscais totais à inflação é possível observar uma diminuição nesse período. O efeito é muito mais acentudado se forem observados apenas os impostos sobre os quais incidiram os cortes. O próprio Reagan mostrou-se desiludido.


          Isto é muito relavante, na medida em que as políticas de Reagan foram, em grande medida, a implementação da chamada «supply-side economics», a oportunidade de testar vários dos seus pressupostos e verificá-los falsos.
          Muitos liberais de direita continuam assim a defender um conjunto de modelos aos quais os dados empíricos não se ajustaram. Modelos descritivos que deveriam ser abandonados por quem não prefira os preconceitos ideológicos à realidade.


          E por vezes vários políticos de direita fazem este apelo. Alegam não precisar de pagar por um determinado corte fiscal, porque o crescimento induzido por esse corte vai compensá-lo. Mas portugal não está além de p2, e os estudos técnicos sérios mostram que não é esse o caso.
          Muitos liberais de direita, no entanto, ignoram os números e as evidências técnicas. Não são apenas os seus valores morais que são diferentes, são os factos e números que apresentam que estão errados.

          E se o PSD aprovar a Lei das Finanças Regionais, a Manuela é o quê?

          "Era preciso que fosse completamente irresponsável”, disse Ferreira Leite, questionada sobre se acredita na demissão de Sócrates.

          quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

          Sobre a burca: uma questão e uma clarificação

          Creio terem havido alguns mal-entendidos entre o Jugular e o Esquerda Republicana. De qualquer maneira, até por ter o prazer de conhecer vários dos elementos da Jugular, não ponho em causa o seu feminismo, em termos absolutos. Pode supor-se que algumas das suas posições poderão ser polémicas entre as (por que não os?) feministas; pode mesmo supor-se (eu suponho, baseado em textos como o que linquei) que algumas delas (a Ana, a Maria João, a Inês) dão mais importância à liberdade individual que ao feminismo. É por por vezes surgirem conflitos entre valores que nos são caros (a liberdade, a igualdade) que a política e a cidadania envolvem escolhas complicadas.
          A questão do véu integral envolve, seguramente, uma dessas escolhas. A minha posição é mais ou menos a descrita pelo João Vasco: sou contra a burca sem, no entanto, defender a sua proibição. (Não altero a minha posição de ser inteiramente favorável à anterior lei do véu nas escolas, que é bem diferente do que está agora em jogo.) Não sou, de todo, indiferente aos argumentos do Ricardo Alves e dos defensores da proibição; no entanto, entendo que tal passo seria ir longe demais. Apesar de a proibição não me parecer aceitável, sou contra a burca; se por acaso esta fosse proibida, não me passaria pela cabeça manifestar-me ou lutar contra a sua proibição. É esta a pergunta que eu gostaria de deixar às minhas amigas jugulares, para ver se nos entendemos melhor: se o uso da burca fosse proibido, até que ponto lutariam contra essa proibição? Algumas de vocês parecem-me muito militantes na defesa do direito ao seu uso.

          Almunia não está connosco

          Por momentos pareceu que aquele tinha razão e que há mesmo uma conspiração castelhana contra Portugal. Ou seja: ontem, o senhor comissário espanhol comparou Portugal com a Grécia; hoje, a bolsa caiu a pique. Mas eis senão quando, em Espanha caiu ainda mais...

          O massacre de Batepá

          Passaram ontem 57 anos sobre o massacre de Batepá, um dos episódios mais sangrentos do colonialismo português na segunda metade do século 20. Terão sido massacrados entre 500 e 1000 santomenses, num momento em que não havia qualquer ameaça organizada (e muito menos armada) à presença colonial portuguesa. O pretexto terá sido a renitência dos nativos a trabalharem forçados nas plantações de cacau e café, e nas obras públicas. Um episódio quase ausente da memória histórica portuguesa. Que não da de S. Tomé, onde é feriado nacional.

          quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

          Revista de blogues republicanos

          1. «SOU REPUBLICANO porque acredito que a história da Humanidade comporta um sentido e que esse sentido tem o alcance de um reforço de Cidadania: enquanto membros de uma horda primitiva, os seres humanos foram os joguetes submissos de chefes brutais; enquanto súbditos de monarquias absolutas, a esmagadora maioria dos seres humanos foi alvo de violências vassálicas e de sujeições servis e de gleba; enquanto súbditos de monarquias constitucionais, a maior parte dos seres humanos sofreu toda a casta de discriminações censitárias e foi vítima do vexame de ser olhada como parte plebeia por aristocratas arrogantes e, na maior parte dos casos, sem méritos comprovados. (...)» (Amadeu Carvalho Homem)

          2. «Na cerimónia inaugural de ontem no Porto, foi incluída entre os discursos oficiais uma oração por um capelão das Forças Armadas. Tendo em conta que uma das grandes conquistas da República foi a separação entre o Estado e a religião, o mínimo que se pode dizer é que se tratou de uma iniciativa despropositada e de mau gosto.» (Vital Moreira)

          3. «Na mesma cerimónia inaugural as entidades oficiais que iam chegando eram publicamente anunciadas pelas suas qualificações académicas ("dr.", "prof. doutor", etc.).
            Revertendo ao espírito original da igualdade republicana, por que não aproveitar o Centenário para abolir de novo e definitivamente tais formas de tratamento do discurso e dos documentos oficiais?
            » (Vital Moreira)