O Guardian tem mantido um excelente blog, com várias atualizações por hora, sobre o desenrolar da crise do Euro.
Aqui fica um apanhado de hoje:
- O Ministério das Finanças alemão enviou ao Governo grego uma lista de exigências, como a criação de uma conta para onde iriam diretamente parte das receitas do Estado grego, sem que os gregos pudessem mexer nela; a Grécia necessitaria de pedir autorização para contrair dívida; a Grécia receberia "consultoria" técnica obrigatória em matérias como corrupção e impostos, etc.
- Um jornal alemão anuncia que a Grécia vai receber mais dois anos para atingir os objetivos da austeridade.
- Mario Draghi está hoje no parlamento alemão para dar explicações sobre a actuação do BCE na crise.
- Governo alemão diz que não há extensão do prazo.
- O governador do Bundesbank faz uma conferência de imprensa com Mario Draghi no parlamento alemão.
Leia-se as frases acima, trocando "Alemanha" por "Eslovénia" (que em teoria tem o mesmo poder que a Alemanha na estrutura europeia), e perceber-se-á o ridículo a que chegámos.
A deslocação de Dragi ao Bundesbank é particularmente vergonhosa, porque de acordo com os tratados, o BCE não responde perante ninguém. Se respondesse deveria ser perante o Parlamento Europeu. Nunca se viu o presidente do banco central espanhol a sujeitar-se a perguntas do parlamento da Galiza... até hoje.
5 comentários :
Infelizmente, tens toda a razão. E este neo-imperialismo vai destruir a União Europeia.
No primeiro pacote de ajuda à Grécia, foi decidido que os empréstimos seriam bilaterais. Os alemães emprestaram à Grécia 15,1 mil milhões de euros entre Março de 2010 e Dezembro de 2011 (Portugal emprestou 1,1 mil milhões), num total de 52,9 mil milhões de euros. Neste momento os alemães, tal como toda a gente, terão sérias dúvidas sobre a capacidade da Grécia reembolsar os empréstimos bilaterais aos outros Estados da União Europeia. Imagine-se que a Grécia não paga. Já imaginou o terramoto político na Alemanha? Não me parece que os alemães queiram colonizar outros países. Pague a Grécia os 15 mil milhões e os alemães deixam-nos em paz. Os alemães querem apenas que lhes continuemos a comprar os BMW's, as máquinas de lavar loiça, os submarinos. Não precisam de mais nada. Têm um excedente comercial gigantesco, uma economia próspera, uma taxa de desemprego baixa, não precisam de mais chatices.
Se a Grécia não reembolsar Portugal relativamente aos 1,1 mil milhões isso significa que somos nós, contribuintes, que temos de os pagar dado que Portugal se endividou para emprestar dinheiro à Grécia. Esse montante - 1,1 mil milhões de euros - significa ficarmos todos sem um subsídio de férias ou Natal mais um ano. É duro? Ah, pois é.
António Parente,
releia lá o seu comentário trocando Alemanha pela Eslovénia (que também emprestou à Grécia).
Vê um ministério esloveno a dar ordens ao governo grego, dizendo que as receitas fiscais não deveriam passar pelas mãos deles? Vê o governo esloveno a declarar em público se os gregos vão ter mais tempo ou não? Vê o BCE a ir responder a perguntas dos deputados de Liubliana?
Não vê nada disso e olhe que o rombo de um default da Grécia deve ser pior para a Eslovénia do que para a Alemanha, porque é bem mais pobre.
Miguel Carvalho
A Eslovénia não tem poder negocial perante a Grécia. É um pequeno credor, tal como Portugal. Com certeza conhece a história do devedor e do banco: se deve 100 euros a um banco, tem um problema; se deve 100 milhões, é o banco que tem o problema. Neste caso, a Alemanha tem um problema. Não devia pressionar, não fazer o que faz? Qual seria o incentivo para a Grécia, ou qualquer outro país, cumprir as condições a que se obrigou em troca de financiamento? Nenhum.
A Grécia também escolheu um papel como devedor: joga com a ansiedade dos credores para melhorar as condições da dívida. Já conseguiu um perdão e possívelmente tentará outro. Eu não critico a Grécia por fazer isso. Tal como não critico a Alemanha. Cada uma desempenha o seu papel. Veremos qual é o resultado final.
Já agora, também não critico o seu post. Apenas quis mostrar qe há outras leituras do que a Alemanha faz e que para além de uma leitura política também há alguma racionalidade nas suas acções.
Comparar Alemanha com Eslovénia é comparar o Rossio com a R. da Betesga.
Com a diferença que a R. da Betesga näo comprou a independência ao Rossio! :D
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