sexta-feira, 24 de junho de 2011

Revista de blogues (24/6/2011)

  • «Não percebo o entusiasmo à volta da ideia do cheque ensino. Quem põe os filhos num colégio, não procura apenas a excelência do ensino, o rigor e a exigência. Procura, sobretudo, a segurança da segregação social. É a segregação social que dá garantias de sucesso. Quem opta por certos e determinados colégios fica sossegado por saber que deixa os filhos numa espécie de condomínio privado, onde se ensina a caridade, se cultiva comedidamente a piedade, enobrece sempre o carácter, mas longe de pretos, ciganos, brancos que são como pretos, demais proscritos. É por essa razão, sobretudo por essa, que sujeitam os filhos a avaliações psicológicas, que se sujeitam eles próprios a entrevistas, onde explicam o que fazem e onde moram. Esmiúçam, ansiosos, detalhes e valores familiares, para se enquadrarem no perfil pretendido. O cheque ensino, em abstracto, elimina constrangimentos financeiros, permitindo que famílias mais pobres possam optar por estabelecimentos de ensino privados, mas não apaga o resto. Quem é da Brandoa, da Buraca, de Unhos, do Catujal, será sempre desses lugares. Os pais que escolhem o ensino privado, se, de repente, vissem a prole acompanhada pela prole das suas empregadas, procurariam rapidamente outro colégio onde a selecção se continuasse a fazer. Não condeno as preocupações dos pais que assim agissem. Percebo-os perfeitamente. Se a escola dos meus filhos fosse, assim de repente, por imposição do governo, inundada por camafeus pequenos, tratando-se por você, armados ao pingarelho, também eu correria a tirá-los de lá. Gosto pouco de misturas.» (Ana Cássia Rebelo)

4 comentários :

JDC disse...

Este comentário é redutor. Nem só de pessoas que põem os filhos em colégios privados se faz a escola. Muita gente pode preferir escolas públicas de outras áreas de residência que não a sua, pelos mais diversos motivos. Posso aqui deixar um: a minha escola secundária não tinha laboratório de física mas uma outra, uns km mais à frente tinha. Como eu queria (e fui) para engenharia mecânica, teria sido muito mais interessante ter ido para uma escola com "Técnicas laboratoriais de física" ao invés de uma onde tive que ter "técnicas laboratoriais de biologia".

Anónimo disse...

O texto é um pouco idiota lá para o fim e sofre justamente do mesmo problema que é criticado.

Mas a segregação existe e é procurada pelos pais. Sem dúvida nenhuma!

Já ouvi inclusivamente pais referir-se aos Salesianos como uma forma de proteger os filhos dos "drogados e dessa gente horrível".

Algumas escolas sentem-se forçadas a colocar barreiras à entrada de alunos indesejados, especialmente quanto aos resultados escolares prévios, temendo a quebra do "prestígio".

Por isso é que o cheque ensino é uma treta. As escolas privadas gostam do cheque ao fim do mês, sim, mas não têm problemas em criar dificuldades a alunos por forma s sugerir-lhes ir aprender para outro lado...

Há poucos anos soube de um caso concreto na minha escola de infância. Um amigo nosso, que a certa altura se foi embora sem razão aparente, tinha maus resultados e era constantemente criticado pelos professores. Lembro-me perfeitamente disso.

Soube mais tarde que havia pressão para ele sair e que a razão por detrás era o "bom nome" que ele não tinha no apelido. A desculpa era o mau aproveitamento.

E este tipo de pressões existe há já muitos anos nas escolas privadas, porque noutros sítios os alunos que se temia terem más notas eram impedidos de ir a exame.

O que diz muito dos rankings...

Fernando Vasconcelos disse...

Pois eu considero este texto tão parcial e segregador como os supostos objectivos dos supostos pais que colocam os filhos em supostos colégios privados. Sim o meu filho andou num colégio privado mas não foi certamente pelas razões apresentadas. Isto dito o "cheque" para mim é perigoso não tanto pelas razões apresentadas mas sobretudo porque abre o caminho a que um dia nos venham dizer, desculpem lá mas vamos ter de reduzir o valor do cheque ... não dá? paciência ... que desse ... Esse é perigo deste principio excepto se for acompanhado de legislação que garanta a escolaridade mas mesmo assim não sei ... Acho que é uma hipótese que deve ser bem ponderada e antes de ser considerada deve ser garantido o que está estabelecido na constituição. O cheque não muda nada à segregação se existir. Não a aumenta nem a diminui. Aumenta a possibilidade de escolha? Sim. Teoricamente permite que um aluno que queira efectivamente estudar tenha hipóteses numa escola melhor? Sim. Há perigos no conceito? Há. Não são é os apresentados porque estes não se resolvem com cheques resolvem-se com educação.

Luís Lavoura disse...

O entusiasmo é, é claro, por um esquema em que o Estado pagasse a toda a gente para frequentar escolas privadas, mas estas últimas encontrassem forma (legal ou ilegal) de segregarem as suas admissões.

O facto é que há muitos alunos que muitas escolas privadas aceitariam admitir, mas que não têm atualmente dinheiro para as frequentar.

Por exemplo, supondo que as escolas privadas só aceitam alunos estudiosos e cujos pais não se drogam - pois bem, há muitas pessoas pobres mas que não se drogam e cujos filhos são estudiosos.

Não acredito que todas as escolas privadas só aceitem alunos de famílias com pedigree. A maior parte delas estará sem dúvida disposta a admitir alunos normais.