terça-feira, 11 de julho de 2006

Madaíl apresenta a conta

Hoje de manhã, ouvi na rádio que o presidente da federação de colectividades do jogo da bola pediu ao governo que isentasse de IRS os prémios de presença que vai atribuir aos seus jogadores (uns modestíssimos 50 mil euros por cabeça). Portanto, o espertalhão Madaíl decidiu, muito patrioticamente, apresentar a conta do espectáculo que entreteu as massas durante o último mês. E quem a paga é o contribuinte.
Como se não bastasse, um senhor doutor em leis(*) acrescentou, em declarações à TSF registadas por estes meus ouvidos aperfeiçoados por milénios de selecção natural, que «os portugueses nunca ficariam tão satisfeitos se algum cientista português ganhasse um Prémio Nobel da Física ou da Química». Portanto, já sabeis: ide e dizei aos vossos filhos para deixarem de estudar e irem jogar à bola. É esse o caminho do futuro nesta nação de prestígio e competidores.
(*) Parece que se chama Diogo Leite de Campos. Para que conste.

16 comentários :

no name disse...

sinceramente, não consigo decidir qual é o comentário mais grave: se o do madaíl se o do "senhor doutor em leis" --- que, já agora, devia ter o seu nome escrito com todas as palavras, por forma a que a vergonha o acompanhe até ao final dos seus dias neste blog! :-) podemos já aqui fazer uma sondagem: digam de sua preferência, qual o comentário mais grave? eu por mim digo já, se ganhar o prémio nobel da física, não digo a ninguém... não quero que os portugueses fiquem chateados e me peçam para usar o dinheiro do prémio em algo útil, como, por exemplo, pagar o irs que os jogadores de futebol devem...

Filipe Moura disse...

Essa de ficar mais contente com o futebol do que com um Nobel da Física ou da Química é verdade. E para qualquer país, não só Portugal! Se não perceberes isso não percebes nada. E tem toda a lógica.
Um Prémio Nobel é um prémio individual. A nacionalidade é o que menos deve contar. O futebol é diferente. Eu também acho que a selecção está a representar a FPF e, como sabes, não alinho na febre das bandeiras, mas a maior parte do povo (a esmagadora maioria) toma-a como "sua". É um facto que tens que aceitar. Ou então vives num estado de negação permanente, o que não é bom.

Ricardo Alves disse...

Ricardo,
não ouvi o nome do animal. A seguir falou o Saldanha Sanches, que disse que achava um escândalo darem isenções de IRS aos tipos da FPF.

Filipe,
eu não nego que muita gente toma a equipa da FPF como «sua» ou até como «oficial». Mas tenho muita gente de que o fenómeno fosse tão generalizado se não fosse empolado pelos media.
E quanto ao Nobel, acho que um Nobel da Física conta mais do que dez mundiais de bola. Mas isto sou eu.

no name disse...

já liguei a tsf e apanhei o nome do idiota (desafio outros leitores a encontrarem novos adjectivos para a pessoa em questão, mas sempre dentro do limite do bom gosto). chama-se:

diogo leite campos

eternal shame on you, diogo

quanto ao comentário do filipe, penso que o ricardo já respondeu: tudo isto é fabricado pelos media. penso que isso é que é fácil de perceber! no dia que cientistas forem capa de revista "de cordel" semanalmente, as suas vidas amorosas andarem "na boca do povo", e o telejornal dedicar pelo menos 10 minutos por dia aos últimos resultados e transferências ("witten recebe oferta do caltech. será que vai deixar princeton?"), decerto o amigo diogo irá engolir um sapo...

""#$ disse...

Diogo leite de campos

Fiscalista e especialista em direito da familia.
professor de direito da familia em coimbra e na universidade autonoma de lisboa.

Militante do cds.

católico.

adepto do "imposto unico".
declara-se incapaz de ser advogado de barra em tribunais de familia devidoao "sofrimento" que é ver os casais em desarmonia.

Um peso pesado intelectualmente, mas que vem de uma origem especifica.

A não menosprezar ,porque o homem é muito bom tecnicamente e a opinião dele é altamente considerada, mesmo que seja uma asneira de todo o tamanho.

Foi "chamado" pela Tsf PARA LEGITIIMAR o discurso para que os jogadores não paguem irs, precisamente porque a TSf tem agora uma esrutura accionista muito Opus.

Abram os olhos e vejam de onde isto vem...

Ou seja, deixem de lado a indignação... quase esquerda caviar ... e percebam qual é a ideia por detrás disto...

zorg disse...

O senhor só constatou o óbvio!

Eu também acho que não faz grande sentido a isenção de IRS, agora é evidente que as grande maioria das pessoas fica muito mais contente com bons resultados da selecção, do que com a atribuição de um qualquer prémio nobel da física ou da quimica (ou da literatura, acrescento eu) a um português.

Negar isso é estar a negar uma evidência...

http://peranabarba.blogspot.com

Milo Manara disse...

O silogismo "alegria do povão - isenção de IRS" é a coisa mais imbecil que tenho ouvido ultimamente. Já agora isentem-se de IRC os próprios clubes de futebol, as produtoras de novelas e as casas de alterne. Tá tudo louco...

Quanto à empolação dos media, ela é real em relação à histeria que envolve o fenómeno futebol. Mas isso não quer dizer que as pessoas não gostem efectivamente de futebol e que não se sintam representadas pela selecção.

Ou seja, não são os media que provocam o contentamento das pessoas. Ele é sincero, ainda que perfeitamente efémero. Mas já são os media os responsáveis por a malta julgar que o futebol é a coisa mais importante da vida. Por exemplo, não é grave que as TV´s passem futebol. Mas já é grave que passem programas em que 3 tipos de bigode discutem futebol durante horas.

João Moutinho disse...

"Panes et circenes" sempre foi mais iportante que a literatura ou a justiça fiscal.
Em todo o caso agradeço a quem denuncia estas situações.

Milo Manara disse...

Artº 12 nº do CIRS:

"O IRS não incide sobre os prémios atribuídos aos praticantes de alta competição, bem como aos respectivos treinadores, por classificações relevantes obtidas em provas desportivas de elevado prestígio e nível competitivo, como tal reconhecidas pelo Ministro das Finanças e pelo membro do Governo que tutela o desporto, nomeadamente jogos olímpicos, campeonatos do mundo ou campeonatos da Europa, nos termos do Decreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio, e da Portaria n.º 953/95, de 4 de Agosto."

Ora, a Portaria nº 953/95 tem como objecto apenas os prémios para os primeiros 3 lugares obtidos em JO ou campeonatos mundiais.

Moral da história: Tivessem jogado mais com a Alemanha e era a própria lei a conferir-lhes a isenção.

Ricardo Alves disse...

«Tivessem jogado mais com a Alemanha e era a própria lei a conferir-lhes a isenção»

Parece-me que nessas condições não haveria obrigatoriedade. Ainda ficaria a faltar o reconhecimento do Ministro das Finanças e do Ministro com a tutela do Desporto.

Milo Manara disse...

Ricardo,

Esse reconhecimento já existe através da referida legislação, que se encontra em vigor.

Mas é infeliz e socialmente injusta, penso que estamos de acordo, pelo menos em relação a atletas profissionais.

Não me escandalizaria para atletas de modalidades amadoras, como a canoagem ou da esgrima,porque muitas vezes são tipos que acumulam a actividade desportiva com outras profissões, com uma vida durissima.

no name disse...

mas... espera aí! esta lei é só para desportistas! será que isto quer dizer que quando ganhar o prémio nobel não vou ter isenção fiscal?? mas se correr a maratona já tenho?? tens razão ricardo, devia ter me dedicado ao futebol quando era miúdo...

Milo Manara disse...

Ricardo (o outro),

Não é verdade. Artº 12 do mesmo Código:

"Excluem-se deste imposto os prémios literários, artísticos ou científicos, quando não envolvam a cedência, temporária ou definitiva, dos respectivos direitos de autor, desde que atribuídos em concurso, mediante anúncio público em que se definam as respectivas condições de atribuição, não podendo a participação no mesmo sofrer restrições que não se conexionem com a natureza do prémio."

Carim disse...

"E quanto ao Nobel, acho que um Nobel da Física conta mais do que dez mundiais de bola. Mas isto sou eu."

E sou eu também.

no name disse...

caro milo, obrigado pelas boas notícias! agora só faltam notícias igualmente boas, vindas de estocolmo em outubro! :-D

Filipe Moura disse...

«no dia que cientistas forem capa de revista "de cordel" semanalmente, as suas vidas amorosas andarem "na boca do povo", e o telejornal dedicar pelo menos 10 minutos por dia aos últimos resultados e transferências ("witten recebe oferta do caltech. será que vai deixar princeton?"), decerto o amigo diogo irá engolir um sapo...»

Outro Ricardo, julgas mesmo que isto interessa a alguém? És um caso grave de umbiguismo... Mais grave do que o que eu pensava.

Quando estava nos ultraliberais EUA eu também ganhei um prémio da minha universidade, graças ao meu mérito. E tive que o declarar nos impostos, e teria que ter pago imposto sobre ele, se na altura não estivesse isento de pagar impostos graças a um tratado entre Portugal e os EUA.