sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Leituras recomendadas (5/1/2007)

  1. «Terrorismo é negar o funeral religioso a Piergiorgio Welbi, que desejou morrer, e concedê-lo a um carniceiro como o Pinochet; Terrorismo é condenar à morte milhões de seres em África, ao considerar pecaminoso o uso do preservativo, ao enganar o povo ignorante dizendo que não protege do vírus da Sida e ao patrocinar a destruição de centenas de milhares de unidades para lá enviadas pelos países desenvolvidos; (...)Terrorismo é obrigar ao nascimento de filhos indesejados que irão, muitos deles, engrossar o exército dos mal tratados e dos miseráveis; Terrorismo é fazer das mulheres cristãos de segunda, ao impedir o seu acesso ao sacerdócio; (...) Terrorismo é impedir um casal de ser feliz, ao reprovar o recurso à Procriação Medicamente Assistida; Terrorismo, o mais hediondo terrorismo, é dar cobertura a padres pedófilos, subtraindo-os à justiça civil e mudando-os de paróquia. É tempo de mais crentes dizerem basta. Afinal, a igreja somos nós.» («Terrorismo? Que terrorismo?», no thesoundofsilence.)
  2. «As diferenças entre a lei de cá e a lei de lá, ou entre uma e outra «clausula de abertura», resultam de um conjunto de situações: 1. uma palavrinha apenas faz a diferença, na interpretação do espírito do legislador e na tarefa do interprete directo da norma, médico, e do interprete jurídico: por cá diz-se «o único meio de remover perigo»; por lá, «que seja necessário para evitar um grave perigo»; 2. os médicos espanhóis ofereceram a abertura interpretativa necessária para conferir eficácia prática e utilidade à norma; de tal sorte que a interpretação jurídica se lhes seguiu, e a jurisprudência acolheu a posição médica maioritária sobre a questão. Em Espanha, um grande número de interrupções voluntárias da gravidez acontecem a partir de uma interpretação médica aberta do pressuposto «saúde psíquica», com a concordância (reactiva ou passiva) dos tribunais.» («A Lei de cá e a Lei de lá», no Linha.de.Conta.)

10 comentários :

Anónimo disse...

Parte do terrorismo é achar que todos os que não pensão como tu deviam calar se!

Intolerancia é agarrar num caso e considerar essa a regra e não a excepção (gostei dessa tirada dos padres pedofilos). Especialmente vindo da muito aberta e muilticultural Esquerda Republicana.

e muito Interessante sem duvida as divagações teologicas vindas da Esquerda Republicana. Sempre um passo á frente!!

Ricardo Alves disse...

Caro Tiago,
não compreendo muito bem as razões da sua agressividade.

1) Não defendo que quem não pensa como eu se deva calar.

2) Não vejo divagações teológicas no texto que estamos a comentar (e que não é meu, basta seguir o linque).

3) A «tirada» dos padres pedófilos é factualmente correcta e éticamente justa, particularmente se recordarmos que existe um documento interno da ICAR que recomenda que se mudem os padres pedófilos de paróquia, sem recomendar que se informem as pessoas da nova paróquia dos problemas anteriores, nem recomendar que se denunciem os abusos sexuais à justiça civil. Se acha que isto não é um problema, é porque o seu sentido ético natural foi mutilado por uma disciplina religiosa muito particular...

Anónimo disse...

Caro Ricardo o meu sentido ético natural não foi mutilado, bem na verdade não sei se tenho sentido ético natural... mas se o tiver não sei se coincide com o teu (primeiro tens que me explicar o TEU sentido ético natural)!

Como refiro no comentario anterior a minha posição, religião, status social, capacidade financeira e inclusivé agressividade não deveriam ser tidas em conta. O Marxismo sempre adorou a luta de classes... Apenas referi que os preconceitos que muita gente, entre os quais o Riacardo tem perante a igreja são demasiados evidentes. Achar que a igreja é culpada da deflagração explosiva da SIDA em africa, obrigar ao nascimento de filhos indesejados que irão engrossar os miseraveis, culpar a igreja de ter dogmas (sacerdocio exlusivo aos homens) é no minimo exagerado... ou não achas?? já para não falar dos padres pedofilos, mas isso faria correr muita água...
Achas mesmo que todos os filhos ilegitimos (não falo dos de uniões de facto) são realmente fadados a serem uns "mal tratados e miseráveis" , ou isso é apenas um argumento pró aborto?... bastante simplista meu caro!
Quanto aos dogmas das religiões acho que cabe aos proprios e não a nós discuti-los. Eu até acho que se devia (e a igreja já o debate) abrir o sacerdocio a mulheres e a pessoas casadas, mas colocar o assunto da maneira como o referes apenas inflamas discusões que no meu ver veem do Jacobinismo da qual alguma esquerda não consegue esconder.

Ricardo Alves disse...

Caro Tiago,
parece hoje evidente a muitas pessoas que todos nascemos com um sentido ético inato (e que nesse sentido é «natural»). Por exemplo, não matamos por razões fúteis, pelo menos até uma poderosa autoridade militar ou eclesiástica nos convencer de que isso é bom para a pátria e para a sua religião.

A ICAR (Igreja Católica Apostólica Romana) é uma das instituições que mais merece ser criticada em Portugal. Pelos privilégios de que goza (concordata, educação moral e religiosa, acesso aos média...),
pelas mentiras que promove (Fátima e a ressurreição, para não ir mais longe), pelo descaramento que tem em intervir nos debates públicos como se fossem autoridades em tudo (negam, por exemplo, que o Estado tenha legitimidade para legislar sobre a IVG). Só conheço outra instituição com um poder comparável e à volta da qual exista também uma «nuvem» que a protege da crítica: a FPF. Criticar a ICAR (ou a FPF) é um dever cívico. (O Tiago chama-lhe «preconceito».)

Em África, a ICAR é parte do problema da SIDA, e não é parte da solução. E quanto aos dogmas, não vejo porque não hão de ser comentados.

Anónimo disse...

A menorização dos africanos continua... e ainda não me explicas te como tanta gente consegue ser pervertida, enganada o que lhe quiseres chamar, pelo ICAR e similares!

Anónimo disse...

Quanto ao sentido ético inato, tens sem duvida a tua opinião mas esse sentido advém da nossa cultura e valores morais que foram "construidos" durante milhares de anos.

Seré o meu sentido ético e o teu igual a um chinês? Dúvido e isso não vem apenas da religião e sistemas politicos vem de toda a nossa cultura e claro valores morais.

Curiosamente o tal valor moral da qual toda a vida humana é sagrada tem milhares de anos de regra dogmatica (se bem que muitas vezes não cumprida) da "terrorista" ICAR.

Ricardo Alves disse...

Tiago,
eu não estou a menorizar os africanos. Quer se queira quer não, não têm uma rede de saúde pública básica, e onde existe têm os missionários a dificultar-lhes o trabalho, nomeadamente quando espalham mitos sobre os preservativos.

Quanto a essa ideia, «rousseauista», de que a ética é exclusivamente resultado da cultura, tenho muitas dúvidas sobre ela. Por exemplo, acho que nenhum ser humano mata futilmente. Mata por necessidade, por ser ameaçado, etc. O que é cultural é a punição e a regulação dos tipos de «assassinato» aceitáveis.

Anónimo disse...

Verdadeiramente não quero fazer nenhuma experência social para verificar isso, mas parece me que tem uma influência determinante.

Quanto a áfrica eu no fundo continuo a achar que menorizas a capacidade deles de fazerem o seu presente. Não devemos continuar a achar que por terem sido colónias até á relativamente pouco tempo tudo o que de mal foi feito nesse tempo se reflete no presente. Mesmo na experiência portuguesa que foi a descolonização mais recente, não pudemos continuar a culpar nos pelo facto de actualmente e na maior parte das áreas a qualidade de vida das populações ser muitissimo pior hoje (com ou sem democraçia) do que há quarenta anos. Isto quer se goste ou não é resultado da cultura, da sociedade e dos nossos valores morais.

Da mesma maneira que acho disparatado que em Portugal se continue a tentar fazer um modelo social á maneira escandinava, esquecendo que no fundo nós somos Portuguêses.

lino disse...

Ena, pá!
Venho aqui todos os dias, mas não tinha ido à caixa de comentários para ver a celeuma que a minha posta provocou. Agora, já é tarde para responder ao "tiago" mas, da próxima vez que o Ricardo puser uma ligação para o meu blogue, tenho de estar mais atento. De qualquer modo, Ricardo, para além da segunda referência a um recém nascido, tenho de agradecer-lhe a defesa que fez da minha posição. Educada e de grande elevação. Dificilmente eu próprio teria feito melhor. Assim se vê que laicidade e crença não são mutuamente exclusivas.

Ricardo Alves disse...

Tudo bem, Lino. Eu é que agradeço.