Joseph Ratzinger chefia uma Igreja que é um Estado. Em visita a Espanha ou Portugal, explora oportunamente essa duplicidade: enquanto último monarca absoluto da Europa, é recebido pelas autoridades estatais; enquanto líder religioso, opina sobre política interna (da contracepção ao suicídio assistido e ao casamento civil) - o que jamais seria tolerado a outro chefe de Estado estrangeiro.
Respeito inteiramente o direito de Ratzinger de se dirigir àqueles que o reconhecem como Papa, ou valorizam as suas orientações. Mas noto que só quando a Santa Sé deixar de ser reconhecida como Estado se resolverá a questão da separação entre política e religião nos países que foram católicos. Ao contrário do Irão, da Arábia Saudita ou da Coreia do Norte (onde num dia desejavelmente próximo as burocracias dogmáticas locais, clericais ou estalinistas, serão derrubadas pelos respectivos povos), o Vaticano moderno, que deve a sua definição territorial a Mussolini, não tem povo próprio. O último estado da Europa sem separação de poderes, e o único do mundo sem maternidade, intervém na Assembleia Geral da ONU como tal, embora represente sempre uma religião e não um povo.
A laicidade só será plena nos países latinos quando a ICAR for apenas uma instituição da sociedade civil. Como o são as outras comunidades religiosas em Portugal, sem que isso todavia diminua a sua liberdade.
(A minha terceira crónica no i.)
5 comentários :
Texto equilibrado. Gostei.
Aguentou pouco tempo, Ricardo. À terceira, caiu logo no seu tema de campanha cínica. Sabe muito bem que a relação entre política e religião nos páises de maioria católica nunca foi tão distante. E assim demonstra que o seu desejo é que deixe de o ser. O que você quer é que a ideologia ateísta ocupe o espaço que as religiões outrora ocuparam ou ainda ocupam em muitos países de maioria não cristã. E, qual formiguinha, vai ganhando o seu palco.
Nunca foi tão distante, mas ainda tem uns passos para andar. Nunca escondi o que defendo, embora saiba que defender a laicidade dá demasiadas vezes azo a que seja acusado de pretender o ateísmo de Estado (criticado explicitamente na crónica, aliás).
Ó Ricardo,
Vai dizer que esta casa, e as suas vizinhas stereo, Diário Ateista, Portal Ateu, Tretas & Companhia, não tem nada a ver com isto?
http://www.youtube.com/watch?v=Mdk-LAQ8qiQ&feature=player_embedded
Vai dizer que não imagina o Filipe Castro, a Prof. Pamira ou o Ricardo Silvestre ali aos gritos?
Vai chamar a isto uma manifestão laica?
Vai dizer que não é para isto que se dirige a sua campanha cínica?
Não aprovo todas as manifestações que se dizem «laicas». E não imagino o Filipe ou a Palmira nessa manifestação que aí mostra.
Quanto ao «Portal Ateu», não me misture.
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