quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Uma entrevista a ler

A «f.» colocou no Glória Fácil uma entrevista preciosa, de 1998, com uma enfermeira que faz abortos clandestinamente. Entre outras coisas, percebe-se que a lei actual funciona mal:
  • «Esteve aqui uma miúda, há dias, que tinha uma epilepsia, que tinha estado em S. Francisco Xavier a tentar abortar, tinha a carta do ginecologista, tinha a carta do neurologista, tinha a lei toda do lado dela, mas chegou lá e disseram-lhe que não havia vagas, para ir lá daí a quinze dias, a rapariga começou a pensar e quis resolver o assunto de outra maneira porque teve receio de que depois fosse tarde. Estava de cinco semanas, não quis esperar mais. E uma secretária do hospital em que trabalho, há uns três anos, estava grávida e foi infectada com rubéola. Já estava de dois meses e nunca mais lhe resolviam o problema, era empata aqui, venha cá depois, faz mais esta análise, faz mais aquela... Chegou aos quatro meses e nada. Até que teve de ir a uma clínica, por sua conta e risco. (...) E sei de outro caso, com um diagnóstico de hidrocefalia no feto, a senhora tinha decidido abortar — quem é quer um filho hidrocéfalo? Só uma masoquista, por amor de Deus — e tinha opinião de dois médicos, tinha tudo... Mas quando lhe resolveram a situação já estava de seis meses. Provocaram-lhe um parto, foi uma coisa atroz, de tal modo traumática que ela nunca mais quis ter nenhum filho.»

Deve ter-se isto em conta quando se discute a possibilidade de realizar IVG´s em hospitais públicos: a resistência do pessoal hospitalar. Recomendo a leitura da entrevista (que é longa).

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E, já agora, uma pequena curiosidade científica.

  • «Olhe que eu já encontrei uma miúda grávida que estava virgem. NM - Como? Sra X - Deve ter havido uma brincadeira com o namorado e sem penetração, aconteceu. (...) A miúda dizia que era impossível estar grávida, que nunca tinha tido uma relação normal... Mas foi ao médico, fez uma ecografia e estava de facto grávida de seis ou sete semanas. A mãe não queria acreditar que ela nunca tivesse tido uma relação, mas de facto depois quando fui observá-la disse-lhe — porque eu não sabia dessa história toda — então, tu nunca tiveste uma relação, pois não? E ela: não, nunca tive. Está a ver o meu drama? Tive de fazer tudo com o maior dos cuidados para não desvirginar a moça. E ficou intacta, felizmente.»

2 comentários :

Patrícia Gonçalves disse...

Uma grande entrevista.

Camarelli disse...

Excelente entrevista, estive para escrever post sobre ela.