A inventona que foi o «arrastão» da praia de Carcavelos parece cada vez mais absurda: no jornal A Capital de hoje, coligem-se testemunhos que indicam que a «enorme confusão e fuga descontrolada» divulgada em algumas imagens se deveu à chegada da polícia (motivada por um assalto a um eslavo), altura essa em que se terá verificado a quase totalidade dos assaltos (traduzidos em uma queixa). Dois dos quatro detidos (que incluem um «branco» e uma brasileira) estavam apenas a tentar abandonar a confusão que se gerara.
Infelizmente, a desmontagem vem demasiadamente tarde. A extrema direita racista conseguiu através da mistificação inconscientemente montada pela comunicação social a manipulação que lhe permitirá, já amanhã, fazer uma manifestação que pretende ser contra a criminalidade, mas que na realidade é contra a presença de imigrantes em Portugal. O objectivo da Frente Nacional («skin heads») e do PNR (o partido que integram e que, aparentemente, já dominam) é a destruição da convivialidade cívica e da paz social republicana.
A escolha do local da manifestação é puramente provocatória. No Martim Moniz, onde a manifestação se iniciará, existe a maior concentração lisboeta de comércio de e para imigrantes, o que constitui uma benesse para aqueles que, não sendo imigrantes nem filhos de imigrantes, apreciam a diversidade gastronómica e cultural. No Rossio, onde terminará a manifestação, alguns guineenses costumam conviver à sombra das arcadas do Teatro D. Maria II. O «nobre» sonho dos macacos tribais que amanhã ali se deslocarão é andar à porrada com todos os que tenham a pele mais escura do que eles, concretizando a «guerra racial» que só existe nas suas cabeçinhas alienadas. Cabe à polícia controlar a situação.
A estória do aparecimento, através de métodos pouco éticos, do PNR, é uma estória nada edificante cujas lições merecem ser meditadas. O grupúsculo fascista português rompeu depois com o salazarismo (demasiadamente «multirracialista») e, ao contrário do que se passa noutros países europeus, está hoje controlado quase exclusivamente por militantes jovens cuja única «escola» foram as claques de futebol e a violência criminal dos bairros suburbanos. As tácticas desta gente são sistematicamente provocatórias, e passam pela criação de «sites» e blogues supostamente feitos por negros racistas, tentando assim realizar o «confronto racial» que almejam. Na manifestação de sexta-feira passada, não hesitaram mesmo em homenagear os assassinos de Alcindo Monteiro, a poucos metros do local do seu assassinato, e possivelmente com a participação, nessa homenagem, de alguns dos assassinos.
Amanhã, talvez não passem de duzentos, mas mesmo assim são perigosos.
1 comentário :
A mim parece-me que o país anda confuso.
Alguém "inventou" o burburinho. Até o termo "arrastão", que nunca tinha ouvido por cá, foi escolhido de propósito.
Eu já fui detido três vezes, numa delas entrei no carro da polícia "escoltado" por metrelhadoras, depois dos devidos esclarecimentos, fui posto em liberdade, no entanto, já fui assaltado, já me roubaram um auto-rádio, já me furtaram um carro, e nunca me disseram que predenram os culpados. Triste sina a minha!
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