domingo, 13 de janeiro de 2013

Sobre o caso do cão e do bebé (2)

Este episódio do bebé supostamente assassinado por um pitbull cruzado (o Ministério Público dará a última palavra) tem dado muito que falar, devido a uma petição contra o abate do cão que conta já com mais de 50 mil assinaturas. Não a assino porque creio que a justiça não se faz através de petições. Mas creio que se deve fazer uma investigação cuidada das circunstâncias da morte do bebé (nomeadamente apurando se houve uma atitude agressiva da parte do cão ou se se tratou de um acidente envolvendo negligência da família) antes de tomar qualquer atitude, como está aliás a ser feito. Em lugar de nos concentrarmos neste caso específico, que deve ser deixado à investigação, parece-me mais útil debruçarmo-nos sobre outra questão. Conforme eu referi atrás, entendo que se deve esperar algo de animais domésticos que não se espera de selvagens (por isso a lei pode ser diferente). Ora eu fico pasmado com certos animais "domésticos" que é possível ter. Cães de uma raça perigosa, como parece ser o caso do Zico, não deveriam ser animais domésticos de todo. Era esta a lição que já deveríamos saber, e que espero que este caso nos ensine de vez.

5 comentários :

Anónimo disse...

Enquanto se insistir no mito das "raças perigosas" não se vai a lado nenhum.

Há cães perigosos ou cães dóceis, ponto. Qualquer cão pode ser levado a ser agressivo, até o Labrador mais pachorrento do mundo. E todas as "raças perigosas" foram criadas para obedecerem fielmente aos donos. É uma questão de treino.

Na minha opinião, todos os cães com porte acima de tantos quilos ou com um passado agressivo deviam ser obrigados a frequentar escolas de treino certificadas, com exames de comportamento periódicos obrigatórios.

Ricardo Alves disse...

Aqui já concordo, Filipe. Provavelmente deveria ser proibido que privados mantenham determinadas raças de cães - as perigosas. Aliás, creio que também não posso ter um tigre ou uma pantera no quintal...

Anónimo disse...

O paralelo não é ideal porque uma pantera ou um tigre são animais selvagens, e carnívoros predadores habituados a viver relativamente longe de seres humanos. Não são propriamente animais de companhia...

Os cães reconhecidamente mais perigosos são os cães cruzados com cães selvagens (como lobos selvagens ou sua descendência). São, por definição, do mais rafeiro que pode haver. E são pouco dados a interagir de forma coerente com seres humanos, não respondendo aos seus estímulos da mesma forma, o que só é impeditivo de qualquer treino.

A "raça" mais perigosa de cão deveria ser, por isso, o lobo. Não consta de nenhuma lista internacional, que eu saiba.

Os cruzamentos não passam de listas de preconceitos cristalizadas. Basta não cortar as orelhas ou o rabo a um cão que a caracterização "tipo pitbull" (o prefixo "tipo" é, aliás, bastante ilustrador de toda a confusão) passa logo para "tipo cão pastor isto-aquilo" porque efectivamente do que se trata é de aparências fisionómicas e não comportamentais.

Um exemplo simples: cruze-se um rafeireco qualquer com um lobo. O mais provável é que alguém lhe diga que a ninhada resultante é "arraçada de husky" ou coisa parecida. Está numa lista de cães perigosos. Não é perigoso por ser parecido com um husky, mas porque é um meio-lobo. Isto não vai lá com testes genéticos, porque isso não nos vais ajudar.

Quem tem cães sabe isto: o comportamento dos cães e a sua receptividade a treino varia tanto com o seu aspecto. Classificar tudo à papo-seco não ajuda. Meta-se a mão dentro de um carro com um cão de família et voilá: todas as raças são potencialmente perigosas.

Ricardo Alves disse...

Não me parece que seja assim tão difícil definir o que é um cão perigoso, Francisco...

Anónimo disse...

Não disse que era difícil. Só não é pelas raças.