Um editorial interessante e sem papas na língua, sobre a crise paquistanesa. Na imprensa portuguesa? Não, no Estado de S. Paulo.
- «O caso do general Pervez Musharraf, que tomou o poder no Paquistão em 1999, abatendo com uma quartelada o seu sempre instável e quase sempre corrupto regime civil, segue um modelo conhecido pelo mundo afora. No mês passado, fingindo ceder às pressões por mais democracia do seu aliado norte-americano, que desde o 11 de Setembro o cacifou com mais de US$ 10 bilhões e aceitou a sua bomba atômica em nome do combate ao terrorismo islâmico, o autocrata convocou a segunda eleição desde que subiu ao poder, tão fraudulenta como a anterior, e se reelegeu. (...) Mas Musharraf não fechou as madrassas que pregam a guerra religiosa e formam homens-bomba, não tratou de prender os líderes do Taleban paquistanês e nem de dissolver as células terroristas que têm organizado uma série de atentados suicidas em todo o país. Também não enviou forças militares para acabar com a “zona liberada” que o Taleban e a Al-Qaeda instituíram na fronteira com o Afeganistão. Limitando-se a prender juízes, advogados, defensores dos direitos humanos, professores e artistas, o ditador demonstrou claramente que seu objetivo não era combater o “terrorismo e o extremismo”, mas calar os grupos que há anos tentam, por via pacífica, transformar o Paquistão numa democracia secular. Tanto assim que, no mesmo dia em que decretou o estado de emergência e mandou prender as principais lideranças civis e democráticas do país, o general Musharraf determinou a libertação de 28 prisioneiros do Taleban, um dos quais sentenciado a 24 anos de cadeia por ter transportado explosivos usados em atentados. (...) Para ter uma base próxima ao Afeganistão, ao Iraque e ao Irã, os EUA fizeram vistas grossas para a situação interna do Paquistão, e assim foram criadas as condições para o paradoxo: o Paquistão governado por um aliado na “guerra contra o terror” é, também, um abrigo seguro do comando da Al-Qaeda e um núcleo importante do radicalismo islâmico.»
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