sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Pode um monárquico ser Presidente da República? - Sim, pode. Mas não com o meu voto.

Na sua entrevista à revista Sábado (nº304, 25 de Fevereiro a 3 de Março), Fernando Nobre responde como se segue à questão do regime.
  • «Pergunta - Era monárquico?
  • Resposta - Pertenci há uns anos à Causa Real.
  • Pergunta - Já não pertence e já não é monárquico?
  • Resposta - Sou simpatizante. A História de Portugal não começou em 1910. Temos quase nove séculos de História. Vamos apagar oito e olhar para os últimos 100 anos?
  • Pergunta - A república deve ir a referendo?
  • Resposta - É um tema que dependerá da AR. Nunca será um processo de iniciativa presidencial.»
«Simpatizante» é uma expressão apropriada para descrever o nosso grau de adesão a um partido de que não somos militantes, ou a um clube de futebol de que não somos sócios. Mas, se não sei nem me interessa saber se Fernando Nobre ainda paga as quotas da Causa Real, a questão é que não se é «simpatizante» da República ou da monarquia, da democracia ou da ditadura. Numa questão tão fundamental como a  da forma do regime ou a da forma de governo, ou se é a favor ou contra.

Portugal é uma república democrática. Fernando Nobre diz que é democrata, e eu acredito. Diz que é «simpatizante» da monarquia, e eu fico a pensar que é monárquico. E, quando remete um referendo sobre o regime «para a AR», parece esquecer-se que um Presidente pode vetar propostas de referendo.

Conforme já escrevi, um monárquico pode ser Presidente da República. Mas não pode contar com o meu voto.

13 comentários :

dorean paxorales disse...

eu diria mesmo mais: qualquer um pode ser presidente da república. mas não pode contar com o meu voto. ;)

Bravura Lusitana disse...

Fernando Nobre é um homem de bem, um Humanista e um Patriota, com provas dadas em todo o mundo pelas suas acções humanitárias, através da AMI.

É um homem livre. Tal como Canto e Castro, nada o impede de ser candidato à Presidência da república e prestar um bom serviço ao País.

Se a república segue os princípios da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", não pode Fernando Nobre tomar a "Liberdade" de ser candidato, tal como todos os outros?

Ou a Liberdade é um direito só para alguns?

"Bem prega Frei Tomás, olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço".

Ricardo Alves disse...

Senhor «Bravura Lusitana»,
eu tinha apreço (e ainda tenho) pelo trabalho humanitário de Fernando Nobre e pela AMI. Aliás, escrevi-o assim que soube da candidatura de FN à presidência. Também sublinhei que tem, como qualquer outro cidadão (incluindo o Duarte) o direito de se candidatar à presidência.

A questão é outra.

Fernando Nobre nunca exerceu um mandato electivo num órgão político. Isso não diminui o seu desempenho na AMI, claro. Mas levanta dúvidas: será que abusará do poder quando o tiver? Como reage sob contraditório ou sob a pressão de críticas violentas? Eu gosto de saber isso sobre os candidatos a um cargo tão importante como o de Presidente da República.

Daí ter escrito que a candidatura de FN era um cheque em branco.

Agora, vai sendo cada vez menos um cheque em branco. Já se sabe que não considera o Hamas e o Hezbollah «terroristas». Já se sabe que é simpatizante da monarquia. Já se sabe que, sem se comprometer, ziguezagueou em meia dúzia de anos do PSD ao BE, chegando a apoiar Costa e Capucho, em simultâneo, nas últimas autárquicas. Tudo isto conta. Como conta a sua simpatia monárquica.

Já agora: há uma questão que os monárquicos honestos se deveriam colocar a si próprios. Que é: apoiariam Fernando Nobre se ele não fosse monárquico? Pergunte isso a si mesmo.

Bravura Lusitana disse...

Olá Ricardo Alves!

É bem notório que temos visões muito diferentes do tema em causa. Mas é compreensivel: eu sou Monárquico e o Ricardo é Republicano.

Você entende que o facto de Fernando Nobre não ter carreira politica deixa algumas duvidas. Também tem duvidas sobre o seu "ziguezaguear" no apoio de candidatos de forças politicas diferentes.

Mas eu digo-lhe, quer uma coisa que outro só demonstra qualidades de Fernando Nobre para o exercicio do cargo. Quer porque é independente aos partidos, e logo mais propenso à imparcialidade, quer porque avalia os as pessoas (candidatos) e não os partidos.

É por essas mesmas razões que sou Monárquico. Não por tradição, mas por saber que alguém, desde que provado que é apto para o exercicio de funções de estado, é preparado para exercer essa chefia não tendendo para o beneficio de nenhum partido.

Os Presidentes da República são-no com o apoio de um ou mais partidos, o que cria logo uma fratura entre os cidadãos.

Você acha que as divergências entre Belém e S. Bento no verão passado teriam tomado aquela dimensão se Cavaco Silva não fosse oriundo do espectro Politico que é?

João Vasco disse...

Bravura Lusitana:

«Se a república segue os princípios da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", não pode Fernando Nobre tomar a "Liberdade" de ser candidato, tal como todos os outros?

Ou a Liberdade é um direito só para alguns? »

Não sabe ler? O texto que comenta com essas perguntas tem lá isto escrito:

«Conforme já escrevi, um monárquico pode ser Presidente da República. Mas não pode contar com o meu voto»

Que, aliás, subscrevo.

Bravura Lusitana disse...

Eu sei ler. Não desconverse.

É claro que "um Monárquico pode ser Presidente", mas ao estarem a "minar" a sua candidatura estão a cercear a sua liberdade. As questões que apresentam denotam apenas mesquinhez.

Ricardo Alves disse...

«Bravura Lusitana» (raio de pseudónimo),
uma candidatura presidencial, seja de quem for, está acima da crítica? E a questão do regime é «mesquinha»? Ou é a falta de experiência política que é «mesquinhice»? E como avalia o mérito político de alguém que nunca foi eleito para um cargo... político?

Elucide-me.

João Vasco disse...

« mas ao estarem a "minar" a sua candidatura estão a cercear a sua liberdade.»

Portanto, declarar publicamente que não se vai votar num candidato é "minar" a sua candidatura.
Mesmo que tivessemos o poder e importância que nos atribui, ao ponto de tal declaração minar tal candidatura, o ponto do Ricardo Alves é adequado: qualquer cidadão deve ser livre de criticar qualquer candidato. Isso não lhe tira liberdade nenhuma. Se calhar poucos vão votar, por exemplo, no Garcia Pereira, daí a dizer que cada um que o criticar está a tirar-lhe o direito de chegar a presidente, vai o tamanho desse disparate.

Bravura Lusitana disse...

Olá Ricardo e João!

Não, uma candidatura Presidencial não está acima da critica. Naturalmente que não, é próprio da Democracia o direito à critica e o dever de aceitar as criticas que nos são remetidas. Tudo bem.

Faz-me é confusão que vocês, Republicanos de Esquerda, dirigirem as vossas criticas quase exclusivamente para um candidato do vosso espectro politico. Estão a fazer o jogo de Cavaco Silva?

Há outra coisa que discordo de vocês. Mas nesse ponto jamais teremos consenso de ideias, pois estamos intectualmente formatados de maneira diferente. O cargo do chefe de estado é um cargo politico?

Ainda me lembro de ouvir Mário Soares, nos anos 80, afirmar que ele era o Presidente de todos os Portugueses. Para mim, se um candidato é o mais independente dos partidos é o que mais se encaixa na função, não tenho a menor duvida nisso. Lembrem-se que quando Jorge Sampaio demitiu o Governo de Santana, recebeu criticas de favorecimento ao Partido que o suportou nas eleições Presidênciais.

É por isso que sou Monárquico, por entender que um chefe de estado, quando provadas as suas qualidades para o exercicio do cargo, deva ser completamente isento da vida partidária.

P.S. - Ricardo, este pseudónimo "Bravura Lusitana" é uma apologia a todos os Portugueses que, desde a fundação da Nacionalidade até à actualidade, se pautaram por uma postura de coragem na luta pelas liberdade e no progresso de Portugal.

Ricardo Alves disse...

Senhor «Bravura Lusitana» (não simpatizo muito com pseudónimos, devo dizer; prefiro quem tem a «bravura» de dar a cara),
o Fernando Nobre não se define como um candidato de esquerda. Pelo contrário, na declaração de candidatura definiu-se acima da «esquerda, direita e centro».

E tem que distinguir a maneira como as pessoas decidem em quem votam, circunstância em que são relevantíssimas as convicções políticas dos candidatos, do dever do Presidente eleito de ser o Presidente de todos os portugueses, e de ser reconhecido como Presidente pelos cidadãos. Cavaco Silva é o Presidente da minha República mesmo tendo eu votado contra ele, e mesmo indo votar contra ele no próximo ano, se se candidatar.

Ricardo Alves disse...

Uma questão a que os monárquicos que andam por este blogue (o «Bravura», o «Invictus», o Rui Monteiro) deveriam responder: estariam a defender o Fernando Nobre se ele não fosse monárquico?

João Vasco disse...

Bravura Lusitana:

Neste blogue Cavaco já foi bastante criticado, quer enquanto candidato das eleições anteriores, quer enquanto presidente. Ainda não foi criticado, como Fernando Nobre, enquanto candidato às próximas porque nem sequer anunciou a sua (re)candidatura.

De resto, neste blogue não é apenas a direita que é criticada. Tentamos criticar ideias pessoas ou partidos de esquerda quando tais críticas são merecidas.

Por mim, o facto de um candidato à presidência da república ser monárquico é um facto muito relevante para condicionar o meu voto (no meu caso, pela negativa). Creio que também para muitos outros, e acho por isso que esse facto deveria ser bastante conhecido pela generalidade dos eleitores. Assim, acho óptimo que seja anunciado.

Bravura Lusitana disse...

Apesar de Monárquico, eu vivo numa república. Como tal sou um cidadão que cumpro os meus deveres de um País que vive em república. Não sei se os republicanos assim pensavam assim enquanto se vivia em Monarquia, mas enfim...

Vou votar nas Presidenciais, assim como em todas as outras eleições. Votei em Cavaco nas últimas, pois Alegre pareceu-me demasiado utópico.

Nas de 2011, votarei em Fernando Nobre, mesmo que não houvesse essa discussão de simpatizar ou não com a causa Monárquica. Porque apesar de lhe chamarem utópico, ele não o é, tendo em conta que sempre pôs as mãos à obra e foi por esse mundo fora em ajuda aos mais necessitados, levando o nome de Portugal aos lugares mais longuínquos.

É pela coragem, humanismo e patriotismo do candidato que o admiro e apoio.