No debate sobre a laicidade dos hospitais, não faltou quem garantisse que jamais um capelão católico incomodou quem não desejava a sua presença (ver, por exemplo, esta caixa de comentários). Para esses, felizmente que a Palmira contou a história do abuso clerical que se passou com ela:
- «Há exactamente 25 anos vivi o pior período da minha vida quando descobri que a minha filha mais velha tinha um problema de saúde muito grave. O 9º piso da Neurocirurgia do hospital de Santa Maria, onde se situava a UCI, a SO e a sala pediátrica, estava em obras, de forma que ficámos ambas numa enfermaria comum. Um padre que visitava os doentes, certamente com as melhores intenções, resolveu dar-me apoio (não solicitado) naquela hora tão difícil. Rapidamente se apercebeu que não me poderia dar qualquer tipo de conforto, mas ficou horrorizado com as implicações éticas e morais (para ele) das minhas opções: a minha filha de 18 meses não era baptizada. Naquela altura em que o Vaticano ainda não tinha abolido o limbo, tal era completamente inaceitável para o padre de que não recordo nem o nome nem a cara, apenas o total desrespeito por mim, pela minha dor e pelo meu estado (entretanto descobrira estar grávida da minha filha mais nova). Recordo a total insensibilidade com que me avisou que não tinha direito a não a baptizar, que o tumor da minha filha era castigo do meu ateísmo, que se não me arrependesse ou pelo menos não a baptizasse, o filho que carregava no meu ventre teria igual destino. Nem o desplante com que me informou, quando soube que a mais velha tinha sobrevivido à intervenção, que o tinha de agradecer a Deus que me dera uma segunda oportunidade de arrependimento.» (De Rerum Natura)
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