quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Democracia e amor cristão

Um amigo meu, católico, decente e culto, estava-me a contar que o pároco da paróquia dele, em San Antonio, TX, passava a vida a falar de justiça (que não deve ser confundida com o direito infantil à vingança), solidariedade, tolerância, respeito pelos outros e consciência social. Era o terror dos paroquianos! Queixas e sugestões repetiam-se todas as semanas.

Os paroquianos exigiam o direito de não serem incomodados com essas coisas ao fim de semana e pediam-lhe que falasse de coisas “positivas”, que os fizessem sentir bem: as coisas boas que Deus dá aos habitantes de paróquias ricas.

E o pobre homem, revoltado, cedia, para não ver a igreja vazia.

Esta pequena história, que se deve repetir em todas as paróquias do primeiro mundo onde há um padre decente – e eu admito que não sejam muitas :o) – explica de forma eloquente a atitude da igreja católica ao longo da História.

Mesmo que o sistema organizacional da ICAR premiasse os melhores e a hierarquia acabasse por ser constituída por estudiosos que percebessem as implicações morais da filosofia que embebe muitos dos textos do Novo Testamento, as classes altas que criaram a ICAR e a usam (seja para limparem a consciência ou fazer lobby político) nunca permitiriam que as ideias do Novo Testamento destruíssem o status quo e dessem ideias de justiça à populaça.

Sempre que a religião inspirou uma nesga de moral num grupo religioso a hierarquia tratou de resolver o problema com rapidez e eficiência: os albigenses, os cátaros, os protestantes...

Os franciscanos sobreviveram porque o núcleo duro vinha da classe mercantil, pertencia a famílias com influência política, e porque no fim cederam e aceitaram tornaram-se inócuos.

Aqui em território evangélico o problema resolveu-se limpando da Bíblia as modernices do Novo Testamento. Aqui acredita-se que Deus ajuda quem se ajuda a si próprio e que portanto os pobres são pobres porque querem, e merecem a pobreza neste mundo e o inferno no próximo.

3 comentários :

David Lourenço Mestre disse...

Francamente quando penso em catolicos no texas vem invariavelmente à memoria "spics", "wetbacks", "beaneaters" e outros encomios com que os mexicanos sao tratados por quem nao lhes aprecia a presença. Mas a comunidade rica terá origem no continente europeu, presumo

David Lourenço Mestre disse...

E quando penso na europa é a europa celto-germanizada. Irish, germans, suiços.

De qualquer modo - a provocaçao indispensavel - imagino o grand wizard a montar um circo diante do gabinete do castro sempre que "se porta mal"

Filipe Castro disse...

:o)